O último Atlético-Benfica. "Fez um chapéu enorme ao Bento e a bola foi parar à polícia do Calvário"
Autor: Bruno Sousa Ribeiro
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A última vez que o Benfica defrontou o Atlético foi há 43 anos. Na véspera de se voltarem a encontrar, a reportagem da TSF passou pela Tapadinha e foi lá, na sala da direção, que reuniu à mesa antigos jogadores do clube de Alcântara, entre outras figuras, para recordar esse dia que o Benfica goleou por 6-0.
Estamos na secretaria do Atlético Clube de Portugal. A porta abre-se com a autorização do senhor Vítor e de Maria da Luz. O estádio, com 83 anos de vida, carrega no corpo as marcas do envelhecimento, mas aqui dentro nada mudou desde o dia da inauguração.
O cheiro é denso. A madeira está gasta e cansada. Cheira a papel envelhecido, tempo acumulado e memórias que não se apagam. Cada uma parece guardar histórias.
"Aquela é a primeira bandeira que se fez no Atlético", aponta o historiador do clube Rui Gomes.
A bandeira está entre a bandeira do União e da do Carcavelinhos, os dois clubes de fundação. Aqui é agora a sala da direção, o antigo lar dos jogadores.
Os móveis, as paredes, ou os símbolos: está tudo está como na última vez que o Benfica aqui jogou, há mais de 40 anos.
"Campo cheio era recorrente nestes jogos", atira Ângelo Mesquita, atual presidente da Assembleia Geral.
"Estava com 39 graus de febre, mas não disse nada a ninguém. 'Tenho que entrar dentro do campo nem que faça a saudação e a seguir caia para o lado'. Mas pelo menos estive na fotografia com a malta toda. Joguei até cinco minutos do final", acrescentou Rafael Gomes, antigo jogador do Atlético.
No relvado, Rafael viu de perto os adeptos lesionarem Chalana. O Atlético, então na 2.ª Divisão, perdeu por 6-0. Rui Águas, lesionado, não defrontou o Benfica que chegaria à final da Taça UEFA frente ao Anderlecht.
"Nessa semana, eles foram ganhar com a Roma. É a semana em que vem Strömberg. Há fotografias. Eu tenho fotografias dele recebido aqui na Tapadinha e toda a malta em volta dele", recorda Rafael Gomes.
"O Atlético foi muitíssimo respeitado pelo Benfica. E o Benfica apresentou aqui uma equipa super", rematou Rui Gomes.
Na Tapadinha, o tempo envelhece, mas não apaga. Aqui, recorda-se ainda o chapéu ao Bento que foi parar à polícia de Alcântara no último Atlético-Benfica.
"O Vítor Manuel ficou isolado. Penso que a bola foi parar lá baixo à polícia no Calvário. Fez um chapéu enorme ao Bento, nem era preciso." (risos)
Entre bandeiras antigas, madeira gasta e fotografias amarelecidas, permanecem histórias que transformam um estádio modesto numa cápsula emocional do futebol português. Aqui, cada memória continua a respirar e o passado insiste em não partir.
