A estimativa é da Playfair Qatar. A construção dos estádios para este mundial tem tudo menos "glamour", diz esta organização.
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1420. Este número é já uma certeza, mas pode chegar a 4000.
Segundo a Playfair Qatar, entre 2012 e 2014, durante estes dois anos, morreram 1420 trabalhadores de construção civil do Nepal, Índia e Bangladesh. Mortes que se relacionam com as más condições de trabalho a que são sujeitos no Qatar. Em termos médios significa que morrem 40 funcionários por mês.
A organização, sedeada no Reino Unido, que defende os direitos destes trabalhadores estima que até ao final das obras o número aumente até aos quatro mil mortos. Segundo a Playfair Qatar, de forma a sublinhar o número aqui em causa, trata-se de "mais gente do que aquela que vai jogar durante o Mundial".
O coordenador, Stephen Russell, entrevistado pelo jornal espanhol "El Mundo" diz que os números foram apurados com base na informação prestada pelas embaixadas do Nepal e da Índia. Oficialmente, refere este responsável, o "Qatar não está a fazer um seguimento dos falecimentos" ocorridos neste âmbito.
Russell acredita, ainda, que os números vão aumentar muito já que os trabalhadores imigrantes no Qatar podem chegar a um milhão e meio, à medida que o Mundial se aproxima. Contas feitas, e no final, ele estima que "por cada jogo de futebol que se vai jogar na competição terão morrido 62 trabalhadores".
A maioria das vítimas de estes acidentes laborais morre por queda ou golpes de objetos que caem durante a obra. Para além da falta de condições de segurança, estas pessoas trabalham debaixo de temperaturas muito altas, provocando muitos problemas cardíacos, que me muitos casos provocam ataques fatais.
Comparativamente aos Jogos Olímpicos de 2012 que se realizaram em Londres, nenhum trabalhador morreu. Morreram, "apenas" duas pessoas na construção de infraestruturas de apoio.
A organização Playfair Qatar, sócia de uma central sindical, a Trade Union Congress (TUC), faz um apelo aos patrocinadores Do Mundial 2022 para que assumam as suas responsabilidades e denunciem a situação.
"O Qatar é um Estado esclavagista. A FIFA sabe isso. Os patrocinadores também sabem. Mas têm de fazer uma opção. Será que querem ver as suas marcas associadas a esta situação?" questionou recentemente Sharan Burrow, secretária-geral da TUC, que disse, ainda, "Trata-se do país mais rico do mundo. Não tem de trabalhar desta maneira...".
A Coca-Cola, Visa e Adidas já emitiram comunicados onde expressam a sua preocupação e instam o Qatar a alterar as condições de trabalho destas pessoas.
O problema, refere Stephen Russell, é que "a FIFA não disse nada até agora". Para esta organização, o que está a acontecer no Qatar é "embaraçoso para o futebol".
A Amnistia Internacional (AI) também chamou a atenção sobre a exploração laboral no Qatar, esta semana, um ano depois de o governo daquele país ter prometido avançar com reformas no sentido de melhorar a situação. Acontece que segundo a AI, os progressos foram "limitados".
Com uma população de dois milhões de habitantes, trabalham no Qatar cerca de 1,5 milhão de imigrantes.