No mar não há fronteiras: associação de surf dá aulas gratuitas a mulheres migrantes e refugiadas
A Surf Farm proporciona experiências de conexão com a natureza através do surf e de outras atividades
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A associação Surf Farm une mulheres migrantes e refugiadas na praia do Paraíso, na Costa da Caparica, para terem uma experiência de "conexão com a natureza". Além da prática de surf, são desenvolvidos projetos de agricultura biológica, sensibilizando também os mais novos "para adotarem comportamentos de segurança" no mar: "Não basta conhecerem a cor das bandeiras."
A iniciativa é da associação Lisboa Project em parceria com a Surf Farm, que trabalham em conjunto desde 2023.
Teresa Ribeiro e Felisberto são cofundadores da Surf Farm e vestem o fato para ensinarem o que sabem e proporcionarem uma experiência diferente a estas mulheres.
Anusha é uma das mulheres que atravessou o oceano para chegar a Portugal, mas que nunca tinha sentido o cheiro do mar. Explica que, no seu país, "não tinha praia", mas desde que está em Portugal já fez duas aulas com aquela associação.
"No início, foi um pouco difícil, não conseguia ficar em pé na prancha, mas após algumas tentativas consegui controlar o corpo", conta à TSF. Está em Portugal há cinco anos e, apesar de ainda não ser fluente em português, garante que na água não encontra fronteiras.
Algumas manhãs são passadas no mar, mas a onda de solidariedade também se faz por terra: "A Surf Farm sempre foi um projeto idealizado, onde a sustentabilidade, o surf, a natureza e o bem-estar formam uma simbiose entre eles. E iniciámos o surf. Após o surf tínhamos sempre uma atividade de gathering, picnic, com comida biológica, alguns produtos da nossa horta."
Felisberto acredita que esta iniciativa rompe com "a ideia tradicional do surf ser um desporto elitista", mas diz que este tem de ser um processo contínuo: "Trabalhamos a confiança e o desenvolvimento da conexão destas mulheres com o mar. Não é muito sobre surfar e pôr-se em cima da prancha. Também é do nosso interesse mantermos a conexão com as mesmas pessoas para haver um desenvolvimento. Nas primeiras vezes que algumas mulheres vieram ao mar tocavam só na água, mais tarde já vinham com a água até ao joelho. Depois, já tinham água pela cintura. A seguir, já conseguiam apanhar uma onda."
Para já, a Surf Farm não tem apoios e a rema contra a corrente, mas Felisberto acredita que o projeto pode chegar mais longe e a mais pessoas.
Além de mulheres refugiadas, esta associação também ajuda na inclusão de crianças e jovens. Para o futuro, Felisberto fala na possibilidade de levar o projeto mais longe, por exemplo, "com palestras nas escolas para incentivar comportamentos de consumo saudáveis e limpeza de praias".
