"Os guarda-redes têm de focar na ação do rematador", explica António Vicente (Universidade da Beira Interior). O rosto dos jogadores diz muito e pode ditar uma abordagem diferente do homem da baliza.
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Portugal morreu na praia, caiu nas "meias" da Taça das Confederações, depois de Claudio Bravo ter sido bravo e ter defendido todos os penáltis da seleção de Ronaldo e companhia. Moutinho, Quaresma e Nani chutaram com pólvora seca, deram bravura a Bravo. "Seguramente que não é sorte, seguramente que não é lotaria", diz à TSF António Vicente, do Departamento de Ciências do Desporto da Universidade da Beira Interior.
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"É resultado do trabalho e estudo. Deve ser treinada [a grande penalidade]. Hoje já se conhecem algumas variáveis que influenciam esta situação", explica. Uma delas é a postura do rematador, como olha, para onde olha, como coloca o corpo, o pé de apoio, a perna que vai bater na bola.
"Os guarda-redes têm de antecipar. Têm de focar na ação do rematador e não na bola", diz. As pistas que o rosto vai deixando cair, idem. "São sinais que são lidos por guarda-redes, jogadores e até pelos espetadores. Jogamos também com o aspeto psicológico, a confiança, o à vontade que o jogador tem, que pode e deve ser trabalhada."
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E continua: "Quando os jogadores estão menos confiantes, menos crentes nas suas capacidades, eles tendem a arriscar menos. Isso quer dizer que não tenderá a meter a bola junto dos postes, mas procurará antes uma zona mais longe dos postes. Quer dizer que o guarda-redes não precisa de começar a deslocar-se mais cedo, pode esperar, porque sabe que o rematador não colocará a bola tão afastada de si."
António Vicente explicou ainda à TSF que o filme já está todo realizado na cabeça do rematador ainda antes de bater na bola. "[O remate] é apenas a consequência das ações anteriores. Está definido. Basta vermos, por exemplo, a forma como os jogadores se deslocavam da linha do meio campo até à marcação de grande penalidade. A forma como se deslocavam, com a cabeça para baixo, os ombros encolhidos, transmitia uma sensação de insegurança. "
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Tudo isso, indica o professor da Universidade da Beira Interior, "são muitas informações" que vão dando pistas "de que aquela não é uma situação familiar para o jogador naquele contexto e que provavelmente não a preparou tão bem como deveria".
Como escrevia o diretor do jornal O Jogo esta quinta-feira, "esqueçam o azar e mudem de cara". Os pés são importantes, o sangue frio também, mas a confiança espalhada no rosto (ou a falta dela) envia sinais aos rivais e talvez ofereça uns centímetros aos guarda-redes.