"Não posso continuar o meu trabalho." Rubiales anuncia saída da federação espanhola de futebol
Dirigente já foi alvo de uma queixa formal por parte de Jenni Hermoso e o Ministério Público espanhol pediu que seja investigado pelos crimes de agressão sexual e coerção.
Corpo do artigo
O presidente suspenso da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, anunciou que vai renunciar ao cargo numa entrevista ao jornalista britânico Piers Morgan.
"Vou fazê-lo porque não posso continuar com o meu trabalho", revelou Rubiales, que está suspenso pela FIFA no seguimento do polémico beijo na boca a Jenni Hermoso, depois da final do Mundial de feminino, que a jogadora diz não ter sido consentido e a levou a apresentar uma queixa formal.
1700957864557191370
O dirigente diz ter tomado a decisão depois de falar com o pai e com as filhas, que diz saberem que esta decisão "não tem a ver" com o próprio: "Dizem-me que tenho de concentrar-me na minha dignidade e em continuar com a minha vida."
Rubiales diz ter tido de "aguentar muita coisa nestas três semanas" e que toma a decisão por não pensar só em si: "Nesta situação, era a coisa mais inteligente a fazer."
Nas redes sociais, o demissionário partilhou uma mensagem em que diz ter transmitido ao presidente em funções da RFEF, Pedro Rocha, a renúncia ao cargo de presidente da federação: "Também informei que fiz o mesmo com o meu cargo na UEFA, para que a minha posição na vice-presidência possa ser substituída."
Rubiales garantiu ainda que vai fazer tudo para que "a verdade prevaleça", mas que ficar no cargo não era positivo para o futebol espanhol.
"Depois da rápida suspensão efetuada pela FIFA, mais os restantes procedimentos abertos contra mim, é evidente que não posso voltar ao cargo. Insistir em continuar não vai contribuir em nada de positivo, nem para a federação, nem para o futebol espanhol", acrescentou.
Luis Rubiales afirmou ainda que a sua saída do cargo vai trazer a "estabilidade necessária" para que a candidatura de Portugal, Espanha e Marrocos que, numa fase inicial, chegou a contar com a Ucrânia, para organizar o Campeonato do Mundo de 2030 seja bem-sucedida.
"Não quero que o futebol espanhol possa ser prejudicado por toda esta campanha tão desproporcionada e, sobretudo, tomo esta decisão ao saber que a minha saída contribuirá para a estabilidade que vai permitir que tanto a Europa como África continuem unidas no sonho de 2030, que permitirá trazer para o nossos país o maior evento do mundo", frisou, agradecendo a todos os que o apoiaram.
O Ministério Público espanhol apresentou na última sexta-feira, no Tribunal Nacional, uma denúncia contra Luis Rubiales, solicitando uma investigação pelos crimes de agressão sexual e coerção.
Em causa está o beijo na boca que Rubiales deu à jogadora Jenni Hermoso, após o final do campeonato do Mundo feminino de futebol, que a Espanha conquistou com uma vitória frente a Inglaterra (1-0), em 20 de agosto, em Sydney, na Austrália.
O Ministério Público considera que esta ação de Luis Rubiales não foi consensual e, portanto, pode constituir um crime de agressão sexual e outro de coerção sobre Jenni Hermoso, e por isso pede ao Tribunal que abra um processo contra o dirigente.
A posição do Ministério Público contra Luís Rubiales surge depois de Jenni Hermoso ter formalizado uma denúncia na Procuradoria-Geral do Estado. A jogadora, ao contrário do que afirma o dirigente, garante que o beijo não foi consentido.
Antes do incidente do beijo, na bancada do estádio, Rubiales tinha tocado os próprios genitais para celebrar a vitória espanhola.
Os dois comportamentos valeram-lhe queixas do governo de Espanha ao Tribunal Administrativo do Desporto, que decidiu abrir um processo disciplinar a Rubiales, e a suspensão da FIFA do cargo de presidente da RFEF, durante 90 dias.
Aos acontecimentos em Sydney seguiram-se inúmeras críticas a Rubiales, que disse que não iria abandonar o cargo, o que provocou um novo pico de contestação e extremar das posições, com as jogadoras da seleção a anunciarem não estarem disponíveis para voltarem a representar Espanha, enquanto os atuais dirigentes da RFEF se mantiverem nos cargos.
Onze membros da equipa técnica do selecionador feminino, Jorge Vilda, apresentaram a demissão.
Por seu lado, o técnico, que condenou o "comportamento impróprio" do presidente da RFEF, foi demitido do cargo na terça-feira pela federação espanhola, depois de críticas de diversos setores por ter aplaudido o discurso em que Rubiales disse que não se demitia e que estava a ser vítima de uma perseguição do "falso feminismo".