Em entrevista à TSF, o médio do Estoril fala do regresso a Portugal, admite que gostava de jogar com Vitinha, deixa elogios a Bruno Lage e prevê o que pode acontecer no Bragança-Braga
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Foi numa das salas de reuniões do Estoril que a TSF foi recebida por Pizzi. Com vista panorâmica para o Estádio António Coimbra da Mota, o médio do Estoril fez uma reflexão em relação ao passado, presente e futuro. De sorriso no rosto e um olhar interessado, mesmo que aos 36 anos já tenha dado horas e horas de entrevista, Pizzi falou com a TSF.
O jogador de Trás-os-Montes, que esteve no ano passado a jogar no Chipre, faz um balanço do regresso a Portugal e daquilo que quer para o futuro, revela que gostava de estar na seleção para jogar com Vitinha e desvenda um pouco do que pode ser o Bragança-Braga, o jogo da Taça de Portugal que reúne dois clubes tão queridos ao médio.
Regressou a Portugal, regressou ao Estoril. Começamos por aí, o que é que o atraiu neste projeto do Estoril para escolher para regressar a Portugal?
O meu objetivo desde o início era regressar a Portugal, também para estar mais tranquilo e com os meus por perto. E quando surgiu a oportunidade do Estoril não pensei duas vezes, porque é um clube que está, como toda a gente sabe, em crescimento, um clube com pessoas muito boas a trabalhar, que quer crescer, quer evoluir como equipa, como clube. E foi isso que me agradou e que me encheu as medidas, vir para aqui, lutar por coisas bonitas, por ganhar jogos, futebol positivo.
Tem 36 anos, feitos recentemente, mas o que é que ainda se aprende no futebol?
Sim, há sempre coisas para aprender. Eu próprio ainda aprendo agora com os miúdos e com os mais jovens. Acho que, para quem está no mundo do futebol, a aprendizagem é diária, com os treinos, com os jogos, com o balneário, com tudo o que é a envolvência do futebol e eu estou aqui para ser mais um a ajudar, seja dentro ou fora do campo. Acho que com a minha experiência, com as passagens que eu já tive por vários clubes, várias dimensões diferentes, tenho a experiência e o conhecimento para poder ajudar, seja dentro ou fora do campo.
E dentro de campo há diferenças agora com os anos a passar em relação àquilo que pode dar ao jogo? Sente diferenças na maneira como olha para o jogo nesta altura?
Já não sou o mesmo jogador de quando tinha 25 anos. Acho que com o passar da idade perdemos, se calhar, características em que eu era melhor há uns tempos, mas acho que evoluo noutras, no conhecer o jogo, no entendimento do jogo, no posicionamento, na questão tática.
O Ian Cathro é um treinador que já deixou alguns momentos marcantes no futebol português, seja por coisas que diz nas flashs, nas conferências de imprensa, tem uma personalidade caricata. O Pizzi já teve alguns treinadores também com uma personalidade deste género. Entra para essa lista de treinadores?
Tem sido um treinador que me tem surpreendido muito, primeiro pelo português que apresenta, depois pela qualidade como treinador e como pessoa. Acho que é cativante trabalhar com ele todos os dias porque quer sempre mais, quer evoluir sempre mais. É um treinador muito exigente, muito competitivo. Obviamente que os resultados neste início de época não têm sido condizentes com a nossa qualidade e com a qualidade também da equipa técnica, mas acho que todos nós somos muito felizardos por termos aqui o primeiro mister porque acredito que em breve vai estar em patamares mais superiores.
E olhando para o futuro, não querendo já pôr um fim à sua carreira, que ainda tem o tempo para decidir, mas olhando para Artur Morais como dirigente, onde é que o Pizzi se vê? Que papel é que lhe assenta melhor?
Claro que com o passar do tempo temos de sempre pensar no mais à frente e no futuro. E sim, já tenho bem definido aquilo que eu quero, quero ficar ligado ao futebol, seja na área que for, quero continuar ligado ao futebol, mas isso depois vemos mais à frente. O importante agora é o futebol e é dentro do campo.
Tem outro médio na Liga com quem também já jogou, o João Moutinho. Vocês vão conversando, estão a ver quem é que continua mais o tempo no ativo?
Por acaso, curioso, ainda jantei com ele há dois dias, por isso, o João Moutinho é um craque em todos os aspetos, seja como pessoa, seja como jogador. Com ele aprendi muito desde os tempos da seleção, agora no Braga ultimamente, é um jogador que dá sempre o máximo, muito, muito competitivo, chato e competitivo. Acho que o João, pelas características, pela sua maneira de jogar, acredito que consiga jogar muitos mais anos, porque basicamente o futebol dele está na cabeça e a cabeça comanda o resto e ele é um fenómeno. Eu, obviamente, em posições ligeiramente diferentes no campo, mas, sim, é até onde o corpo conseguir aguentar, porque continuo a ter muita paixão pelo que é o treino, pelo que é o jogo, por vir trabalhar todos os dias, por ser competitivo todos os dias. Não consigo limitar-me aqui num espaço para terminar a carreira, quero desfrutar o meu dia a dia e ajudar o Estoril a conquistar ainda mais pontos.
Falou da seleção nacional, estamos a falar numa altura em que há essa paragem para as seleções, o Pizzi foi internacional português… Fala-se muito do que aí vem, do Mundial, olha para esta geração com essa capacidade de conquistar - com uma expressão que tem sido utilizada muito nos últimos dias - “o que ainda não foi feito”?
Sim, eu acho que temos todas as condições, temos um leque de 30, 35 jogadores muito bons que podem estar a qualquer momento e entrar a qualquer momento na seleção. Acho que agora, dos convocados, têm todos uma qualidade enorme, jogam todos em grandes clubes europeus, estão a conquistar títulos lá fora, outros aqui dentro também com muita qualidade e acho que é, sem dúvida, neste momento, uma das melhores gerações, se não a melhor que Portugal já teve. Acredito que o futuro será risonho e, claro, toda a gente gostava e todos os portugueses gostavam que ganhássemos o Mundial no próximo ano.
E olhando para essa qualidade, há ali algum, ou dois, ou três jogadores que olha e pensa: 'Eu gostava de estar ali naquele grupo para jogar com eles'?
Tive oportunidade de jogar com a maioria deles, obviamente que agora esta nova geração que chegou, o Vitinha, o João Neves, também só tive oportunidade de treinar com ele, mas, sim, acho que destes que estão a geração mais recente. Gostava de jogar com o Vitinha porque é um jogador que entende muito bem o jogo e que faz tudo bem dentro do campo, não tive oportunidade de jogar com ele. De resto, acho que já tive a oportunidade de jogar com quase todos e não é só o Vitinha, acho que temos uma seleção excelente que pode dar muito boa resposta em todas as competições.
O Pizzi é um dos jogadores mais experientes do nosso campeonato, como é que olha para o desenrolar deste campeonato para os três grandes, o que é que se pode esperar para maio?
O campeonato está muito equilibrado na parte de cima, acho que os três grandes reforçaram-se muito bem, com jogadores de muita qualidade, três excelentes treinadores que já demonstraram toda a sua capacidade, acho que vai ser um campeonato muito competitivo até ao final, com equipas a perder bastantes pontos, também com as equipas ditas mais pequenas, porque cada vez há equipas mais pequenas, com mais qualidade e com mais jogadores para disposição para jogar e para ter bola. Vão ser jogos mais difíceis contra as equipas pequenas e o que queremos obviamente é eles chegarem ainda mais lá acima e estar na luta pelos dez primeiros.
Foi capitão do Benfica muitos anos ao serviço do Benfica, estamos numa altura de várias mudanças no clube, não lhe vou perguntar em quem iria votar nas eleições, mas houve uma alteração de treinadores recente. O Pizzi esteve na primeira passagem de Bruno Lage, também nessa saída… como vê esta segunda saída?
O futebol vive de resultados e, quando a equipa não ganha, o primeiro a sofrer acaba sempre por ser o treinador, faz parte, é o mundo em que estamos. Gosto muito do mister Bruno Lage, foi um treinador que me ajudou muito em muitos momentos, foi com ele que fiz as melhores épocas da minha vida. Quando não se ganha, as pessoas optam por mudar e como treinadores que eles são já têm de estar habituados a isso e certamente ele agora vai ter novos desafios pela frente e estará preparado para voltar a dar fruto e continuar a fazer bons trabalhos.
E agora, quando confrontar o Benfica, já será com José Mourinho no banco, como adversário. Como é que se pode preparar as equipas e também os jogadores mais jovens, tendo como adversário um dos treinadores mais conceituados do mundo? Isso pode pesar em campo?
Não, eu acho que não, acho que nós, jogadores, aquilo que pensamos é dentro do campo e o rival que vamos ter pela frente, a oposição que vamos ter e os jogadores da nossa posição. Quem está no banco ou quem deixa de estar não influencia muito na nossa dinâmica dentro do campo, sabemos todos que o mister José Mourinho é, se calhar, o melhor treinador de sempre que tivemos em Portugal, mas o que queremos é ganhar, seja com o mister Mourinho, seja com outro mister qualquer.
Na Taça de Portugal, vamos ter um Bragança-Braga, que é um jogo que acredito que lhe diga alguma coisa especial, fez a formação no Bragança, também foi jogador do Braga. Qual foi a sensação de ver esse sorteio acontecer?
Fiquei muito feliz, porque acho que a região de Bragança e Trás-os-Montes merece mais destes jogos, é uma região que obviamente não tem acesso a este tipo de jogos regularmente e fiquei muito feliz, primeiro porque tenho lá alguns amigos no Bragança a jogar e sei que eles precisam destes jogos também para estar melhor financeiramente, para o clube crescer, para o clube aparecer, para se mostrarem e foi uma felicidade enorme, obviamente que são dois clubes muito importantes e muito especiais para mim e espero que seja um bom jogo, que as pessoas de Bragança se divirtam muito com toda a festa que acaba por ser a Taça de Portugal e que no final vença o melhor.
E há alguns jogadores do Bragança que se devem ter debaixo de olho?
Há vários, há dois ou três que são bons jogadores para o nível que estão ou até para um nível superior. Gosto muito de dois jogadores em especial que é o Dani Pires e o Francisco Vitorino, o Kika. Vamos ver, espero que façam um bom jogo e que no final seja uma bonita festa para todos.
Acha que, no Bragança, poderá haver um desenvolvimento do clube ao nível de outros clubes mais pequenos? Temos visto, nos últimos anos, a chegar a fases mais adiantadas da Taça de Portugal...
Sim, isso seria ótimo, mas para toda a região de Trás-os-Montes, para o distrito de Bragança, acho que acaba por ser um momento muito bonito. Recordo-me, quando tinha 16 anos e jogava pelos seniores do Bragança, nós jogámos os quartos de final da Taça contra o Belenenses do mister Jorge Jesus naquela altura e foi uma festa enorme para todas as pessoas que foram ao estádio. Para nós, jogadores, é um momento muito especial e certamente agora nesta eliminatória da Taça vai ser muito, muito especial para todos os jogadores de Bragança, para os dirigentes, para os adeptos e que seja uma linda festa.
