Onde começou o futebol, o primeiro "verão quente" e as luvas pretas do avô Alves
Francisco Pinheiro, investigador e historiador da Universidade de Coimbra, é o novo convidado do "Entrelinhas". A viagem é longa, dos primeiros tempos do futebol português aos jornais desportivos e ao verbo musculado, como hoje em dia.
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Estudar, investigar e escrever sobre a história do futebol português. É esta a vida de Francisco Pinheiro, jornalista e doutorado em História, o novo convidado do Entrelinhas, um programa conduzido por João Ricardo Pateiro, que vai para o ar às quartas-feiras depois das 20 horas. Veja aqui os outros Entrelinhas.
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Com 11 livros já publicados, o investigador e historiador da Universidade de Coimbra conta agora algumas histórias nas quais foi tropeçando, como a de Artur José Pereira, que trocou o Benfica pelo Sporting, esboçando um primeiro "verão quente", porque lhe ofereceram dinheiro e... uma banheira de água quente. "Foi um jogador extremamente importante da década de 10".
As luvas pretas de João Alves, lembra-se?, são como o apelido: passaram de geração em geração naquela família. Tinham bagagem, um "ontem". João prestou homenagem ao avô, Carlos. "Ele era o central do Carcavelinhos, em 1927, quando é campeão de Portugal. Ele conta uma história interessante, que é no jogo contra o Benfica. Há uma menina que se apaixona por ele, gosta muito dele -- ele tocava guitarra, era um homem extremamente bonito --, e dá-lhe umas luvas de licra pretas para lhe dar sorte durante o jogo contra o Benfica. O jogo corre muito mal. Ao intervalo estão a perder, creio que por 3-0, e o Carlos Alves, quando vai ao balneário, calças as luvas pretas durante a segunda parte e o Carcavelinhos dá a volta ao resultado. Depois acaba por ser campeão de Portugal. A partir desse momento usa sempre as luvas pretas porque lhe dão sorte..."
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"A nossa essência do futebol português começa ali em finais do século XIX", conta Francisco Pinheiro. "Nós, historiadores, atribuímos isso a outubro de 1888, em que um grupo de portugueses, juntamente com um ou outro inglês, começou a jogar futebol em Cascais. (...) Onde é que o futebol ganha a sua dimensão nacional? É precisamente pela parte emocional, o surgimento dos três grandes na primeira década do século XX." O jornalismo desportivo produzido entre 1875 e 2000 intriga este historiador: "É verdadeiramente impressionante. Tivemos uma longa tradição de jornalismo desportivo a nível local e regional".
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Esta conversa leva-nos numa viagem aos primórdios do futebol português, passando pelo discurso mais musculado e menos simpático, que se observa hoje e já se ouvia em 1910, visitando a história dos jornais desportivos. O ataque de sonho que magica na mente deste historiador conta com Peyroteo, Eusébio e Cristiano Ronaldo. O melhor de sempre, para Pinheiro, é Eusébio, que tem outro peso por ter feito carreira por terras lusitanas. "Se pudéssemos ter no mesmo período histórico Eusébio e Peyroteo... Provavelmente estarão no céu a jogar juntos, a deliciar Deus com o seu futebol." Pinheiro junta a este lote ainda Cristiano Ronaldo e Luís Figo.
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