“Muitas trocas de treinador, mas espero que chegada de Amorim traga ao United a estabilidade necessária”
Adepto, jogador da formação, atleta profissional, treinador dos mais jovens na academia do Manchester United. Neil Wood cresceu em Stretford, às portas de Old Trafford. Na TSF, o treinador inglês explica o que sentem os adeptos do Manchester United com a chegada de Ruben Amorim
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Neil Wood nasceu e cresceu a poucos metros do Estádio de Old Trafford. Como jogador, passou pelos escalões de formação do clube do qual é adepto e foi treinador das equipas de formação do Manchester United. O antigo jogador e treinador da formação do Manchester United encontra a reportagem da TSF num bar de hotel junto ao estádio. Procura uma mesa junto à janela, uma mesa com vista para a fachada do estádio do Manchester United e para as luzes encarnadas que o distinguem numa noite invernosa numa paisagem industrial e de cores neutras, onde dominam os cinzentos.
“Eu sou de Stretford, um lugar muito próximo de onde nos encontramos. Comecei a jogar neste clube aos oito anos, num espaço a que chamávamos o Centro de Excelência, ainda não era a atual academia. Por isso posso dizer que sou deste lugar”. Esse espaço estava mais próximo de Old Trafford do que o centro de treinos de Carrington (a cerca de 20 km).
“Fiquei no clube dos oito aos 22 como jogador. Depois deixei o clube, passei por outros lugares, mas regressei como treinador. Posso dizer que passei aqui metade da minha vida. Este é um clube enorme. É isso que compreendes quando vives por aqui. Toda a gente conhece a história do clube desde os Busby Babies. E nós fazemos questão de fazer um trabalho de educação junto dos mais jovens para lhes explicar o que foi este clube ao longo dos anos, o que significa jogar aqui. Há muita história que ajuda a compreender o que significa, o que é exigido a quem joga aqui. Este é o grande clube de Inglaterra”, acrescenta Neil Wood.
Tal como com os Busby Babies, ou, mais tarde, com o Fergie Babies, os momentos de sucesso do clube coincidem com a aposta em jovens da formação, equipas com jogadores que cresceram localmente. Neil Wood admite que é difícil repetir esse processo. Durante vários anos orientou vários escalões de formação, jovens que, tal como ele, anos antes, procuravam jogar como profissionais do clube de coração.
“Há bons jogadores na academia neste momento. Vejam o que estão a fazer o Garnacho, o Mainoo. Acredito que Amorim pode identificar esses jogadores e dar-lhes um lugar. (...) Muitos clubes são reconhecidos pelas suas academias. É o que acontece com o Ajax, com o Barcelona, clubes capazes de produzir jogadores de grande nível para jogar na equipa. Os adeptos querem ver jogadores que cresceram aqui jogar pelo clube, adoram ver esses jovens aparecer. O clube perdeu isso no último par de anos. É realmente difícil para um jogador jovem vingar aqui, tem de estar a um nível realmente grande. Há muita pressão, é um dos clubes mais difíceis para um jogador jovem. Mas como num Ajax ou num Barcelona, os jovens têm de sentir o apoio necessário para conseguir ter sucesso”.
Hoje, Neil Wood regressa a Old Trafford sempre que pode, mas apenas na condição de adepto. “Estes adeptos sabem reconhecer o que é bom futebol. Mas também são muito leais aos seus jogadores e muito leais ao seu treinador. Estes adeptos gostam de ser entretidos. Gostam de profissionais que trabalham arduamente, e por isso, se eles se identificam com um treinador ou jogador, vão apoiar essa pessoa desde o primeiro minuto (...) É verdade que não tivemos os anos mais brilhantes nos últimos tempos. Talvez desde a saída de Alex Ferguson estejamos a viver num verdadeiro carrossel. Ora subimos, ora descemos de novo”.
O desafio de Ruben Amorim é, por isso, de grande grau de dificuldade. “São muitas trocas de treinador, mas espero que chegue ao clube a estabilidade necessária”. Quando se joga por este clube, os jogadores já sabem que podem esperar um enorme desafio, que os adeptos esperam troféus. Nos últimos anos tivemos algum sucesso com a conquista da Taça e da Taça da Liga com Eric ten Hag. Mas neste momento, o nível da Premier League está altíssimo. Temos o Manchester City que domina há muito tempo, mas também um Arsenal que está realmente forte e um Liverpool realmente capaz. São rivais de grande nível e nós não nos temos apresentado num patamar semelhante”.
Mas os adeptos continuam com o clube e vão sempre estar com o clube. Não perdemos adeptos nestes anos, mas sabemos que eles estão ansiosos por perceber algumas melhorias. Eles querem ver que está a ser construído sobre o relvado, e quando se aperceberem disso, então eles vão apoiar o treinador, os novos jogadores. Só precisam de ter um sinal de que algo está a acontecer.
O sinal que os adeptos querem é uma ideia forte e coerente sobre o que futebol procurado sobre a relva. “Os adeptos querem ver futebol de ataque, querem ser entretidos porque foi sempre assim neste estádio. Eu sei isso porque também entendo as coisas desta forma. Venho aqui desde os oito anos, vi cada jogo até ao dia em que tive de partir. E depois de novo, desde o dia em que regressei como treinador. As pessoas vêm aqui para se entreter e para ver jogadores que acreditam ser especiais”.
“Acredito que um dos desafios para Ruben Amorim vai ser a forma como ele lida com as estrelas da equipa. Tem de encontrar uma forma, um sistema. Sei que se fala muito do 3x4x3, mas também acredito que o novo treinador vai perceber o que é melhor para os jogadores a a melhor forma de os adaptar, de causar um impacto significativo naqueles rapazes, ganhar jogos e encontrar pelo meio uma forma de os adaptar a uma forma de jogar, uma forma ofensiva, capaz de divertir quem assiste, mas também vencedora”.