O sal e os balneários que podem fazer mal. A vida de um treinador em Moçambique
Foi pela mão de Diamantino Miranda que Nélson Santos voou até Maputo, para integrar a equipa técnica do Costa do Sol. Não demorou a chegar a treinador principal e acabou de conquistar a taça do país.
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A carreira de treinador de Nélson Santos começou com uma mentira. "Por vezes os pais querem que tenhamos uma profissão tranquila e com garantias. Sempre disse que ia ser médico ou advogado, mas quando fui para o ensino superior segui educação física e desporto, depois de não ter conseguido ser jogador. Tive que mentir inicialmente, queriam que eu fosse médico".
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Passaram 12 ou 13 anos, cinco deles como treinador do Costa do Sol, de Moçambique, e Nélson Santos está longe de estar arrependido. Começou por ser observador e treinador das camadas jovens do Belenenses, preparador físico do Marítimo, com Van der Gaag, e faz parte das equipas de José Couceiro, Carlos Carvalhal, Rui Jorge, entre outros.
Há cinco anos, convidado por Diamantino Miranda, Nélson Santos arriscou fazer parte da equipa técnica do Costa do Sol, da capital moçambicana, Maputo. Tinha 27 anos e não demoraria a chegar a treinador principal, depois da saída de Diamantino Miranda.
"Inicialmente era uma aventura de um ano, uma oportunidade única, mas acabei por ficar e ir renovando. Integrei-me bem no país, que me acolheu bem e me deu oportunidades que não tenho em Portugal. Aqui tenho portas abertas e quero aproveitar para demonstrar o meu valor".
Este ano, e após cinco temporadas no clube, conquistou o primeiro troféu, a Taça de Moçambique. Terminou em segundo o campeonato e ainda garantiu a qualificação para as Afro Taças. Mas nem tudo é fácil em Moçambique, como as questões culturais, nomeadamente o misticismo e as superstições, que o treinador diz respeitar e contornar com trabalho.
"Os jogadores quando estão a aquecer para iniciar o jogo gostam de correr à volta do campo, fazendo um círculo para fechar a equipa que está a aquecer nesse círculo. Por vezes não nos equipamentos nos balneários nos jogos fora, porque acreditam que possa ter alguma coisa prejudicial, desde água salgada, sal nas balizas, nos bancos. Respeito, mas acredito no trabalho. É difícil mudar isso, mas com o tempo e resistência conseguimos".
Sobre o campeonato, Nélson Santos diz que está cada vez mais competitivo e que o país respira futebol, dizendo que por vezes tem mais gente nos treinos que algumas equipas no estádio, em Portugal.
"O campeonato tem vindo a crescer, cada vez mais equilibrado, mais equipas a lutar pelo título. Condições cada vez melhores, aposta em treinadores de fora com valor. Treinadores em Moçambique a fazer formação. Com o aumento do número de estrangeiros a competitividade também aumentou. Às vezes há mais gente nos meus treinos do que nos jogos em Portugal. As pessoas vivem muito o futebol, 70 a 80% é benfiquista, quando o Benfica ganha é festa que nunca mais acaba".
Esta nova rubrica da TSF, conduzida por Ricardo Oliveira Duarte, vai para o ar às segundas-feiras, entre as 18h45 e 19h.