O Fabril esconde uma enorme sala de troféus e o relvado é cortado em quadrados

António Botelho/TSF
A TSF esteve no Estádio Alfredo da Silva, no Barreiro, a conferir como tem sido a preparação do Fabril para o jogo com o FC Porto da Taça de Portugal.
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Tem sido uma semana diferente no Estádio Alfredo da Silva. Um estádio velhinho, antigo, mas com boas condições. O Fabril, clube que compete no Campeonato de Portugal, mas que já jogou na 1ª Divisão e nas competições europeias, prepara-se para receber o FC Porto na Taça de Portugal. No gabinete do presidente do clube, Faustino Mestre, estão a ser feitos todos os preparativos para receber o campeão nacional... "os homens estiveram cá... andaram dentro do campo... vieram mais uma vez regar a relva... vêm cortar outra vez 6.ª feira e sábado de manhã... devem trazer aquela máquina deles especial para cortar ao comprido e fazer os quadrados...", são várias as preocupações, mas há uma certeza: o Estádio Alfredo da Silva vai estar pronto para receber o campeão nacional, no sábado, às 14h30.
"Às vezes as surpresas acontecem... já o José Torres dizia "deixem-me sonhar"", atira Faustino Mestre, presidente do clube há 17 anos, acrescentando: "Temos de acreditar, mas sabemos que vai ser muito difícil. É importante sublinhar que vamos receber o campeão nacional e o detentor da Taça de Portugal", recorda o dirigente, sentado no seu gabinete, recheado de galhardetes e camisolas de antigos adversários do Fabril, esboçando um sorriso atrás da máscara, só detetado pelo franzir dos olhos. Faustino Mestre salienta que o FC Porto foi o clube que "teve a postura mais correta" com o Fabril: "O FC Porto não exigiu nada, não exigiu relvados arranjados, nem que o jogo fosse ao sábado. Essa foi uma exigência nossa. Este jogo tinha que ser feito no nosso estádio e à tarde, para relembrar os tempos antigos."
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Fundado como Grupo Desportivo da CUF, como clube-fábrica, caiu depois das convulsões revolucionárias de 1974, após 23 presenças na I Divisão do futebol português. Nos anos de maior glória deste clube da cidade do Barreiro, a vitória por 2-0 frente ao todo poderoso AC Milan, na antiga Taça UEFA, em 1965, foi o ponto máximo deste clube. Faustino Mestre era um jovem e recorda-se bem desse momento: "estava numa das laterais, atrás da baliza. Estádio cheio. O AC Milan era uma equipa que nesse ano tinha sido campeã europeia e vieram aqui perder por dois a zero num grandessíssimo jogo que nós fizemos", recorda Faustino Mestre, à TSF. Os tempos são outros, a pandemia "veio dificultar ainda mais as contas do clube... a câmara tem de olhar para nós, não pode olhar sempre para os mesmos", explica o presidente que acredita que "com a ajuda certa, o Fabril do Barreiro tem condições para chegar à I Liga em cinco anos."
Nos corredores do clube, sente-se o cheiro a balneário e, logo à entrada, há uma sala que se distingue das outras. A sala dos troféus, preenchida com dezenas de taças, de fazer inveja a alguns clubes da I Liga. Por essa sala, passa todos os dias um homem que dedicou toda a vida ao Fabril. Carlos Vieira é o dirigente que faz tudo... e há uma razão: "Hoje dar a este clube o meu contributo, porque aquela fábrica foi quem fez de mim um homem, um chefe de família e foi ali que eu ganhei a minha vida. Hoje dou ao clube aquilo que a fábrica me deu em anos anteriores como trabalhador", confessa, emocionado, um dos mais antigos sócios do clube, a lembrar-se quando o futebol era como um escape à dura vida fabril. Ele que, também, recorda com orgulho aquele triunfo histórico sobre o AC Milan: "foi a grande história da CUF, foi esse jogo! Foi realmente uma época de ouro na CUF. Tínhamos excelentes jogadores. Manuel Fernandes, Carlos Manuel, Fernando Oliveira são alguns."
Do gabinete do presidente até aos balneários faz-se em um minuto, por corredores apertados. A boa disposição impera entre os jogadores, mas, ao mesmo tempo, há muito empenho e motivação para afinar a estratégia para tentar fazer tombar o campeão nacional da Taça de Portugal. As conversas de balneário giram à volta da palavra "Porto" e dos jogadores do Porto. A energia é muito positiva e a ansiedade é notória. Aproxima-se um grande dia, único para esta gente.
Jackson é o avançado do Fabril do Barreiro. Chamam-lhe o goleador da equipa, mas não tem marcado nos últimos jogos: "Tenho guardado os golos para sábado [risos]. Eu já sabia, por isso estava à espera desse momento", afirma, em tom de brincadeira, o atacante brasileiro. E se o jogo foi discutido nos penalties? João Marreiros, guarda-redes e capitão do clube do Barreiro, coloca a pressão do lado do FC Porto "Acho que a responsabilidade numa situação dessas é muito maior de quem bate do que quem defende. Portanto, caso esse cenário aconteça, tanto eu como os meus colegas, quem lá estiver só tem de estar tranquilo."
Tranquilo está o treinador, João Miguel Parreira: "Vamos desfrutar e jogar o nosso jogo. Queremos ganhar, não é arrogância, não há falta de ambição neste grupo, queremos mesmo ganhar, agora, sabemos que é o FC Porto, como é lógico. Mas também sabemos que eles não vêm na máxima força e pode ser que consigamos fazer qualquer coisa gira. Pelo menos, vamos lutar por isso." O técnico apelida o plantel de "meninos da distrital". A razão? "É um grupo jovem e porque quase todos vêm das divisões distritais", explica o João Miguel Parreira desta equipa que milita no Campeonato de Portugal. Agora, o treinador chama os jogadores e manda todos para o campo treinar. Por estes dias, treinam noutro campo sintético, que também faz parte do clube, para preservar o relvado natural, do estádio Alfredo da Silva, para sábado, onde o Fabril do Barreiro, como diz o mister, vai querer "fazer qualquer coisa gira", que por outras palavras, significa "fazer taça".