George Papandreou, ex-primeiro-ministro da Grécia, Caitlyn Jenner e Allison Wagner, atletas olímpicas medalhadas, discutiram o estado dos JO e os desafios para estes recuperarem os valores.
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Uma das primeiras sessões desta quinta-feira refletiu sobre a marca Jogos Olímpicos e o quanto se terá deteriorado nos últimos tempos. A discussão teve como protagonistas George Papandreou, ex-primeiro-ministro da Grécia, Caitlyn Jenner e Allison Wagner. Enquanto o primeiro esteve intimamente ligado ao evento de Atenas 2004, as duas últimas foram atletas olímpicas medalhadas (1976 e 1996, respetivamente).
Os três estavam de acordo numa coisa: a marca está mais fraca, mais exposta. Há que fazer algo para inverter o rumo dos acontecimentos. Wagner, que perdeu em 96 para um atleta dopada (amanhã a TSF publica entrevista com a ex-nadadora norte-americana), diz que deveria haver mais controlo e que deveria ser criada uma entidade independente do Comité Olímpico Internacional. Jenner diz que se perdeu a inocência, o amadorismo. Caitlyn, que venceu o ouro em decatlo enquanto Bruce Jenner, considera que o dinheiro trouxe um lado perverso do desporto.
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"A marca tem problemas. Queremos voltar aos básicos, era um projeto de paz. Não era só desporto. Queremos voltar aos verdadeiros valores, à competição pacífica. Desejamos a celebração da Humanidade, trazendo paz ao planeta", diz Papandreou.
Já Allison agarrou-se ao que viveu há quase 20 anos. "Em 96 competi contra uma atleta que, soube-se depois, estava dopada. Competi contra muitas atletas dopadas. A minha vida sofreu impacto, mudou drasticamente por isto. Foi injusto." E insiste: "Os Olímpicos são uma marca, são uma demonstração de performance humana. É uma grande marca. O doping não lhe fica bem..."
Já Caitlyn Jenner, orgulhosa dos seus feitos desportivos, lembrou que o desporto olímpico mudou em 76: "Os Jogos de Montreal foram os últimos em que houve amadorismo. Era mais puro. Eu gostava disso. Depois entrou muito dinheiro e perdeu-se a essência", alerta. "Não há resposta fácil, mas temos de limpar isto. Há muito trabalho a fazer. Os Jogos têm o maior potencial para fazer o bem. Temos de preservar isso."
O ex-primeiro-ministro grego gostou do que ouviu. "Isto é a única coisa que pode criar uma cultura comum. Temos de ter uma maneira de o comunicar. Os Jogos servem para treinar pessoas, não só fisicamente, mas para as leis também, para a justiça competitiva, para a maneira como se persegue a excelência."
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Enquanto Caitlyn acredita que o comité olímpico tudo faz para garantir a seriedade e justiça dos JO, Allison discordou e questionou o controlo no último verão, no Rio de Janeiro, lembrando ainda as atletas russas apanhadas nas malhas da batotice.
-- Não estou segura disso. (...) Não há desculpa para metade dos atletas no Rio de Janeiro não terem sido controlados. (...) Nós estamos ali a ser controlados, sem roupa, nus, não era suposto [como em 96] uma nadadora meter whiskey na sua urina...
-- Ela meteu whiskey!?
-- Sim.
-- Uau...
Caitlyn estava surpreendida com a forma como Michele Smith, uma nadadora irlandesa, enganou as autoridades e conquistou a medalha de ouro em 96. Apesar de ter sido apanhada e suspensa, dois anos depois, nunca perdeu a medalha de ouro.
"Penso que os Jogos perderam ao tornarem-se tão grandes. Perdeu a sua inocência. Temos de recuperar a inocência", avisa Jenner.