O "contra-golpe" quase sorriu. O "futebol posicional" chegou-se à frente no fim
Jogo intenso no Estádio da Luz entre Benfica e Sporting terminou empatado a uma bola, com golos de Gelson e Jonas, já muito perto do fim.
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O dérbi começou com uma arma secreta num lugar secreto. Um leitão protagonista a ser devorado no parque de estacionamento do Estádio da Luz, por alguns adeptos matreiros, com ginga no pensamento e ousadia no dente. O dérbi arrancou com as duas equipas separadas por três pontos e foi assim mesmo que acabou, graças ao drama de última hora: Jonas empatou de penálti já muito perto do fim. Gelson marcou o golo do Sporting.
Este duelo teve de tudo. Bolas na barra, cambalhotas na tática, berros dos treinadores desesperados e uma receção cheia de meiguice para Fábio Coentrão (alerta ironia). Os homens da casa entraram bem. Ganharam algumas bolas paradas e aquele triângulo formado por Fejsa (pouca bola e pouca influência), Krovinovic e Pizzi prometia querer jogar. Battaglia, William e Bruno Fernandes eram os guerreiros do outro lado da barricada.
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Uma coisa é certa: houve muitos momentos de qualidade. Benfica esteve melhor com bola, "foi melhor no ataque posicional", como admitiria no final Jorge Jesus. Krovinovic é, provavelmente, o grande responsável por esta cantiga. Faz lembrar uma tirada que vem na autobiografia de Johan Cruijff, que elogia um traço dos génios da simplicidade: fazer o que se vê e não fazer o que não se vê. Parece o ponto de partida da vida de Krovinovic, que até mandou uma bola à trave ainda na primeira parte. Sim, falta-lhe alguma potência para sair no drible, que vai compensando com aquele toque de bola. Um ex-futebolista aqui perto da TSF comentava que o médio gosta sempre de jogar de frente para o jogo, mostrando-se sempre, perto ou atrás, e fazendo poucos movimentos de rutura, para arrastar alguém ou baralhar marcações. Ou seja, facilita a vida de quem o defende, andando ali na zona dos rivais.
O Sporting melhorou à passagem do minuto 15. E para isto basta agarrar no termómetro William Carvalho: se o médio português toca mais na bola, se faz a famosa pausa no jogo, se deixa a equipa respirar e subir, o Sporting vive melhor. Aconteceu nesta fase, mas foi uma raridade (ninguém pensou e serenou o jogo dos visitantes). E foi aqui mesmo que os leões chegaram ao golo: Acuña cruza, Rúben Dias limpa, a bola sobra para Bruno Fernandes, que tocou para Coentrão na área. O lateral cruzou, beneficiou de um desvio e a bola pingou na pequena área e... golo de Gelson, de cabeça, 1-0.
O Sporting, apesar do golo, continuou com pouca bola, piscando o olho ao "contra-golpe", como mais uma vez admitiria Jesus. Jardel (a um metro da linha de golo praticamente) e Acuña ameaçaram o golo pouco depois do 1-0 (Varela ainda teve de voar em dois lances). Os leões iam apostando no futebol direto, com Bas Dost a ganhar muitas bolas à defesa do Benfica, às vezes até sem tocar-lhe, deixando correr para os inquietos Gelson e Bruno Fernandes. Antes do intervalo, Jonas (o bombardeiro que mais ameaçou Rui Patrício) ainda tentou molhar a sopa, mas não era o seu dia (pelo menos de bola corrida).
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A segunda parte teve mais Benfica. Dez minutos depois do arranque Rui Vitória começou a meter a carne no assador: Raúl Jiménez por Pizzi. Cervi continuava a pedalar como um Fangio colado à linha, a dar cabo da cabeça dos laterais do Sporting, aventurando-se ainda pelas terras do interior, mais quentes e apetecíveis. Do outro lado, Gelson ia dando trabalho mas a energia ia baixando. Bruno Fernandes, idem, bom futebol, bom de bola, mas cada vez a ocupar menos espaço. Quanto mais distante está Bruno Fernandes de William, mais o Sporting sofre. Ninguém pensou o jogo.
Aos 73', Vitória voltou a mexer: mais carne na grelha. Desta vez entrou Rafa, para explorar Fábio Coentrão pela direita, com Salvio a recuar para lateral e André Almeida para "6". Ou seja, saiu Fejsa, sem a alma de outros tempos.
O Benfica continuou a apertar, valendo as ações defensivas de William e Coates. Jesus foi então, aos 78', ao resgate da sua equipa: meteu lá dentro Bruno César, por Acuña. O argentino já estava sem gás. Outro ex-futebolista aqui perto da TSF um minuto antes desabafou: "Esta semana o Acuña é só meter gelo...", brincou. E um minuto depois o canhoto lá saiu. Esta gente sabe o que diz...
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Os quase 62 mil adeptos voltariam a ser surpreendidos por Vitória: saiu Rúben Dias, entrou João Carvalho. O jovem tentou logo a seguir com a canhota, que passou perto da trave. A seguir foi Bryan Ruiz que entrou pelo cansado Gelson. O público ia empurrando o Benfica para a frente. O minuto 90 aproximava-se. Apesar do bom momento dos rapazes de vermelho, parecia que o Sporting ia levar os três pontos...
Mas não: aos 89' o árbitro apitou penálti. Mão na bola de Battaglia depois de um remate de Rafa. Jonas assumiu e celebrou, 1-1. As reações foram curiosas: Jorge Jesus pedia calma, Rui Vitória queria galgar a onda e pedia para os jogadores continuarem. O dérbi quase acabou com um lance genial de Jiménez: pontapé de bicicleta, mas saltou a corrente e a bola saiu ao lado. Apito final na Luz. Com o empate, o Sporting fica a dois pontos do FC Porto, que venceu em Santa Maria da Feira, enquanto os encarnados ficam a cinco pontos da liderança.