"Mudou muita coisa na minha vida." Quinta edição do Desporto no Bairro encerra com bolsas para 14 jovens
O programa Desporto no Bairro é uma iniciativa da Câmara do Porto que quer promover a inclusão de jovens através de quatro modalidades. Antes do espetáculo de encerramento desta edição, a TSF foi aos ensaios para descobrir como o desporto mudou a vida destes jovens e de quem os acompanha
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Numa manhã fria, os jovens sobem ao palco, com vista para a Avenida dos Aliados, para mais um ensaio. O espetáculo final desta quinta edição de Desporto no Bairro, que contou com mais de mil participantes provenientes de 17 bairros da cidade do Porto, decorreu na noite deste domingo.
Tal como aconteceu em anos anteriores, os jovens foram acompanhados por professores especializados nas diferentes modalidades olímpicas: breakdance, surf, skate e o street basket.
Risoleta é uma dessas jovens. A estudante de matemática aplicada tem 20 anos e está no Desporto no Bairro desde a primeira edição. Escolheu breakdance como modalidade. “Com o breaking fazemos amigos, e isso é muito bom para a saúde mental e, claro, para a saúde física. O objetivo [desta modalidade] é testar os limites do nosso corpo e eu pretendo ir até testar todos os limites do meu corpo, então é ilimitado." Quando dança, a jovem admite que se sente “leve” e “feliz”. “Não estou a pensar em problemas, estou completamente desligada do mundo lá fora da minha vida, do quotidiano. É um momento em que estou no meu espaço”, conta.
À TSF, Risoleta confessa que já não consegue imaginar o dia a dia sem o Desporto no Bairro. “Mudou muita coisa na minha vida, porque eu comecei a frequentar sítios que antes não frequentava, tenho amizades que conheci por conta do projeto. Nem imagino não estar com esse círculo de pessoas hoje", sublinha.
A jovem, futura cientista, não é um caso isolado. Numa pausa do ensaio, a TSF fala com Gonçalo, de 9 anos, que afirma que gosta de breakdance porque é uma arte onde pode dançar como quiser. “Não há uma específica”, diz. Já Leonor, de 7 anos, explica que vem ao Desporto no Bairro porque não gosta de ficar em casa. Faz surf, tal como Ana. A jovem de 13 anos começou no breakdance antes de se entregar ao deslize das ondas. Ana tem um primo que já participava no Desporto no Bairro e perguntou-lhe se não queria participar. “Antes só conhecia as pessoas do breakdance, agora também conheço pessoas do basquete. Conheço gente nova”, conta.
No palco, e ao ritmo da música, os jovens vão entrando e saindo para ensaiar os seus números. O Desporto no Bairro abraça quatro modalidades olímpicas: o breaking, surf, street basket e o skate.
Também à TSF, a vereadora com a pasta da Juventude e do Desporto, Catarina Araújo, sublinha que o projeto começou com o objetivo de mostrar que o desporto pode ser muito mais do que competição. “O desporto pode servir para transportar um conjunto de valores e para ser transformador na vida de crianças e de jovens”, afirma.
Foi assim que a Câmara do Porto entrou em contacto com Max Oliveira. O produtor artístico de 45 anos tem o breakdance na sua vida desde criança. Já fez competições e foi um dos anfitriões da modalidade nos Jogos Olímpicos de Paris.
O empreendedor e a Câmara do Porto estavam de acordo quanto à melhor maneira de dar vida ao programa: “Chegar ao bairro, pousar uma boombox e começar a dançar, e eles hão de vir ter connosco." Max Oliveira diz que, depois disso, a aproximação dos jovens foi “natural” e o início de grandes paixões pelas modalidades. “A partir do momento em que eles se apaixonam por algo e realmente amam algo, a vida muda", assinala.
O Desporto do Bairro começou em 2020, durante a pandemia da Covid-19. O produtor artístico admite que, na altura, as condições não eram as melhores. “Não podíamos ter a proximidade que queríamos. Tínhamos de dançar com distância de segurança, com máscara. Foi a pior maneira possível de se poder arrancar com um projeto destes, que é de comunidade, proximidade. Não podíamos abraçá-los, quando eles faziam alguma coisa bem tínhamos de dizer ‘boa’ a dois metros de distância, não podíamos ir ter com eles."
No palco, durante os ensaios, a música está nas alturas. Há skates, movimentos de dança que levam os pés para o ar e muitos abraços entre os participantes. Max Oliveira, que acompanha os jovens com frequência e desde a primeira edição, garante que o desporto teve um efeito positivo neles.
“Alguns deles começaram neste tipo de projeto inseguros, sem paixão, como carência - e a carência era muito mais socio-afetiva às vezes que socioeconómica -, e isto devolve-lhes o sentido de inclusão, de estarem incluídos num grupo. Eles pertencem a uma modalidade, têm amigos. Olhas para os miúdos, alguns que estão desde o primeiro ano, e dizes: 'Uau, está um homem com estilo, está uma mulher com pinta'”, descreve.
Max Oliveira usa os termos “homem” e “mulher”, porque alguns destes jovens têm agora cerca de 20 anos “e começaram connosco com 14 e 15 anos”. “E deixa-nos muito orgulhosos. Estão seguros de si”, afirma.
É esta a confiança e devoção que Catarina Araújo e Max Oliveira esperam que estes jovens levem para a sua vida, além do desporto. E não são só os jovens que encontram algo de bom no Desporto no Bairro. “Aqui, neste projeto, encontro-me. Encontro-me tão feliz ou mais como se estivesse a competir num campeonato mundial de breaking”, confessa o produtor.
Pela primeira vez, nesta quinta edição, foram atribuídas bolsas a 14 participantes, que vão permitir que 14 jovens possam continuar a praticar, num clube, a modalidade que aprenderam no Desporto no Bairro. O município vai assumir todas as despesas e oferece o equipamento necessário para a prática.
Neste domingo à noite, foi anunciado que o programa contará com uma nova edição em 2025.
