Neste dia de jogo entre Portugal e França, um dos portugueses com o coração mais dividido do país está em Trás-os-Montes.
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Nasceu às portas de Paris e com seis anos veio para Portugal. Esteve em África e no Brasil, onde fez vida. Sempre teve uma paixão pela bola. Ainda hoje se emociona ao ouvir a Marselhesa, mas também se arrepia ao escutar o hino português. Sofre pelos dois e hoje o que mais gostava é que a taça fosse dividida por Portugal e França.
Aos 84 anos, o mundo de António Afonso ou Antoninho Varandas como também é conhecido, é a aldeia de Paçó de Rio Frio em Bragança. "Nasci às portas de Clignancourt, em Paris. Tinha seis anos quando vim para cá. Foi em 1937".
Fugiu da segunda grande guerra com os pais. Fez a tropa em Portugal e foi trabalhar para Angola. Em 1962 fugiu da guerra de ultramar. Foi para o Brasil. Fez-se empresário em São Paulo. E lembra-se bem daquele campeonato dividido por duas equipas do seu coração.
"Eu gostava que acontecesse o que aconteceu uma vez no Brasil. Eu era louco pela Portuguesa dos Desportos e depois apareceu o Santos, do Pelé. Jogaram a final do campeonato no Morumbi. A Portuguesa tinha menos dois pontos que o Santos. A Portuguesa marcou um golo mas anularam-no. Depois voltaram atrás com a decisão. Resultado, deram para os dois o campeonato", conta.
E era assim que gostava que fosse hoje, "Não pode ser mas eu gostaria... Olhe se perde a França fico triste, se perder Portugal também fico triste".
E quando ouve o hino francês, António Afonso diz que "o coração se "abre". E acrescenta, " a minha terra é esta! É esta a minha terra!" Mas o mesmo se passa quando escuta o português. "Também mexe comigo, não há dúvida nenhuma. É por isso que eu gostava que fosse dividido".
António Afonso conhece os jogadores franceses e tem opinião bem formada sobre alguns portugueses. " O Ronaldo, acho-o muito 'espalhafates', muita coisa. Gosto muito do Quaresma. E agora gosto também muito de Renato. É certo que o Renato está um pouco cru mas daqui a um ano ou dois...vai ser o melhor jogador português".
Aos 84 anos e com tantos mundos vividos, António Afonso, deixa de lado os sentimentos e na sua razão diz:" A França tem melhores jogares, tem melhores jogadores. Aqui temos um ou dois mas acho que não dá, acho que não vai dar".
Seja qual for o resultado, este transmontano francês vai esta noite viver dois sentimentos, tristeza e alegria.