Analisando a época que agora acaba, o comentador da TSF, João Rosado, destaca o papel de um Vieira. E talvez não seja esse que está a pensar.
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A vitória não dorme sozinha no futebol. Tem todos os dias pretendentes a um casamento para balançar as redes sociais e para deixar escrito quem tem direito aos louros da história. Vieira sabe há muito tempo que nunca estaria sozinho na corrida para o altar da fama e talvez por isso se tivesse esforçado mais. Aliás, seria sempre preciso dar muito mais que os outros para fazer a terra engolir a imagem de um homem que nunca se entregou a um só clube na vida.
A fidelidade era a sua primeira e obrigatória conquista, mas também estava longe de ser a única. Pateticamente, reconheça-se, a partir do momento em que fosse aceite por tudo e por todos teria de perder a compostura habitual, deslizar da posição quase sempre à sombra e abdicar do conforto de uma carreira consagrada aos bastidores.
Ser o último recurso ou o primeiro nome em caso de necessidade oferecia um lugar na fila da frente em qualquer igreja, mas já não chegava para fazer acreditar os crentes na "Catedral da Luz", retocada ano após ano.
Vieira, ele próprio, sentiu na carne a dureza das empreitadas que lhe esculpiram um perfil porventura irreconhecível. Os saltos para a ribalta até o obrigaram, em certos momentos, a usar máscara e nos jogos em casa quem esteve na tribuna presidencial ficou com a sensação de que a mudança no rosto tinha a ver com uma mudança em tudo o resto.
Fora de campo e noutros estádios, a estrutura encontrava motivos para celebrar ou não tivesse o maior adversário desde os anos 80 "conseguido" terminar o campeonato com o mesmo número de empates que o fantasmagórico "lanterna-vermelha".
E as semelhanças entre o primeiro dos últimos e o último dos primeiros não se ficaram por aí. Tal como o Penafiel, no quadro dos seus sete empates, o FC Porto foi incapaz de ganhar a Vitória de Guimarães, Boavista, Belenenses e... Estoril, precisamente a equipa que em Portugal acolheu Vieira quando este resolveu fazer uma das suas várias travessias do Atlântico.
Admite-se que essa terá sido a original, mas há razões para pensar que a mais prolongada só terminou quando no terceiro minuto de descontos Vieira marcou ao Sporting o golo do título. No dérbi eterno, aos 90+3, um Jardel de encarnado festejou em Alvalade, e nas redes de Rui Patrício terá baloiçado a palavra traição.
Indiferente aos apupos, Jardel, de apelido Vieira, festejou exuberantemente e soube logo nesse instante que não poderia ter escolhido melhor palco para aqueles que lhe pediam uma prova de fidelidade. Talvez por isso, nessa noite com sabor a vitória, não dormiu.
#João Rosado será um dos participantes do "Jogo Jogado" Especial de hoje, na TSF, entre as 18h00 e 20h00.