Maté despede-se do ciclismo com viagem de 650 km: "Bicicletas podem ajudar a combater alterações climáticas"
Aos 40 anos, o atleta espanhol, que venceu duas etapas da Volta a Portugal, terminou a carreira. Já sem uma vertente competitiva associada, o último percurso uniu Madrid a Marbella
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O cansaço era evidente. Após três mil quilómetros em 21 dias da Vuelta, a derradeira prova da carreira, Luis Ángel Maté decidiu juntar mais 650. O objetivo passava por se despedir do ciclismo profissional.
A viagem entre Madrid, local onde terminou a Volta a Espanha, e Marbella, a sua cidade natal, realizou-se há cerca de um mês e durou três dias. "Foi uma forma muito especial e bonita de dizer adeus ao ciclismo profissional: andar de bicicleta e desfrutar da paisagem, sem pressa", conta em entrevista à TSF.
A descontração não foi sinónimo de desresponsabilização. O antigo atleta considera que, sendo um meio de locomoção, "as bicicletas podem ser um instrumento muito importante para combater as alterações climáticas".
"É um veículo que pode servir para fazer a maioria das deslocações que efetuamos com outro tipo de transportes e que contaminam muito mais", defende, alertando para a relevância de "transmitir uma mensagem" nesse sentido.
Aos 40 anos, Maté abandona a carreira após 11 presenças na Vuelta e seis no Tour, além da participação na Volta a Portugal em 2023 e 2024. Em solo luso venceu duas etapas, ambas na Guarda. Também por isso, nutre "um grande carinho pela cidade mais alta do país", considerando que apresentava "as caraterísticas ideais, tanto climatéricas como ao nível do relevo", para o seu ciclismo. "É um sítio ao qual voltarei brevemente para pedalar, de certeza."
Maté representou equipas como a Cofidis e a Euskaltel-Euskadi, funcionando como um membro coeso do pelotão. Mais do que um momento específico da carreira, destaca a felicidade por ter "viajado pelo mundo" e "a sorte de ganhar a vida" com a sua "paixão".
"Portugal pode ser uma grande potência a nível mundial"
Ao contrário de Portugal, que não tem nenhuma, há quatro equipas de nível europeu em Espanha, que, "preferencialmente", segundo Maté, "escolhem ciclistas espanhóis". Para o andaluz, seria "muito importante que houvesse uma equipa forte em Portugal preparada para fazer o calendário internacional", de forma "a dar saída a todo o talento que há no país".
"A maioria opta por emigrar", lembra, dando os exemplos de António Morgado, João Almeida e dos irmãos Ivo e Rui Oliveira. Este último sagrou-se campeão olímpico na pista, ao lado de Iúri Leitão. "A conquista veio pôr o ciclismo português onde merece. Agora é esperar que os meios de comunicação social e as pessoas, em geral, deem conta que Portugal é um país que pode ser uma grande potência a nível mundial", vaticina.
Ao longo da carreira, Maté viu colegas de profissão serem apanhados na malha do doping. No entanto, é da opinião que, neste momento, "o ciclismo goza de boa saúde", fruto dos "grandes sacrifícios feitos para limpar a imagem da modalidade".
"Já levamos muitos anos como o desporto que mais controlo faz. Creio que, se há um desporto que pode ser uma referência na luta contra a dopagem, é o ciclismo (...) Acho que agora temos um desporto mais limpo do que acontecia há umas décadas", considera.
