Não há realidades adquiridas! Muito menos factos que não possam ser contestados!
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O que dizer deste desafio entre o Portimonense e o Benfica, que parecia ao intervalo ser dotado de uma história simples, com a águia a dançar um corridinho algarvio, para acabar atarantada, desesperada com a perda de dois pontos e a dar mais um passo em falso no sonho de revalidar o título nacional?
Mas, vamos por partes.
Na primeira metade, Lage com a entrada de Cervi para uma ala e a colocação de Taarabt uns passos à frente de Weigl, pareceu ter acertado na fórmula miraculosa, no Santo Graal perdido desde que visitou o Dragão com uma liderança de sete pontos. O Benfica no seu sistema de 4-2-3-1, tinha os homens que jogavam nas costas de Vinicius em alta voltagem, conseguia pressionar alto, impedir o Portimonense de utilizar a primeira fase de construção e cercear o gene criativo de Lucas Fernandes que não tinha jogo. Resultado: foram incontáveis as recuperações de bola dos encarnados, que daí partiam rumo ao ataque das redes de Gonda.
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Com tamanha capacidade de jogar no último terço, surgiriam os golos. O primeiro de Pizzi, para logo, quase de seguida, André Almeida, a beneficiar de um lapso de Possignolo, marcar o segundo tento.
Diz-se que uma vantagem de duas bolas a zero é uma vantagem tranquila. Ainda, talvez mais seja se de um lado estiver o campeão nacional e do outro uma equipa que se pode assemelhar a um náufrago a agarrar-se a uma pequena tábua de madeira. A equipa que vence, que lidera o campeonato, simplesmente controlará o jogo, tranquilizar-se-á, deixando o tempo correr enquanto poderá esperar até por um lance para dar mais uma estocada...definitivamente fatal!
Mas, para isso, é necessário ao menos que se mantenham os preceitos com que se chegou à vantagem. Ora, estes encarnados de Lage parecem sofrer da incompreensível síndroma de Mr. Jekyl Doctor Hyde. Sim, isso mesmo, dupla personalidade.
E aconteceu o que menos se esperava! Ainda que a segunda parte do Portimonense tenha sido bastante melhor do que a primeira, com a colocação de Junior Tavares (golo de compêndio) mais próximo de Lucas Fernandes, a do Benfica foi má demais para ser verdade...péssima! E não é necessário ser doutor em futebol para perceber algumas realidades, que não só hoje têm vindo a máquina encarnada. Desde logo, Weigl, por muito bom toque de bola que possua, não tem vertente física para ser um médio defensivo recuperador, ainda para mais em alturas críticas. Taarabt é um dez de formação, sentindo dificuldades em aguentar noventa minutos numa função de maior labor e intensidade. Resultado, entre os homens da recuperação/construção e os criativos ficou uma imensa ilha, uma terra de ninguém em que os indómitos algarvios colocaram uma bandeira. Além disso, verdade seja dita. Este Benfica parece sem saúde física, adormecido, incapaz de rasgos... rasgos esses que nem mesmo Bruno Lage, anteriormente equiparado a um Midas, que em que tudo onde tocasse transformava em ouro, parece ter. As suas substituições em desespero de causa, simplesmente, demonstraram essa realidade, com a colocação de duas torres na área, mas retirando quem os poderia servir!
Os minutos finais pareceram, pois, o filme do desafio frente ao Tondela. O desespero contra a organização defensiva. O afunilamento da zona ofensiva, onde as defesas contrárias de frente para a bola se limitavam a controlar.
Uma palavra para este Portimonense. Cheio de jogadores com bom toque de bola, não se entende como se afundou na tabela classificativa. Ou, atendendo à primeira parte, até se entenda. Paulo Sérgio é um marinheiro de muitas viagens que poderá conseguir o milagre, tendo mão de obra qualificada para isso. Homens de refinada magia nas botas como Dener, Lucas ou Tabata com confiança poderão operar o milagre de colocar os algarvios em águas seguras... e, esta é a melhor altura para se nadar nos mares algarvios!
O empate final demonstra, contudo, que a águia não voa alto, nem sequer está com saúde para grandes aventuras... onde no ano passado, após derrota, caiu Rui Vitória, Lage abanou... no sonho de ser campeão!