"Os adeptos do Al Ahly vivem o futebol com uma intensidade tremenda. Eu não podia andar na rua"
Aclamado quase como um faraó da 'Nova Civilização' do Egito, Manuel José esteve em quatro edições do Mundial de Clubes pelo Al Ahly, o próximo adversário do FC Porto
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Manuel José recorda a "loucura" com que os adeptos do Al Ahly vivem o futebol e as implicações que isso teve na forma como (não) se movia pelas ruas do Cairo, no Egipto. Em entrevista à TSF, o antigo treinador dos egípcios traça o perfil do emblema que enfrenta o FC Porto na última jornada da fase de grupos da competição internacional.
O técnico português foi o primeiro a levar o Al Ahly ao Mundial de Clubes, em 2005. Na estreia não passou do sexto lugar, mas, no ano seguinte, conseguiu o terceiro posto. "Quando chegamos ao Egito, ao aeroporto, parecia que tínhamos sido campeões mundiais. Foi uma coisa louca. Em vez de fazer a viagem do aeroporto para o centro de treinos em 20 minutos, demoramos três horas. Tinha gente em todo o lado", conta.
O fervor dos egípcios era sentido à chegada e à partida. Manuel José disputou mais duas vezes o Mundial de Clubes — sexto classificado em 2008 e quarto em 2012 — e enaltece que, na véspera da viagem para disputar a prova, "o campo de treinos estava sempre cheio, com 10 a 12 mil pessoas". Em oito anos no Al Ahly, divididos por três períodos, conquistou 20 títulos, incluindo seis campeonatos do Egito e quatro Ligas dos Campeões de África. Manuel José conheceu o preço da fama.
Os adeptos vivem o clube com uma intensidade tremenda. Eu não podia andar na rua [caso contrário, era sempre interpelado]. Então quando apareceram os telemóveis, ficou muito pior. Eu vivia num hotel com a minha mulher e a minha vida tinha de ser confinada ao clube e ao hotel
Para Manuel José, o Al Ahly é "o melhor clube de África e do Médio Oriente, de longe", embora considere que agora "não tenha o talento individual" de outros tempos. "Na minha altura tinha uma equipa de estrelas, com cinco ou seis atletas com capacidade para jogar no Benfica, no Sporting ou no Porto", vinca, assinalando que, do atual plantel, apenas trabalhou com Mohamed El Shenawy, agora com 36 anos, capitão e guarda-redes titular.
Manuel José culpa Pinto da Costa pelo estado a que o FC Porto chegou
O técnico português acredita que o Al Ahly vai tentar "agigantar-se" e "tirar partido" de um FC Porto "altamente fragilizado". Para Manuel José, esta é "a pior equipa portista" que viu. "Não me lembro de ver uma equipa tão ruim como esta [...] Esta equipa não tem nível para ser campeã nacional nem para estar no Mundial de Clubes", atira.
No seu entender, o treinador, Martín Anselmi, e o presidente, André Villas-Boas, são "os menos culpados". "O Porto teve de transferir os dois melhores jogadores da equipa em janeiro [Nico González e Wenderson Galeno], com a necessidade de fazer dinheiro porque o clube estava quase na falência. A direção antiga é a culpada de tudo isto", assinala, criticando a gestão de Pinto da Costa.
Apesar de conhecer bem o FC Porto e de manter o contacto com pessoas ligadas ao Al Ahly, Manuel José recusa-se a dar informações privilegiadas ao seu antigo clube: "Eu sou português. Apesar do carinho que tenho pelo Al Ahly, nunca faria uma coisa dessas."
O FC Porto defronta o Al Ahly, na madrugada de terça-feira, às 02h00, em East Rutherford, em Nova Jérsia, nos Estados Unidos da América, na última jornada do Grupo A do Mundial de Clubes.
Para seguir para os oitavos de final, os dragões têm de vencer, esperar que o Palmeiras perca com o Inter Miami e ainda recuperar de uma diferença de três golos em relação aos brasileiros. Já os egípcios precisam de um cenário inverso: ganhar, aguardar que o Inter Miami seja derrotado e abater uma diferença de três golos comparativamente aos norte-americanos.
