Martim Borges Coutinho Mayer disponível para ser solução: “O Benfica pode contar comigo”
O empresário vai ter em breve “boas novidades” para os benfiquistas. À TSF diz que as águias atravessam uma “profunda crise de identidade” e defende eleições antes de outubro
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Martim Borges Coutinho Mayer está pronto para avançar para um “novo ciclo” no Benfica. O neto do antigo presidente Duarte Borges Coutinho, que estaria “muitíssimo insatisfeito” com esta temporada desportiva, está disponível para ser solução para o futuro das águias, já que considera que o clube perdeu “peso e força” no panorama nacional.
Começava por lhe perguntar em que condição estamos a falar consigo? Se como um adepto fervoroso do Benfica ou se como candidato às eleições de outubro?
É um dia difícil para o universo benfiquista e em relação a isso, a seu tempo e muito em breve, terei novidades para anunciar. Acho que agora é importante focar no essencial, que é esta crise profunda de identidade de um clube que tem milhões por esse mundo fora e que amam esse clube sentem e, portanto, deixava isso para muito breve, acho que vou ter boas novidades para falar sobre isso.
O que é que tem a dizer sobre aquilo que aconteceu no domingo no Jamor, também tendo em conta este final de temporada do Benfica?
Ontem é um bocadinho reflexo do sentimento que tem existido nos últimos tempos. Acho que o Benfica deve ter mais voz, acho que o Benfica deve ter muito mais peso no futebol português. A Taça foi um reflexo da falta deste peso e desta força, dado que estamos a falar do maior clube nacional, de um dos maiores a nível internacional, com uma dimensão social absolutamente extraordinária. E eu acho que se poderia fazer muito melhor, acho que o Benfica tem de liderar dentro e fora de campo. Essa realidade tem-se vindo a esbater já há bastantes anos, inclusive de uma forma mais profunda na identidade e na cultura do clube. Estamos numa fase em que pode haver o avançar para outro ciclo e, portanto, isso é o que eu penso do tema.
Como é que se perde essa identidade e como é que se pode fazer diferente?
Eu gostava de falar precisamente pelo positivo. E como se pode e deve fazer está na nossa história, porque a nossa rica história, além de ser feita de vitórias, é também acompanhada por essa cultura e por essa identidade que começa nos sócios e termina, obviamente, em quem dirige o clube. E quando existe foco nisso, quando essa é a primeira pedra que se põe em cima do projeto e da proposta de uma direção, com esse norte, com essa orientação, não há como nos enganarmos. É assim que eu acho que o novo ciclo, o próximo ciclo, deverá ser um ciclo onde o Benfica lidera dentro e fora de campo e onde o Benfica, mais do que tudo, se oriente por essa história e por essa cultura. E o Benfica tem todas as condições para ser um líder, obviamente, nacional, nem se põe, mas, inclusivamente, a nível internacional.
Já falou desta questão do novo ciclo. O trabalho que está a ser feito para trás não tem contribuído para esse reforço da identidade do Benfica a nível nacional e internacional?
Quando se refere para trás pode ser mais específica a sua pergunta…
Quando está a falar de uma nova era, portanto, pressuponho que fala de um corte com o presente, não é? E o presente é a direção de Rui Costa. A direção de Rui Costa não está a fazer um trabalho que permita o Benfica fortalecer esta identidade nacional e internacional?
Repara o seguinte: até essa pergunta pode ser um bom exemplo para ilustrar o que é que eu penso sobre isso. Nós temos de olhar para as coisas pela positiva, temos de falar dos assuntos com elevação. E, portanto, o que eu digo é que não devemos querer sangue, não devemos querer instabilidade. Devemos olhar para os problemas, ajudar a ultrapassar os problemas, ajudar a fazer o Benfica progredir. Porque criticar só é muito fácil, percebe? E, para todos os efeitos, independentemente de eu estar muito insatisfeito com a performance do clube, eu não caio no erro de criticar gratuitamente só por criticar. O Benfica tem todas as condições para fazer mais, para fazer melhor. E, portanto, acho que esse deve ser o caminho que todos os sócios do Sport Lisboa e Benfica devem querer. E, portanto, com eleições este ano, estando a perfilar-se várias alternativas, acho que devem olhar para cada uma das propostas e perceber qual é que é a proposta onde isto existe e qual é que é a proposta que possa avançar para um novo ciclo no clube.
Apresentando-se como uma possível solução para um problema, ou pelo menos disponível para fazer parte das soluções, é admitir que aquilo que está a acontecer nesta altura não está a ser bem feito. A minha pergunta ia nesse sentido, perceber o que é que, na sua opinião, não está a correr bem..
Acho que a identidade e a cultura do clube são a primeira pedra para onde é preciso olhar. E é desde aí que eu acho que é possível e há a obrigação de fazer bastante melhor. Portanto, foco-me nisso. Obviamente, em cima disso, há esta questão do peso que o Benfica tem dentro e fora de campo, que tem de definitivamente mudar. Gostava só de dar uma nota a título ilustrativo do que quero dizer com isto. Não sei se sabe, mas eu fui jogador de râguebi e ontem estava a ver um jogo de futebol e vi uma cena que me fez lembrar o desporto que eu joguei. E, portanto, isso não condiz com aquilo que o Benfica deve ser, com a liderança que o Benfica deve ter e com o peso que o Benfica deve ter.
Mas quando fala, e sendo mais específico, quando está a falar dessa cena de râguebi, calculo que está a falar do lance em que envolve Matheus Reis e também Belotti. O que é que aí não está a representar a identidade do Benfica?
É o que lhe disse atrás: é o peso que o Benfica deve ter dentro e fora de campo que vê nisso um pequeno reflexo da não-liderança que está a acontecer.
E concorda então com as declarações de Rui Costa no final? Acha que fez bem em fazer aquelas declarações?
Primeiro do que tudo, acho que todos os sócios do Benfica devem perceber que o caos não serve ao Benfica e, portanto, devemos ter respeito pelo Presidente do Sport Lisboa e Benfica e devemos defender dentro de casa o Benfica a todo o custo. As declarações parecem, enfim, óbvias, dado que, como lhe disse, houve partes do jogo que me fizeram lembrar um jogo de râguebi e isso é inaceitável. Parece-me que era literalmente impossível que o presidente do Sport Lisboa e Benfica não referisse aquilo que ontem referiu. Agora, tem que haver um trabalho de fundo que é feito ao longo do tempo, trabalho esse que deverá evitar de uma forma mais efetiva que se chegue a este ponto.
Tendo em conta toda a situação do Benfica nesta altura, na sua opinião, há necessidade de antecipar aquilo que é o calendário eleitoral, sendo que há um recomeço de uma nova época já projetada por uma só pessoa e não haver alterações a meio da época como aconteceu, por exemplo, este ano?
Mais uma vez, falo da elevação e do respeito que deve haver pelo presidente do Sport Lisboa e Benfica. Eu acho que isso é um tema que se coloca à frente de quem está à frente do clube. É quem pode tomar essa decisão, se assim entender. Há aí questões formais que têm de ser vistas com muito cuidado. Como sabe, houve uma alteração aos estatutos do Benfica há pouco tempo. Falta aprovar um regulamento eleitoral. Há uma quantidade de questões que a minha equipa, especialista em legal, está a abordar e a ver, precisamente para também perceber que realidade é que essa própria antecipação de eleições possa ter em termos de data face à data em que as eleições estão previstas a ocorrer. Se for formalmente possível, e numa situação em que o presidente do Sport Lisboa e Benfica venha decidir nessa direção, então, sim, acho que é muito importante salvaguardar que isso aconteça antes do início da próxima época, por razões que são óbvias do ponto de vista da organização da próxima época.
Que balanço faz da Direção de Rui Costa?
Eu acho que não há nenhum sócio do Sport Lisboa e Benfica que não sinta que o nosso clube está para ganhar sempre. E isso não aconteceu. Não só não aconteceu, como esteve muito longe de acontecer. Portanto, os resultados e as vitórias são aquilo que objetivamente interessa. Não tendo acontecido conforme deveria, o balanço desportivo, pragmaticamente, não foi bom. Temos de assumir isso, temos de perceber dentro da família benfiquista como é que se vai liderar o futuro, o que fazer de diferente, e julgo que há aqui efetivamente um ciclo, onde o ciclo de vitórias não aconteceu, e isso definitivamente tem de mudar para o futuro.
E está disponível para fazer parte de uma solução?
Estou profundamente empenhado em ajudar a que o Benfica encontre essa direção. Encontre a direção de voltar a ter a sua identidade e a sua cultura e a sua história bem presentes no dia a dia, e que saiba trabalhar com competência para que rapidamente se dê a volta a isso. E, pessoalmente, tenho-me entregue a 100% ao assunto. E, sim, o clube poderá contar com o meu contributo, seja a que estatuto for.
É neto de um dos presidentes do Benfica [Duarte Borges Coutinho], o que é que acha que pensaria o seu avô, nesta altura complicada, olhando para esta temporada?
Primeiro, dentro de casa, eu acho que era um momento onde o ouviria voltar a dizer uma frase que disse e que não foi esquecida que é: “O Benfica não pode ter medo do Benfica.” Mas isso é quando estamos dentro de casa, e isto tem um significado muito, muito, muito próprio para a fase que estamos a viver. Por outro lado, eu acho que seria claro que estaria muitíssimo insatisfeito com a performance desportiva do clube, e também abordaria esse tema com o pragmatismo que lhe foi conhecido. Ele diria diretamente que se tem de alterar isto, e é precisamente aquilo que eu penso, tem de se mudar este paradigma, o Benfica deve ganhar, o Benfica deve ganhar tudo. E é assim, com esse pensamento dentro de nós, que temos de abordar cada jogo, cada competição, porque é disso que o Benfica é feito.
