O silêncio que treina para fazer barulho: a preparação para os Jogos Surdolímpicos de Tóquio
Os Surdolímpicos arrancam este sábado em Tóquio, no Japão. Antes de partirem, a TSF acompanhou a preparação dos atletas portugueses
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Portugal vai voltar a marcar presença nos Jogos Surdolímpicos. É o segundo evento multidesportivo mais antigo do planeta, mas poucos sabem o que isso significa. Não há apitos, ou tiros de partida, mas há tudo o resto: esforço, coragem, superação e o sonho pelas medalhas. "São todos diferentes, todos importantes" e, acima de tudo, são todos atletas. A Missão Portuguesa já está em Tóquio, no Japão, mas antes mostraram à TSF como foi a preparação. Em Setúbal, Margarida correu com orgulho. Em Évora, Francisco superou um atropelamento. Em Anadia, Joana sonhou com as medalhas e Gustavo saltou ao nível de Vasco da Gama.
Os ponteiros do relógio marcam 19h00. O sol vai-se embora devagar, tingindo de laranja o Complexo Municipal de Atletismo de Setúbal, onde há quem jogue futebol, faça musculação ou outras atividades desportivas. As luzem acedem-se e a TSF dirige-se até à pista, para assistir ao treino de Margarida Silva, uma das atletas que vai representar Portugal nos Jogos Surdolímpicos de Tóquio.
A jovem de 25 anos - que divide o tempo entre a competição e a vida de nutricionista - chegou a dizer que "preferia nunca competir a ter de aceitar certas condições", como a de ser surda. Hoje, "engole" muito essas palavras e treina-se com "orgulho".
- Então vá, Ferreira, a seguir...
- Com bicos ou sem bicos?
- Trouxe só estes ténis, mas é a mesma coisa.
Fernando Ferreira é o treinador de Margarida Silva há vários anos, mas só por "uma coincidência" é que descobriu que lidava com uma pessoa surda. "Falava com ela durante o treino e não me ouvia. O pai é que me alertou para os problemas de audição e depois as coisas continuaram a fluir, tive de saber lidar com ela. (...) É fácil, ela é uma apaixonada do desporto, é fácil adaptar-me", conta-nos, enquanto a atleta calça as sapatilhas.

Surda desde que nasceu, Margarida Silva sempre teve receio em ser "diferente" e olhou para o facto de ter cabelo comprido como uma vantagem para conseguir esconder as próteses auditivas - que, contudo, não resolvem totalmente a surdez. Agora, tudo isso é irrelevante. Está, aliás, a tirar as próteses e a entrar na pista com tranquilidade.
"Isto esteve muito relacionado com o meu plano familiar. Nós somos cinco irmãos, quatro de nós surdos. Ainda por cima a ver que eles próprios também têm esta coisa de esconder, porque não assumir que sou surda? Se eu sou surda, se o assumo e se está tudo bem com isso, as outras pessoas também o podem ser e mostrar que são surdas. Não há mal nenhum com isso."
Não há mal nenhum e ninguém repara. Nesta pista, que até fica longe do centro da cidade de Setúbal, há alguma agitação. Ouvem-se apitos, pessoas a conversar e a limitação de Margarida passa completamente despercebida.
A atleta posiciona-se no fundo da pista, com um olhar determinado e atento, enquanto Fernando Ferreira prepara o cronómetro. Levanta o braço, o tempo começa a contar e Margarida corre.
Quando chega à meta, levanta os braços e o tempo pára de contar. Sempre assim, durante dez vezes.
O treinador observa de perto. "Hoje vai fazer 150 metros a um ritmo forte, que é para ficar mal disposta [risos]", diz, sem desviar os olhos do cronómetro. "É verdade, quando acaba o treino nem sabe onde anda, mas ela está preparada para isso."
Atualmente, Margarida treina com a confiança de quem conhece o próprio limite. Mas, como referiu, nem sempre foi assim. Houve um tempo em que a mente era mais inquieta, em que o corpo respondia, mas as dúvidas pesavam mais.
Em provas mais rápidas (de 400 ou 800 metros, onde os atletas partem em pistas), Margarida começou a perceber que o potencial dela podia ser ainda mais valorizado, caso optasse por correr com outras atletas surdas. Mas, e como "um atleta não se faz da noite para o dia", questionava-se: "Como é que eu vou apresentar-me perante o mundo com esta condição?"
Olhamos em redor. Vemos Margarida a correr no meio de dezenas de pessoas e ninguém quer saber se é ou não surda. A questão que faz acaba mesmo por ser da própria cabeça, algo que reconhece: "A minha principal barreira foi em termos psicológicos, em assumir e aceitar que sou diferente e está tudo bem com isso."
- MS, quantas estão?
(Margarida consegue perceber e faz um quatro com as mãos)
- MS é Margarida Silva. Se eu digo Margarida Silva fica a olhar para mim, se eu digo MS está tudo bem.
Já sem próteses auditivas, esta é uma das interações entre Margarida e o treinador ao longo do treino. Existem vários tipos de surdos (leve, moderada, severa, profunda ou total ) e, no caso da jovem meio-fundista, os pais sempre fizeram "muito investimento" para que tivesse uma educação adaptada. Além de fazer terapia da fala, na escola, por exemplo, estava sempre na frente para conseguir fazer a leitura labial dos professores.
"Não é de facto um problema interagir dentro da sociedade. Passo completamente despercebida. (...) Mas o caminho, enquanto atleta surda, é um pouco penoso. É preciso que a envolvência da própria modalidade seja em torno do atleta surdo e com adaptações que ainda não existem. Por exemplo, treinadores capacitados para falar língua gestual. É como ir a um médico, em que hoje em dia não levar um intérprete é um bocado irrealista."
Depois de ter tido a coragem de assumir que é surda, Margarida está prestes a estrear-se nos Jogos Surdolímpicos, que acontecem em Tóquio de 15 (este sábado) a 26 de novembro. A meio-fundista vai competir nos 800 e 1500 metros. É ainda a escolhida para levar a bandeira de Portugal na cerimónia de abertura, ao lado de André Soares.
Ao fim de quase duas horas, o treino no Complexo Municipal de Atletismo de Setúbal acaba. Margarida ainda tem uma viagem até Lisboa para fazer, já que é lá onde dá consultas de nutrição. A TSF também tem uns quilómetros pela frente: vamos até Évora ao encontro de mais um jovem surdolímpico que, muito mais do que correr contra o tempo e dificuldades, teve de lidar com um outro obstáculo fora da pista. Chama-se Francisco Laranjeira e é um apaixonado pelo atletismo desde os 16 anos.

Estão quase 40 graus. O atleta de Elvas e o seu treinador, João Ferrão, esperam-nos na entrada do Complexo Desportivo de Évora. Entramos e vamos até à pista de tartã, que está completamente cheia. Se alguém esperava ver Francisco isolado dos outros, engana-se. No meio de todos, comunica e, novamente, a surdez passa completamente despercebida.
A dinâmica de treino é semelhante há que já havíamos assistido com Margarida. E, do aquecimento às séries mais específicas, o que daqui salta à vista é a capacidade de superação do atleta, que, em abril de 2022, quando tudo parecia alinhado para concretizar o sonho de participar nos Jogos Surdolímpicos de Caxias do Sul, no Brasil, o destino trocou-lhe as voltas.
No dia em que ia iniciar o estágio, à saída de um treino, Francisco Laranjeira foi atropelado por um carro e partiu uma perna. O condutor fugiu e nunca foi identificado. Seguiram-se longos e dolorosos tempos de recuperação.
O acidente fez com que o atleta perdesse apoios e visibilidade, algo que também "não foi fácil" de gerir. Mas quando voltou aos treinos, devagar e com cuidado, as coisas começaram a evoluir dentro do possível. No ano seguinte, Francisco voltou a fazer marcas de qualificação e chegou mesmo a participar no Campeonato de Surdos, na Polónia, onde foi vice-campeão europeu nos 5000 e 10.000 metros.
"Foi muito difícil conseguir superar. Só com o apoio do treinador e da minha família consegui avançar, porque senti-me impotente. Foi como levar uma facada. Estava a preparar-me para uma coisa que foi por água abaixo por um segundo."
"Foi, como o Francisco disse, um momento muito complicado. Cheguei a ter dúvidas se ele conseguiria ultrapassar esse período. No próprio dia do acidente estávamos de partida para o estágio final para os Jogos Surdolímpicos e, obviamente, isso deixou marcas profundas", recorda também o treinador João Ferrão, que já na altura acompanhava o jovem atleta para a maior competição internacional de surdos.
Francisco Laranjeira não esconde o "orgulho" em representar Portugal e sente-se mais motivado do que nunca. Há, no entanto, ainda alguns cuidados a ter. Depois do acidente, Francisco opta por fazer alguns dos treinos com o aparelho auditivo, sobretudo quando corre fora da pista. Quando o tira a sensação é de paz: "É um silêncio total. Só eu e a minha mente."
A forma como lida com o som, ou com a ausência dele, estende-se também às competições. E é aí que surgem novos desafios. Como o número de atletas surdos ainda é reduzido em Portugal acabam por competir juntamente com os restantes. "E aí o tiro de partida é para todos, têm de estar com a atenção redobrada", explica o treinador João Ferrão.
Embora os números indiquem que há cem mil portugueses com deficiência auditiva, apenas uma pequena parte chega ao desporto federado, seja por falta de divulgação, de intérpretes, de treinadores preparados ou de apoios adequados.
"Eu acredito que aos poucos vão começar a entrar mais pessoas. O meu trabalho e dos outros colega acaba também por ser mostrar a outras pessoas surdas e fazê-las sentir que têm valor no desporto."
Saímos de Évora e vamos agora até Anadia, em Aveiro, onde se reúnem os 13 atletas que integram a comitiva portuguesa para os Jogos de Tóquio. Aqui, começa-se a perceber melhor como interagem dentro da própria comunidade.
"Não ouvir" parece simples, quase óbvio. Mas não é. Acontece num mundo onde, para muitos, o silêncio ainda assusta e onde também se associa ser surdo ao silêncio.
A sala está barulhenta. Além do som das máquinas de café, ou das portas a bater, há um verdadeiro convívio entre atletas. Uns fazem leitura labial e verbalizam. Outros utilizam língua gestual. Cada um à sua maneira, todos se entendem.
É neste ambiente que tropeçamos em conversa com mais dois atletas da comitiva portuguesa: Joana Santos, judoca com 35 anos, a mais experiente do grupo; e Gustavo Pereira, um jovem de 18 anos, especialista em salto em altura que vai estrear nos Surdolímpicos.

Joana trocou o trocou o maiô pelo quimono e conquistou o primeiro ouro em Taipé, em 2009. Desde então mantém a tradição de conquistar medalhas. Foi prata nos jogos de 2013, em Sófia (Bulgária), bronze em 2017, em Samsun (Turquia), sagrou-se campeã mundial em França, em 2021, e há três anos voltou a conquistar o ouro no Brasil, nos Jogos de Caxias do Sul.
Coincidência ou não, a medalha de campeã mundial em Versalhes foi conquistada no Dia Mundial do Judo (28 de outubro). Há dúvidas de que estava mesmo escrito? A Joana de nove anos, quando fez o primeiro treino de judo, não podia estar mais certa de que é nesta modalidade onde tem valor.
"Sou uma mulher de força! Gosto do desporto, gosto das oportunidades que o desporto me dá e gosto também de ser ativa."
Ao longo do caminho, a judoca cruzou-se com outros grandes nomes, como Telma Monteiro. No dia a dia conta com o apoio do treinador Júlio Marcelino e da parceira de treino Isabel Macedo. Com ajuda de uma intérprete, partilha: "De facto, a competição é um bocadinho diferente da dos ouvintes. (...) Mas é claro que me sinto bem a competir tanto com surdos como com ouvintes, porque dentro daquele espaço somos todos atletas. E não é uma coisa fácil. É uma coisa extremamente difícil e de grande competitividade. Mas eu sinto-me bem."
Conta-nos que, ainda assim, há quem questione como é tudo isto é possível, principalmente sendo surda, e explica: "A única diferença aqui é mesmo a comunicação. Tanto surdos como ouvintes conseguem alcançar as medalhas. É supernatural."
Também para os outros assim é.
"A Joana é a única surda lá. É única e treina como se fosse... Olha, dá tudo."
E todos sabem língua gestual? "Não, parece que isso nem é uma questão lá. Não interessa. Desde que ela fale com calma, repita... Ela mesmo faz questão quando não consegue ir ao telemóvel e mostrar, vai comunicando assim", sublinha a parceira Isabel Macedo.
As regras no judo adaptado são iguais. As diferenças sentem-se essencialmente na arbitragem: ao invés de palavras ou apitos, tudo é feito com gestos. Por exemplo, quando o árbitro dá dois toques no braço direito do atleta, isso quer dizer que a luta deve parar. São ajustes mínimos, sobretudo quando comparados com o fosso que ainda existe entre a visibilidade olímpica, paralímpica e surdolímpica.
Na portaria n.º 332-A/2018, publicada em Diário da República, o Governo estabelece os seguintes prémios:
Jogos Olímpicos e Paralímpicos
- 1.º classificado: 50 mil euros
- 2.º classificado: 30 mil euros
- 3.º classificado: 20 mil euros
Jogos Surdolímpicos
- 1.º classificado: 10 mil euros
- 2.º classificado: quatro mil euros
- 3.º classificado: dois mil euros
"Nós não podemos ignorar que os Jogos Surdolímpicos são o segundo evento multidesportivo mais antigo do planeta. Os jogos realizam-se desde 1924", reforça o presidente do Comité Paralímpico, José Manuel Lourenço, também presente na reunião de atletas, no Centro de Alto Rendimento de Anadia.
"Eles devem trabalhar no sentido de se afirmarem e procurarem a prática desportiva. Isso é algo que não se verifica. Temos poucos atletas surdos e não temos conhecimento que exista uma grande atividade desportiva por parte dos surdos. E isso preocupa porque temos muitos surdos em Portugal. Portanto, significa que eles não estão a ser motivados para a prática desportiva, quer no seio deles, quer da comunidade que os envolve, como nas escolas."
Fazemos agora aqui um parênteses. O que está a falhar? O que é preciso mudar? São algumas das questões que se levantam e que nos responde, António Rosado, professor na Faculdade de Motricidade Humana e especialista em ciências do desporto.
"Temos de normalizar a deficiência auditiva. Eles têm dificuldades, mas nós somos um ser de múltiplas partes e identidades. (...) E de muitas capacidades. Essa parte - que é a de não ouvir, ou de não ouvir bem - é apenas uma parte da pessoa, não a define. O problema é que, muitas vezes, nós etiquetamos as pessoas a partir dessa única parte, desconsiderando todas as outras partes que são excelentes."
Para António Rosado, é preciso que os surdos se sintam "como cidadãos inteiros" e possam viver "plenamente integrados". A sociedade deve deixar as ideias pré-concebidas e procurar aprofundar o conhecimento sobre a surdez, que, hoje em dia, é uma quase não-deficiência.
O desporto deve ser uma forma de inclusão e, por isso, para o professor, "idealmente os Jogos deviam ter todos os atletas que têm níveis de prática de excelência, independentemente da sua diversidade funcional". É certo que é necessário olhar para os dois lados da moeda e que os Surdolímpicos contribuem também para um sentimento de pertença, mas António Rosado acredita que no futuro ainda é possível encontrar soluções que contribuam para uma maior inclusão.
De volta ao Centro de Alto Rendimento de Anadia, saímos agora para o exterior do complexo. À entrada, encontramos Gustavo Pereira, o elemento mais novo da comitiva portuguesa. Apesar de serem 19h30 e os atletas estarem quase para jantar, cá fora o ambiente é mais silencioso, o que permite ao jovem de 18 anos ouvir-nos melhor.
Gustavo apresenta-se como um atleta, um artista e alguém consciente de que é pelo menos preciso tentar para saber se é ou não impossível. Chegou ao atletismo por sugestão de Diana Melo, antiga professora de Educação Física, que o achava "demasiado parado" e o incentivou a entrar na equipa da escola. O que começou como uma "brincadeira" acabou por lhe valer, na altura, uma primeira medalha. "A ela só posso dizer obrigado."
Nos primeiros tempos, competia lado a lado com atletas ouvintes, sem sequer imaginar que existia um circuito Surdolímpico. Essa descoberta só chegou quando conheceu Fonseca Antunes, o treinador que o acompanha hoje. E, mesmo assim, Gustavo nunca deixou que a surdez definisse o atleta. "A diferença está só na competição. Não vejo problema nenhum na minha condição. Não gosto de separar surdos de atletas sem deficiência. Para mim, é tudo competição. O que muda é apenas a comunicação."
Em 2024, deu um passo maior do que o próprio salto em altura que o distingue: conquistou o ouro nos Campeonatos do Mundo de Surdos, em Taipé, no escalão sub-20. O treinador sintetiza o feito com uma imagem que dificilmente passa despercebida: "Ele está para o salto em altura do atletismo português como o Vasco da Gama para os Descobrimentos."
Independentemente dos resultados, há algo que Gustavo e o treinador partilham: a consciência de que o desporto é, acima de tudo, um lugar de crescimento. A estreia nos Surdolímpicos é apenas o primeiro capítulo de um percurso que imaginam longo. "Ainda não tenho aquela esperança de que vou receber uma medalha, mas quero fazer o meu melhor", diz o jovem, com a franqueza de quem sabe que o caminho se constrói passo a passo.
Fonseca Antunes reforça essa ideia. Para ele, estes jogos são um ponto de partida, não de chegada. "O Gustavo Pereira vai aos primeiros jogos da sua carreira. Vamos perceber como estamos face à concorrência. Que estes Jogos de 2025 sejam a aprendizagem para os de 2029. Aí, sim, penso que já iremos com objetivos de chegar à medalha."
A conversa avança e, inevitavelmente, chega ao lugar que o desporto ocupa para quem tem uma deficiência auditiva. É aqui que o treinador faz questão de ser claro sobre as palavras que escolhe e sobre as que rejeita.
"Não gosto de chamar nem desporto adaptado, nem desporto para deficientes. Designo-o como desporto sem limites, porque no fundo é isso que nós também pretendemos. É que indivíduos com handicaps, maiores ou menores, consigam competir e ser atletas de pleno direito e dimensão possível. Eu rasgo e rasguei o slogan que diz "todos diferentes, todos iguais", porque rapidamente vamos perceber que há um diferencial e que esse diferencial, por falta de apoio ou capacidade, leva-nos a desistir. Eu prefiro "todos diferentes, todos importantes"."
De volta ao interior do Complexo, os atletas preparam-se para começar a jantar. Antes de irmos embora, há dois momentos que nos captam a atenção. Todos se apoiam, convivem e há um verdadeiro espírito de seleção. Humor também não falta, há um atleta que até atira: "Não ouvir às vezes até é um alívio. Não tenho de ouvir as pessoas no autocarro." Outro que responde: "Eu adoro, é tão confortável. Imagina não ter de ouvir o exautor em casa a funciona."
É neste ambiente que voltamos a encontrar Joana Santos, desta vez ao lado dos mais novos, e lhe perguntámos como é que a sua experiência podia ser uma mais-valia para quem ainda está a começar. A resposta é novamente típica de campeã: "Temos vários estilos de atletas. Há aqueles que ficam mais ansiosos e gostam de algumas palavras de alento. Outros gostam muito mais de estar no seu espaço. Mas a verdade é que, enquanto modelo para esses jovens, seria muito importante poder também incentivar e não os deixar desistir naqueles momentos mais difíceis e que nem sempre correm bem. O importante é que os erros que acontecem hoje possam ser amanhã retificados. Não podemos desistir, estamos a representar Portugal."
A Missão Portuguesa é composta por 13 atletas nos Jogos Surdolímpicos, que vão decorrer em Tóquio, no Japão, entre 15 e 26 de novembro.
Além de Margarida Silva, Francisco Laranjeira e Gustavo Pereira, integram no atletismo Hemilton Costa, Margarida Silva e Ricardo Gomes.
A natação, outra das modalidades mais representadas, conta com Diogo Neves, Miguel Cruz, Ricardo Belezas e Tiago Neves. Eles também estão prontos para representar Portugal nos Jogos Surdolímpicos.
"Estes quatro anos de treinos têm sido muito intensos. Sinto-me muito entusiasmado, vou dar o meu máximo aqui em Tóquio. (...) Assim que foram aprovados os 13 atletas, para mim foi um sinal de esperança. Portanto, depois vos direi, mas eu acredito que é o meu número da sorte", afirmou Miguel Cruz, em declarações ao Comité Paralímpico.
No ciclismo, André Soares, que conquistou duas medalhas na última edição da competição disputada em Caxias do Sul, no Brasil, em 2022, e João Marques vão defender as cores nacionais, enquanto no judo marcará presença Joana Santos.
Nuno Esteves será o representante nacional no tiro, na maior competição mundial para a deficiência auditiva.
A missão portuguesa, chefiada por Susana Lourenço, é constituída por um total de 36 elementos entre atletas, treinadores, parceiros de competição, equipa médica, e uma intérprete de língua gestual portuguesa.
Os Jogos Surdolímpicos Tóquio2025 marcam o centenário desta competição multidesportiva. Tóquio acolherá aproximadamente três mil atletas de cerca de 80 países, que competirão em 21 modalidades distribuídas por 17 arenas.
Portugal somará a sua nona participação em Jogos Surdolímpicos, competição na qual já conquistou 17 medalhas.
