Nove jogos, nove vitórias. Os números são implacáveis: com Lage ao comando o Benfica fez o pleno de triunfos no campeonato. Antes dele, Rui Vitória acumulou três derrotas e dois empates em 15 partidas. Mas, afinal, como é que os números explicam tanta diferença?
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A rubrica "O homem que quem os números falam" do programa Número Redondos costuma destacar o desempenho de um jogador. Mas esta semana, elegemos um treinador, Bruno Lage, e os dados do seu Benfica no campeonato, em comparação com os do antecessor, Rui Vitória.
Quando Bruno Lage pegou na equipa à jornada 16, o Benfica era quarto classificado, a sete pontos do primeiro, o Porto. Nove jogos e nove vitórias consecutivas depois, os encarnados lideram o campeonato isolados, com dois pontos de vantagem sobre os dragões, sete sobre o Braga e 10 sobre o Sporting.
Nessas nove vitórias que tudo mudaram, o Benfica marcou 35 golos (quase à média de quatro golos por encontro...) e sofreu seis. Com Rui Vitória a equipa tinha 31 golos apontados em 15 jogos (média ligeiramente superior a dois tentos por partida). Ou seja, com Lage o Benfica quase que dobrou a média de golos marcados por partida na liga portuguesa.
Mas, em termos estatísticos, como é que isso aconteceu?
Desde logo, a equipa até rematou em média menos vezes por jogo do que fazia com Rui Vitória. Passou de 16.6 para 16.4 tentativas por partida, o que significa que a eficácia de remate aumentou exponencialmente: de cerca de 12% para 24%.
Para isso contribuiu muito o incremento da pontaria dos rematadores: de 6.4 remates no alvo no tempo de Vitória passaram para 7.1, um valor que faz inveja à maioria das melhores equipas das principais ligas europeias. Além disso, o Benfica de Lage consegue também rematar mais vezes dentro da área adversária, o que aumenta a perigosidade dos ataques (de 10.2 para 12.2 remates por encontro).
Tudo isto se reflete nos números de oportunidades criadas. Com Vitória as águias desfrutavam de 6.2 situações claras de golo por jogo; com Lage passaram a ter 6.9, o que ajuda a explicar o crescimento significativo de golos marcados no campeonato.
Mas não justifica tudo, até porque criar mais de seis ocasiões flagrantes por jogo é sempre um excelente número, e portanto já o era no tempo de Vitória - aliás o seu Benfica era a equipa que mais ocasiões criava mas não tinha o melhor ataque. O aproveitamento dessas oportunidades é que faz toda a diferença. E aí dos dados não mentem: com Vitória essa rentabilidade era de 32%, com Lage passou para 57%.
Igualmente importantes são os números relativos às bolas paradas ofensivas: o Benfica de Vitória marcou duas vezes desta forma no campeonato (não contando penáltis) em 15 encontros, enquanto o de Lage apontou oito golos na sequência de bolas paradas em nove partidas.
Curiosamente, com Vitória o Benfica até tinha mais posse de bola média por jogo (60% contra 52%), fazia mais cruzamentos (15 contra 11.4), e realizava mais passes (506 contra 473), mas a eficácia média de passe aumentou com Lage (de 73% para 81%).
O mesmo se passou com a eficácia defensiva: com Vitória os encarnados sofreram um golo em média por encontro; com Lage baixaram para 0.7, para o que muito contribuiu a redução das oportunidades concedidas aos adversários: de 3.2 por partida para 2.1.
Terminamos com alguns dos nomes próprios fundamentais no atual sucesso de Bruno Lage no campeonato. Aqueles que podemos chamar "os homens de Lage", porque ganharam um protagonismo na equipa que antes não tinham.
- João Félix: sempre titular no campeonato com Lage, marcou sete golos nos tais nove jogos. No período A.L. (Antes de Lage) fora duas vezes titular e cinco vezes suplente utilizado.
- Seferovic: oito vezes titular e uma suplente utilizado, com 11 golos em nove jogos (só não marcou no Dragão). Antes de Lage, fora cinco vezes titular e oito suplente utilizado.
- Samaris: sete vezes titular. Antes: duas vezes suplente utilizado
- Gabriel: oito vezes titular. Antes: quatro vezes titular, três suplente utilizado.
- Rafa: sete vezes titular. Antes: seis vezes titular e cinco suplente utilizado.
Estes são, pois, alguns dos dados fundamentais para explicar o que mudou no Benfica com a chegada deste desconhecido (até há dois meses), que tudo mudou na história de um campeonato que, apesar de tudo, ainda está longe de acabar.
Um desconhecido, cujo pai (Fernando Lage), passou ao lado de uma grande carreira de futebolista (chamavam-lhe o "Eusébio branco" mas nunca passou dos escalões secundários), que aos 20 minutos do seu primeiro jogo de campeonato como treinador interino do Benfica estava a perder 2-0 em casa com o Rio Ave...
...e que dois meses depois está a apenas duas vitórias seguidas de igualar o recorde do melhor arranque de sempre como técnico do Benfica no campeonato português, para já nas mãos do "mago" Sven-Goran Ericksson, que venceu os seus primeiros onze jogos na liga portuguesa, em 1982.