Pensou em desistir, mas filha não deixou. João Neto já fez maratonas em todo o mundo
João Neto cumpriu, no início de 2019, sete maratonas, em sete continentes, em sete dias, e com condições muito adversas. A proeza levou a Câmara Municipal de Lisboa a homenagear o atleta, mas o maratonista promete não ficar por aqui e já prepara um novo desafio.
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Já pensou correr sete maratonas ou viajar sessenta e cinco horas de avião numa semana? Parece uma missão impossível, um esforço sobre-humano, mas não para João Neto, que logrou cumprir tudo isto em apenas sete dias, mas não foi o único desafio que este empresário de 53 anos superou.
Pouco passa das 11h00 quando João Neto chega ao local combinado. Vem, como não podia deixar de ser, a correr. Um treino ligeiro para quem em sete dias dormiu "em média 3 ou 4 horas por dia" e correu 295 quilómetros. Mas a corrida "até nem foi o mais difícil".
"As deslocações constantes entre aeroportos - que nem sei bem onde ficam - as horas de voo, com escalas para reabastecimento e trocas de tripulação (mudavam os pilotos, mas os atletas eram os mesmos), dormir apenas sentado no avião, as mudanças de temperatura - no dia 31 de janeiro corri na Antártida e no dia 1 de fevereiro estava a correr sob o verão sul-africano - tudo isso acabou por ser mais duro e por vezes pensei mesmo que na ia conseguir terminar o desafio", contou o ultramaratonista à TSF.
A primeira maratona foi no dia 31 de janeiro na Antártida, no dia seguinte seguiu-se a Cidade do Cabo, em África do Sul, a 2 de fevereiro foi a vez da prova de Perth, na Austrália. A prova do Dubai foi disputada a 3 de fevereiro e no dia seguinte os atletas chegaram a Madrid para aquela que "foi a prova mais dura", 5 de fevereiro foi dia de corrida noturna em Santiago do Chile e o desafio terminou a 6 de fevereiro nos Estados Unidos com a maratona de Miami.
A preparação para um desafio desta natureza não é simples, mas a deste atleta amador que, para simular os 30 graus negativos da Antártida recorreu às câmaras de ultracongelados de um supermercado na Ericeira, um espaço com quatro metros quadrados o que também ajudou na preparação psicológica, conheceu episódios particularmente dramáticos.
Correr com uma hérnia
Em junho, João Neto viu ser-lhe diagnosticado um melanoma na perna esquerda, a cirurgia a que foi submetido obrigou-o a abandonar os treinos durante várias semanas. Para recuperar os treinos perdidos, o atleta teve de aumentar a carga de esforço e a seis semanas do início do desafio, como consequência desse aumento, surgiu uma hérnia inguinal que foi debelada depois de corridas as maratonas.
"Era impossível ser operado e recuperar a tempo das provas, por isso comprei uma espécie de cinto ortopédico para minimizar o desconforto e tive que fazer as maratonas com a hérnia." Os cuidados com a hérnia levaram a que começasse a prova de Miami com mais de quatro minutos de atraso em relação aos restantes concorrentes, ainda assim a tempo 'arrancar' um 14.º lugar na geral.
Antes deste desafio, o empresário que começou a correr há cinco anos já tinha completado a "World Marathon Majors", que consiste em fazer as maratonas de Chicago, Londres, Boston, Nova Iorque, Berlim e Tóquio em apenas dois anos e também completou as maratonas do Polo Norte e Antártida.
Uma sopa e meia maratona
João Neto correu 28 maratonas nos últimos três anos, talvez por isso a maratona de estrada já o "aborreça",diz. O dia-a-dia não é fácil, "levar os filhos à escola, reuniões de trabalho, nadar durante a hora de almoço, enfim, não é fácil" e acrescenta por vezes, à noite, come uma sopa e vai correr meia maratona.
É certo que a preparação não é fácil, mas João conta com uma ajuda "preciosa", a filha Mariana, "que também já é uma maratonista". Quando um dia, "o único em que isso aconteceu", quase no final de um treino de 25 quilómetros, João pensou "o que é que eu estou aqui a fazer? Vou mas é para junto da família", decidiu abandonar a preparação, mas não foram palavras de conforto as que encontrou ao chegar a casa: "A Mariana, que estava a almoçar, deixou cair os talheres e repreendeu-me por ter desistido do treino", acrescentando que a filha quase o "obrigou a completar os quilómetros em falta no treino. Dá-me muito alento e ajuda-me a preparar os treinos".
Apesar das limitações motoras e visuais, Mariana também já correu "algumas provas de cinco e dez quilómetros" e também já cumpriu uma maratona: "Um dia comprei uma cadeira de rodas (a Mariana não usa cadeira de rodas no seu quotidiano, mas com os seus problemas de motricidade só assim é possível participar na maratona) e corremos uma maratona juntos, comigo a empurrar a cadeira. Foi outra ultramaratona."
Para o próximo ano, João Neto já pensa na ultramaratona do Evereste. Uma prova de 60 quilómetros disputada a mais de cinco mil metros de altitude. "Estava inscrito para este ano, mas na data da corrida ainda estava a recuperar da operação à hérnia. É a prova mais dura do Mundo? Não sei, mas é seguramente a mais alta."
João Neto é homenageado, esta quarta-feira, pela Câmara Municipal de Lisboa.