No Pevidém há três japoneses com vontade de "sentir o nível de Champions" e pedir a camisola a Di María
O clube de Guimarães prepara o jogo mais mediático da sua história. A formação do Campeonato de Portugal, que conta com presença nipónica no plantel e na SAD, tem pela frente o Benfica
Corpo do artigo
No balneário do Pevidém Sport Clube ouvem-se dois idiomas: o português e o japonês. Daisuke Araki, Atsushi Inoue e Yuya Ishizuka, três jogadores oriundos do país do sol nascente, figuram no plantel da equipa do Campeonato de Portugal, equivalente ao quartão escalão.
"Aqui falam mais e são mais diretos. No Japão, se acham determinada coisa, não dizem". As diferenças são estabelecidas à TSF por Inoue. Fora do campo, gosta de ir ao shopping e navegar pelo YouTube e pela Netflix. Dentro da realidade das quatro linhas, o médio-centro de 24 anos não esconde que o futebol português é o que "mais gosta", depois de ter passado pelas divisões secundárias do Brasil e da Alemanha.
Araki tem a mesma idade, joga numa posição semelhante e está na segunda época no clube, tal como o compatriota. As parecenças dão lugar às diferenças quando se olha para o seu percurso no futebol português. A primeira experiência surgiu em 2019, nos juniores do Marítimo, e seguiram-se clubes como o Cesarense (AF Aveiro), o Corval (AF Évora) e o Alcains (Campeonato de Portugal), antes de se enraizar na vila de Pevidém. No seu entender, "o futebol português é mais dinâmico e no Japão joga-se mais devagar". "Lá, quando se rouba a bola, joga-se para trás. Aqui é sempre para a frente", acrescenta Araki, habitual titular no Pevidém, ao contrário dos outros atletas nipónicos.
O último japonês a chegar ao clube foi Ishizuka. Depois de uma época no Santiago Mascotelos, do segundo escalão da AF Braga, onde assinou sete golos e sete assistências, fez testes no Pevidém, esta temporada, e convenceu a equipa técnica. O facto de ter compatriotas não teve influência na sua chegada, mas vê com bons olhos esse contexto. "Por vezes, eles dão-me conselhos. Mesmo quando tenho poucas oportunidades para jogar, eles falam comigo", conta, além de se poder expressar na língua nativa.
Ishizuka partilha o apelido e os genes com o presidente da SAD, Tatsuya, que adquiriu a maioria do capital há cerca de um ano. Yuya é filho do empresário que viu no Pevidém a possibilidade de "participar no fenómeno do futebol, pelo qual é apaixonado". A descrição é feita pelo presidente do clube e administrador da SAD.
Rui Machado explica que a chegada do investidor se relaciona com "o aumento da visibilidade do Pevidém dentro do futebol não profissional" e por indicação dos donos da Oliveirense, da segunda liga, também eles japoneses. Do lado do emblema da vila de Guimarães, argumenta, é "muito importante ter alguém que ajude no capítulo financeiro", acrescentando que o objetivo, para já, passa por subir à Liga 3.
A existência de três jogadores japoneses no plantel "não é coincidência", refere o presidente do clube há sete anos, mas garante que "não é uma condição imposta". "Não significa que vá ser prática comum termos sempre japoneses no plantel, mas não quer dizer que isso não aconteça", desenvolve.
Araki, Inoue e Ishizuka querem a camisola... do mesmo jogador
O treinador do Pevidém mostra-se satisfeito por contar com os atletas nipónicos e destaca que o possível "problema" da língua está "ultrapassado", com o Araki e o Inoue já a falarem português e o Ishizuka a comunicar em inglês. João Pedro Coelho vinca o perfil "muito rigoroso" e "o comportamento exemplar" dos atletas, além do que "representam do ponto de vista individual".
Tal como a maioria do plantel, os três jogadores são semiprofissionais e preparam-se para o jogo mais mediático das suas carreiras. Após afastar o Marítimo, da segunda liga, o Pevidém defronta o Benfica, este sábado, às 20h15, no Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas, terreno emprestado pelo Moreirense. O recinto habitual, o Parque de Jogos Albano Coelho Lima, não reúne as condições necessárias.
À imagem de Inoue, Araki quer testar a sua "capacidade" e "sentir em campo o que é defrontar uma equipa do nível da Liga dos Campeões". Já Ishizuka põe a tónica no Pevidém. "Queremos manter o nosso estilo de jogo e que os adeptos do Pevidém se sintam felizes", afirma.
Seja qual for o resultado, haja ou não uma surpresa, os três querem pedir a camisola ao campeão do mundo Ángel Di María. Resta saber se o internacional argentino será opção e quantas tem para oferecer.
