Nervos, medalha substituída e promessa: Diogo Ribeiro aterra em Lisboa a dar braçadas pré-olímpicas
Com duas medalhas de ouro ao peito que ainda não lhe "cabem na cabeça", o nadador de 19 anos promete não parar enquanto não ganhar uma medalha olímpica e desafia quem decide apoios a dar mais à natação: "Acho que merecemos mais."
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As medalhas de ouro com que Diogo Ribeiro aterrou esta quinta-feira em Lisboa depois de se ter tornado campeão do mundo dos 50 e dos 100 metros mariposa já têm destino: molduras na parede da cabeceira da cama, em Coimbra. E um dia, promete, vai juntar à coleção uma medalha olímpica, porque enquanto não tiver uma não vai parar. Para já, aos 19 anos, confessa que ainda não lhe "cabe na cabeça" o que fez, por estes dias, em Doha, mas já lhe vai sabendo bem que o vejam como "um ídolo", ainda que nas noites antes das provas continue a mal dormir.
"Na noite antes dos 50 [metros] mariposa estava muito nervoso", confessou aos jornalistas à chegada ao aeroporto de Lisboa, com a bandeira portuguesa aos ombros e duas medalhas de ouro ao peito, uma delas já em regime de substituição.
É que, depois de as conquistar, dormiu com elas "debaixo da almofada". O problema apareceu só no dia seguinte: "Estava a dos 50 partida, as senhoras da limpeza devem ter ido lá e devem ter deixado cair ao chão. Mas dá para trocar, fui e trocaram-me a medalha", revelou entre risos.
Foi precisamente essa prova que mais o iludiu. De tal forma que nem percebeu que a venceu. Desafiado a recordar a competição, explicou que sabia "que tinha feito uma má partida", portanto teve de nadar atrás do prejuízo. "Basicamente só nadei e não consegui olhar para o lado nem para ninguém. Foi chegar à parede, olhar para o bloco e ver que a luz acendeu. Sabia - porque se acende uma luz vermelha para os três primeiros - que tinha ficado no pódio, não sabia que tinha ficado em primeiro."
A desconfiança nasceu quando viu que "o favorito à vitória", o norte-americano Michael Andrew, "não estava muito contente". Foi aí que soube que o ouro era seu ou do australiano Cameron McEvoy. Só que este deu-lhe os parabéns: "Percebi que se calhar tinha ficado em primeiro e tive aquela reação."
Nos 100 metros a história foi outra. Antes da competição "estava muito nervoso" porque a prova não lhe costuma correr "tão bem" como correu. Só que, sabendo que depois das eliminatórias e das meias-finais "tinha registado tempos muito bons, já tinha recorde nacional e o tempo que tinha feito na meia-final quase que dava vitória", simplificou: "Era fazer basicamente a mesma coisa com coração para dar a vitória aos portugueses." Assim foi, deu em ouro.
"Com 19 anos é um bocado difícil ainda pensar nestas coisas, mesmo estando com elas [as medalhas] ao peito, não tenho palavras", exceto aquelas que descrevem onde quer chegar. O sonho "continua a ser conseguir uma medalha nos Jogos Olímpicos", mas há algo que começa a mudar. É que, se até aqui até estar numa final era um sonho, agora "pode é começar a ser cada vez mais um objetivo, e acho que é isso que está a começar a ser".
Sabe, garante-o, que não são estas medalhas que vão "ditar o futuro", e que tem de "continuar a trabalhar". Daí, nasce uma promessa: "Quero sempre mais e enquanto não chegar a uma medalha olímpica não vou parar."
E nenhum deslumbramento: "Continua tudo na mesma, gosto que digam cada vez mais que sou um ídolo e gosto das pessoas a ver-me nadar e que vão enviando vídeos a apoiar, mas neste momento não cabe na cabeça o que sou, que neste momento tenho medalhas de ouro de um campeonato do mundo. Neste momento é como se fossem de um regional, porque eu ainda não percebi mesmo."
Feito o trabalho na piscina, Diogo Ribeiro pede a quem de direito que dê também as braçadas necessárias para a modalidade evolui, até porque "não há muitos apoios", sendo que reconhece que "antes ainda era pior".
"Desde o ano passado já se vê uma ligeira mudança, mas acho que é preciso mais, investir mais. É a modalidade mais vista nos Jogos Olímpicos, acho que merecemos mais. Os patrocinadores que venham atrás de nós, não é preciso ser com dinheiro, bastam materiais." O desafio está lançado para quem quiser mergulhar nele.
Agora, Diogo Ribeiro conta ir a Paris ver uma prova de skate em que vai participar o português Gustavo Ribeiro e dia 25 estará no estádio da Luz para ser homenageado pelo Benfica - de quem é atleta - no jogo com o Portimonense. Pelo meio, há de ir de férias por uma semana.