Os quatro avançados de Sampaoli no jogo com o Peru (0-0) contam entre si, nos respetivos campeonatos, 32 golos. A Argentina marcou apenas 16 golos em 17 jornadas. Apuramento está difícil.
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O Argentina-Peru foi mudado do Monumental para a Bombonera porque os homens e mulheres da terra de Borges acreditam no divino. O templo do futebol podia fazer o que Messi e companhia não têm feito. Como não? É a Bombonera, a tal que "no tiembla, late". Seria como vento nas costas. Claro que muitos críticos, pensadores do jogo e jornalistas lembraram que um estádio não marca golos, que o problema está no jogo da equipa, no mudar de treinador dia sim, dia não. E a Bombonera não marcou. No seu tempo, César Menotti, o selecionador campeão do mundo em 78, disse que gostava de jogar na cancha do Boca, porque bastava trocar umas vezes a bola para a paixão transformar-se em impaciência, gerando um monstro difícil de tragar.
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Na madrugada que passou, a Argentina de Jorge Sampaoli esperava bater o Peru, que é treinado por outro argentino (Ricardo Gareca), para lhe roubar o quarto lugar, fugindo ao quinto posto, que leva ao play-off contra o primeiro classificado da Oceânia. Não aconteceu. Foi antes um cinzento e gélido zero-zero.
Em campo estavam homens como Messi, Di Maria, Papu Gómez e Darío Benedetto. No banco, Paolo Dybala e Mauro Icardi. É artilharia da pesada, certo? Agüero está lesionado, depois do acidente de carro em Amesterdão, mas também servirá para esta equação da alergia ao golo.
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Vamos ao contexto. Em 17 jornadas no apuramento rumo ao Campeonato do Mundo, a Argentina conta com seis vitórias, sete empates e quatro derrotas. O mais grave nem é isso: 16 golos em 17 jogos. Dezasseis. No Barcelona, Messi espirra e faz 16 golos. Apetece lembrar o que muito se diz em Espanha e na América do Sul quando os avançados estão com um desacerto de alto gabarito: nem ao arco-íris marcavam um golo... Esta realidade é ainda mais impercetível se analisarmos os números destes rapazes nos respetivos campeonatos:
Messi (La Liga): 11 golos em 7 jogos (630')
Dybala (Serie A): 10 golos em 7 jogos (556')
Icardi (Serie A): 6 golos em 7 jogos (624')
Benedetto (Primera División): 5 golos em 5 jogos (419')
Agüero (Premier League): 6 golos em 6 jogos (467') -- não convocado por lesão
São números assombrosos, que carimbam a qualidade destes avançados. Não é novidades, obviamente. E toda a gente sabe que jogar num clube é muito, muito diferente de atuar na seleção. Mas custa compreender como é que Cavani e Caicedo têm tantos golos como a seleção das pampas. Tem-lhes valido a competência a defender (que nem essa é genial): 15 golos sofridos. O Brasil, por exemplo, segue impecável na liderança com mais 13 pontos do que a Argentina: 38 golos marcados, apenas 11 sofridos. Os meninos de Tite foram os primeiros a apurarem-se para o Mundial na Rússia.
Na última madrugada, Messi fez quase tudo pela seleção, que apresenta um futebol pouco impressionável (ainda assim suficiente para vencer). O 10 do Barça leva a equipa às costas, inventa jogadas, perde muitas bolas para arriscar como nunca precisa de arriscar naquela geometria perfeita dos catalães. Se calhar por isso, também há quem prefira vê-lo neste registo, humano, mais errante.
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Pedro Gallese, guarda-redes peruano do Veracruz, fartou-se de defender; Benedetto falhou um cabeceamento que prometia o um-zero; Rigoni não soube encostar ao primeiro poste; Messi tentou de longe, de livre, tentou até com o pé que serve para subir o autocarro, o direito, que enviou a bola ao poste da baliza do Peru. Nada feito.
Neste contexto, começavam a esfregar as mãos Icardi e Dybala no banco, mas o guião armou-se em Nadia Comaneci e inverteu a coisa. Sampaoli apostou primeiro em Rigone pelo perdido Di Maria, que pela direita nem oferecia jogo interior, nem ganhava a linha de fundo. A seguir entrou Fernando Gago, a referência do Boca Juniors, a equipa da casa, por Banega, desaparecido e escondido. O ex-médio do Real Madrid durou cinco minutos: lesão grave no joelho. Gago até quis continuar, num pequeno ato de loucura e pouca sensatez, mas lá saiu... Entrou Enzo Pérez, o ex-Benfica, que prometia oferecer pouco à equipa, pois a Argentina queria empurrar o Peru para a sua área e Enzo vive mais de esticões e espaço, oferece menos jogo posicional, embora a sua velocidade possa levar a diagonais interessantes.
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Apito final na Bombonera. A desilusão manchava o rosto dos jogadores que vestem de azul-celeste e branco. Se antes do jogo a coisa estava complicada, ficou muito pior após o duelo com o Peru. O Chile ganhou e deu um salto, enquanto a Colômbia perdeu em casa e terá de suar até ao fim. A Argentina vive uma depressão prolongada, depois de três finais perdidas. O contexto é tramado, mas resta uma oportunidade para vermos aquela camisola mágica na Rússia: Equador-Argentina, quarta-feira, às 00h30.
Próxima e derradeira jornada:
Uruguai - Bolívia
Peru - Colômbia
Equador - Argentina
Brasil - Chile
Paraguai - Venezuela