"Nem tudo é motivo de festa em Paris, porque há pessoas a dormir nas ruas"
Várias associações francesas têm alertado para a expulsão dos mais precários de Paris durante os Jogos Olímpicos. Nas últimas duas semanas reina um ambiente de festa, mas nem tudo é motivo de festividades, porque há pessoas a dormir nas ruas, denunciam organizações
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Mais de uma centena de pessoas em situação de sem-abrigo, incluindo menores, instalaram, esta semana, um acampamento provisório no centro de Paris, para tornar visíveis os mais precários, durante as festividades dos Jogos Olímpicos.
A acção foi conduzida por várias associações, entre elas, "Direito ao Alojamento" e Utopia 56, na praça da Bastilha, onde decorre um acampamento há mais de dois meses, onde se contam 200 sem-abrigos. Estas pessoas foram retiradas pela polícia, alegando a importância de garantir a segurança dos Jogos.
O fundador da Fundação Utopia 56, Yann Manzi, lembra que por trás desta efervescência da competição, milhares de pessoas dormem na rua e procuram um tecto: "Este não é um momento de festa para todos. Foi por isso que decidimos tomar esta iniciativa e tornar visíveis os sem-abrigos. Éramos cerca de 250 pessoas. Estas pessoas estão aqui há meses… então, achámos que seria altura de nos unirmos e de os tornar visíveis, porque existem muitos sem-abrigos em Paris", conta.
Durante a preparação dos Jogos, muitas associações denunciaram a limpeza social da capital francesa. "Com outras associações, decidimos unir-nos pela luta pela habitação, para mostrar a verdade do que está a acontecer durante estes Jogos Olímpicos. Já durante a preparação dos Jogos, denunciámos coletivamente a limpeza social que acontecia em Paris", acrescenta Yann Manzi.
A Fundação Utopia 56 pediu à Câmara Municipal de Paris que aumentasse os lugares para acolher sem-abrigos, mas sem sucesso. "Solicitámos 7 mil lugares de abrigo em Paris: apenas obtivemos 200 lugares", lamenta.
O porta-voz da associação "Direito à habitação", Jean Baptiste Héro, alerta para o aumento de expulsões de alojamentos, devido ao aumento dos preços das rendas e à falta de propostas de habitação social na capital francesa. Segundo a Fundação Abbé Pierre, os despejos atingiram um nível recorde desde 2022. Contabilizam-se hoje em França mais de 2,6 milhões de famílias à espera de uma habitação social.
