Os peruanos vão à Argentina e levam água. Será eco da "água batizada" de 1990?
Segundo o médico peruano, trata-se apenas de "precaução". Mas é difícil esquecer aquele Argentina-Brasil, no Itália-90, em que Branco bebeu "água batizada". Argentina e Peru lutam pelo 4º lugar.
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"Brasil, decime qué se siente / tener en casa a tu papá / te juro que aunque pasen los años / nunca nos vamos a olvidar / que Diego te gambeteó / que Cani te vacunó / están llorando desde Italia hasta hoy..."
A vida da seleção argentina está tremida: seis vitórias em 16 jornadas no apuramento para o Campeonato do Mundo na Rússia, em 2018. Ou seja, juntando os seis empates, os argentinos contam apenas 24 pontos, os mesmos do Peru, que estaciona no último lugar do apuramento direto (4º). A Argentina está na zona de play-off (5º).
O que significa que esta viagem da seleção peruana à Bombonera, a casa do Boca Juniors em Buenos Aires, será (provavelmente) decisiva -- faltam duas jornadas (Peru e Equador). Aqui a notícia é que a seleção dirigida ironicamente pelo argentino Ricardo "Tigre" Gareca levará água para aquele país, conta a revista El Gráfico. E porquê? "Por precaução", revelou o médico do Peru, Jorge Alva. Afinal, antigamente havia algumas possibilidades de consumirem água contaminada na terra de Jorge Luis Borges.
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Mas também é possível especular, fazendo cócegas à parte do cérebro que imagina cenários (a comunicação social brasileira não perdoou, por exemplo; muita gente nas redes sociais, idem), e lembrar um episódio com 27 anos. A história remonta, portanto, ao Itália-90. Os velhos rivais, Argentina e Brasil, encontravam-se nos "oitavos" do Campeonato do Mundo com cheirinho a pepperoni: de um lado Burruchaga, Caniggia e Maradona; do outro, Alemão, Valdo e Careca.
Reza a lenda -- ou reza esta crónica no Clarín e tantas outras -- que a Argentina, treinada por Carlos Bilardo, fez batota nesse duelo. Durante a assistência a um jogador lesionado, médico e massagista do país da Patagónia tinham água com um sedativo. Trataram então de se armarem em Maradona das águas, iludindo adversários, ajudando camaradas, fintando goelas e marcando golo nas gargantas canarinhas em forma de balizas (ver vídeo em baixo). O lateral esquerdo que passou pelo FC Porto, Branco, recebeu uma dessas águas e sentiu dores, náuseas e enjoos durante o resto da partida.
O brasileiro bebeu de uma garrafa verde, que estava assinalada pelos argentinos. O tal texto do Clarín conta que Maradona até terá dado indicações a Olarticoechea, um colega da defesa: "Dessa não, dessa não, da outra..."
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O eterno 10 terá admitido ao canal TyC Sports, em 2004, a batotice. "Eu dizia 'toma, toma Valdito', e depois chegou o Branco e bebeu tudo... O Branco depois batia os livres e caía. Depois do jogo, o Branco culpava-me, disse-lhe que não tinha nada a ver com aquilo. Ele jogava em Itália e tínhamos uma boa relação. Não falámos mais depois [daquele episódio]..." O craque referiu que terão usado Royphnol, um sedativo. Começou a falar-se em "água batizada". Diz o mesmo artigo que a ordem terá partido de Bilardo, o homem que estava no banco argentino no México-86, vencido por Diego e companhia.
Depois desse duelo contra os brasileiros, ganho pelos argentinos graças a um golaço a meias entre Maradona e Caniggia, os senhores e senhoras que falam um castelhano arrastado e bonito cantavam o que se vê no arranque deste texto. Foi um dos momentos mais embaraçosos do futebol argentino.
Até pode ser por precaução, desconfiando da qualidade das águas de Buenos Aires, mas quem sabe o Peru não esqueça esse episódio mítico do Itália-90...
Nota: o Argentina-Peru está agendado para esta noite às 00h30 (hora portuguesa), na Bombonera.