Mercado, contradições e um "herói" chamado Luís Filipe Vieira: assim foi o debate entre Rui Costa e Noronha Lopes
Corpo do artigo
*Maria Ramos Santos
O debate desta quinta-feira entre Rui Costa e João Noronha Lopes, transmitido pelas televisões portuguesas, acentuou a disputa pelo comando do Benfica e marcou a reta final rumo à segunda volta das eleições do clube, agendada para 8 de novembro. Noronha Lopes entrou confiante, afirmando que os encarnados são "de facto os maiores" e voltaram a provar isso com o ato eleitoral, enquanto Rui Costa respondeu que a corrida recomeça "do zero" e que a votação da primeira volta representou "um voto de confiança" que poderá traduzir-se num resultado ainda melhor no próximo escrutínio. Na primeira volta, a lista G de Rui Costa liderou com 42,13% dos votos, seguida pela lista F de Noronha Lopes, com 30,26%.
Contactos após primeira volta e Vieira "herói"
Questionado sobre eventuais contactos com outros candidatos derrotados na primeira volta, Rui Costa admitiu ter recebido uma chamada de Cristóvão Carvalho e "de mais nenhum dos candidatos". Sobre Luís Filipe Vieira, frisou: "Nenhum de nós é dono dos sócios do Benfica. Não é necessário ter o apoio de outros candidatos."
Rui Costa revelou ainda que a relação com Luís Filipe Vieira atravessou momentos difíceis, mas garantiu que, apesar da "mágoa", não alimenta qualquer rancor, mostrando abertura para aceitar um eventual pedido de desculpas.
Do lado de Noronha Lopes, o candidato disse não perceber "porque é que Luís Filipe Vieira não foi convidado para o aniversário do Estádio do Benfica".
Não está em causa se eu aplaudia ou não aplaudia Luís Filipe Vieira, entre as coisas boas e más que ele fez no Benfica (...) naquele dia era necessário mostrar ao mundo que o Benfica tinha um novo presidente (...) não foi uma decisão para dizer 'não se quer falar de Luís Filipe Vieira'. Foi talvez dos dias mais importantes do Benfica.
"Eu já percebi que, para Noronha Lopes, hoje Vieira é herói", rematou o atual presidente dos encarnados.
Mensagens "só enviadas aos voluntários", mas "para quantos"?
Um dos momentos mais tensos do debate surgiu quando os candidatos discutiram o envio de mensagens a sócios durante o dia das eleições pela lista F.
Noronha Lopes garantiu que essas comunicações foram dirigidas apenas a voluntários da sua candidatura. Rui Costa reagiu questionando: "Então importa saber, para quantos?"
"Ainda ontem estive numa conferência com 700 voluntários", respondeu Noronha Lopes.
Diagnóstico oposto sobre o estado do Benfica
Rui Costa defendeu que o clube está "muito melhor" do que no momento em que assumiu a presidência, destacando a "reformulação tremenda" que diz ter conduzido em várias áreas. Realçou que chegou ao cargo numa fase delicada e argumentou que o Benfica apresenta hoje maior estabilidade.
A leitura de Noronha Lopes contrasta com a do atual presidente. O candidato afirmou que a sua candidatura nasce precisamente da perceção de que o Benfica "ganha pouco" e de que existe uma fraca cultura de vitória no clube. Para Noronha, o que está em causa são os resultados que, na sua opinião, Rui Costa "não teve nestes quatro anos", insistindo que o Benfica deve ambicionar mais do que aquilo que tem alcançado.
A minha candidatura não é contra ninguém. É a favor do Benfica. É uma candidatura que nasce de o facto do Benfica ganhar pouco. Falta cultura de ganhar no Benfica. Está aqui em causa os resultados que Rui Costa não teve nestes quatro anos.
Mourinho, "trunfo eleitoral"?
A presença de José Mourinho no centro do projeto desportivo do Benfica voltou a dividir os candidatos durante o debate. Noronha Lopes rejeitou atribuir ao treinador qualquer etiqueta de "trunfo eleitoral". Para o candidato, Mourinho representa uma peça relevante no plano desportivo, mas não um instrumento de campanha.
Rui Costa contrariou essa leitura e acusou Noronha Lopes de incoerência, recordando que o adversário, em momentos anteriores, terá admitido "mais do que uma vez" que a chegada de Mourinho funcionava como um "trunfo eleitoral".
Quanto ao futuro imediato, Rui Costa admitiu que o plantel poderá sofrer ajustamentos já em janeiro. "Eu acredito e José Mourinho também acredita que alguns jogadores ainda vão aparecer."
Mas, para Noronha Lopes, "é estranho" que, depois de o Benfica ter feito "o maior investimento de sempre na equipa", Rui Costa já esteja falar de reforços de janeiro. "Recordo que este plantel não foi construído por José Mourinho."
Ainda assim, Noronha Lopes deixou claro que, em caso de vitória nestas eleições, não poderá responsabilizar o novo treinador do Benfica pelos resultados "com um plantel que não escolheu".
Ainda assim, disse: "Estou convicto que Mourinho será campeão pelo Benfica."
"Então o projeto desportivo não está assim tão mau", rebateu Rui Costa, aproveitando para segurar o novo treinador: "Mourinho tem dois anos de contrato com uma cláusula em que pode sair no final da época. Neste momento nem é preciso estar a colocar isto em causa porque tem dois anos de contrato, vai cumprir este ano. Está a trabalhar para obter resultados positivos."
"Nenhum treinador está acima do Benfica": Noronha não abdica de Pedro Ferreira
Durante o debate, Noronha Lopes revelou que não há qualquer intenção de abdicar de Pedro Ferreira como diretor-geral, mesmo que José Mourinho exigisse a continuidade de Mário Branco.
"Não, de forma alguma. Antes disso, tenho todo o gosto em mostrar o meu programa, está aqui para ler. A minha escolha para diretor-geral é Pedro Ferreira", afirmou.
Sobre a relação com o treinador, a candidatura destacou a postura de Mourinho: "José Mourinho tem tido uma conduta irrepreensível, disse que tinha votado no Benfica e não se meteu em questões eleitorais. O Nuno Gomes conhece bem José Mourinho. Vamos sentar-nos com ele no primeiro dia e criar condições. Ninguém consegue garantir nada, mas tenho a certeza de que vai querer trabalhar com a nossa equipa. Nenhum treinador está acima do Benfica. Tenho a certeza de que se vai rever no nosso projeto e que vai ficar no Benfica."
Bernardo Silva regressa ou não?
Uma das promessas de campanha de Noronha Lopes é o regresso do jogador Bernardo Silva, mas, na perspetiva do adversário, "ninguém pode garantir nada", até porque isso implica "ter um contrato na mão".
"Ninguém pode garantir que um jogador regresse ao Benfica (...). Quando um jogador é benfiquista, ele regressa pelo clube. Estou convencido que o Bernardo quer voltar a ser jogador do Benfica, mas é a minha convicção. Quando se vai para um clube é para ser jogador do clube, nunca do presidente. Acho que o Bernardo pensa como eu", defendeu Rui Costa.
De Mourinho a Bernardo Silva, o atual presidente das águias aproveitou para atirar mais "uma contradição" a Noronha Lopes. "Disse à CNN que um treinador fica no Benfica caso tenha sucesso ou não tenha sucesso (...) mas disse que, consigo, Roger Schmidt tinha sido despedido no final da temporada."
Noronha Lopes pode ter a estrutura toda que quiser, as dez pessoas que diz (...). Vamos ver como é que essa estrutura toda se orienta, isso ainda não explicou.
