Reportagem TSF. Paixão pelo basquetebol leva atleta paraplégico a fazer 2000 quilómetros por mês
Uma verdadeira lição de vida. Um transmontano de 33 anos, paraplégico, que teima em quebrar todas as barreiras para poder desfrutar de uma paixão. Há uma década, todos os meses, pega na viatura e faz mais de dois mil quilómetros, entre Mirandela e Paredes, no distrito do Porto, porque no seu distrito (Bragança) não tem clubes a competir.
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Paulo Araújo é natural de Contins, concelho de Mirandela, nasceu, há 33 anos, com uma deficiência motora grave, resultante de uma doença congénita, chamada espinha bífida. Paulo Araújo já foi submetido a 19 intervenções cirúrgicas para tentar aumentar o seu grau de mobilidade. Atualmente tem 90 por cento de incapacidade.
Mas isso nunca foi motivo para esmorecer e sempre quis ser o mais autónomo possível. Começou a praticar basquetebol em cadeira de rodas, com 11 anos, incentivado por um amigo que praticava a modalidade.
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Como não havia competição, em Mirandela, procurou outras paragens representando associações de Bragança, Chaves e Vila Pouca de Aguiar, até que, em 2012, surgiu a oportunidade de ingressar na equipa da Associação Portuguesa de Deficientes de Paredes, no Porto, onde ainda se mantém. Paulo admite que não tem sido fácil manter esta paixão, porque os custos são enormes e os apoios escassos. Paredes fica a mais de 130 quilómetros de distância e tem de fazer essa viagem, ida e volta, pelo menos duas vezes por semana, mais os jogos que tem ao fim de semana. Feitas as contas, passa dos 2 mil quilómetros por mês. "Continua a não haver verbas para a modalidade, não há patrocínios, tenho alguns pessoais, mas que não chegam para as despesas. É mesmo o gosto e paixão pelo basquetebol que não me permite desistir", refere o mirandelense que agora tem uma nova cadeira para competir fruto de uma comparticipação da Associação de Basquetebol de Bragança e do Município de Mirandela.
Paulo Araújo admite que só mesmo uma grande paixão pela modalidade é que o ajuda a superar o desgaste de uma década de constantes deslocações e mais complicado se tornou, desde 2018, altura em que começou a trabalhar como operador de call center. "Muitas vezes saio tarde do trabalho, depois vou equipar à pressa, arranco para Paredes e depois chegar à meia-noite, ou uma da manhã a casa e no dia seguinte de manhã ter de voltar ao trabalho já começa a pesar", admite.
Paulo garante que praticar desporto tem sido um fator de motivação. "Não há barreiras para o desporto, vou sempre praticar, porque faz bem à minha parte física. Se estiver duas semanas sem treinar, para mim já é uma autêntica doença e já me custa mais a tirar a cadeira do carro e fazer as transferências".
No fundo, Paulo quer ser um exemplo para quem tem problemas de mobilidade. "Para mim, desistir e nunca são duas palavras que não existem", garante.
Diga-se que Paulo Araújo acaba de se sagrar campeão nacional da Divisão de Honra - segundo escalão do basquetebol em cadeiras de rodas - com a camisola da APD Paredes, clube onde é treinador-jogador. É também o primeiro título do clube que representa há dez anos.
