Quem não quer ver Deus? Maradona foi aplaudido por adversários e ganhou uma guerra
A vida do astro ficou cravada na história de Boca Juniors, Barcelona e Nápoles. E do futebol mundial. O ícone marcou "o golo do século", no Mundial de 1986.
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As lendas afinal também morrem. Aos 9 anos de idade, a lenda começou a dar nas vistas num bairro de lata em Lanús, arredores de Buenos Aires, uma metrópole onde em cada bairro há um clube e pelo menos uma claque pronta... a morrer pelo clube.
Com a mesma idade de Dieguito, um amigo tinha passado no teste para as escolinhas do Argentinos Juniors. Virou-se para o treinador: "Mas eu tenho um amigo muito melhor do que eu.» O treinador retorquiu: «Então, toma lá esta moeda e vai dizer-lhe para vir falar comigo." Ficaram espantados com o talento do "cebollita" mas ainda não tinham visto nada. O Argentinos não era um dos grandes, mas sempre foi uma boa escola. E assim começou o trajeto do Dez, de Diez, de Diós, de Deus.
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Mudou-se para o Boca Juniors e no primeiro jogo oficial, a Bombonera enche com 65 mil pessoas. Quem não quer ver Deus ao vivo? Num relâmpago, em poucos anos, aterra em Barcelona, com recorde de transferências da época: mais de sete milhões de dólares.
Não era um Barça como o dos últimos anos, que tem outro jogador do Olimpo, era um clube sedento de títulos. Não foi fácil para Maradona. A hepatite afasta-o três meses da redonda, no campeonato, um modesto quarto lugar, mas na Copa do Rei é ele que decide contra o Real Madrid. Marca nos dois jogos e até os adeptos merengues o aplaudem de pé.
No início da segunda época sofre uma entrada violenta e fratura o tornozelo esquerdo. O campeonato fica à tangente, perdido por um ponto para o Althetic de Bilbau. Os bascos são também o adversário do Barça na final da Copa do Rei. Quem decide? Golo solitário de Maradona e confusão no fim dos 90 minutos. É o caso que o afasta da direção. Mais tarde, Maradona confessou que foi na Catalunha que se cruzou pela primeira vez com as drogas. Seguiram-se três meses de suspensão e a venda para Itália.
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O ainda modesto Nápoles bate a concorrência. Maradona disse mais tarde que Napoli apenas lhe lembrava a pizza, nada mais. 5 de julho de 1984, o estádio de San Paolo a rebentar pelas costuras, apenas para a apresentação. Uns toques com o pé esquerdo, uma bola chutada para a bancada, um anel de dezenas de jornalistas e as palavras do astro: "Buonasera, napoletani. Sono molto felice di essere con voi." Depois, nas palavras de Maradona: "Eles deliravam e não entendi nada."
No campeonato, apenas o modesto 8.º lugar, no segundo ano, o pódio, finalizando na terceira posição. Fora do relvado começa a vida polémica, mas dentro do relvado. Maradona era o Deus consagrado e é nesse verão de 1986 que nasceu o golo do século com Maradona a serpentear pelo relvado.
Há quem diga que esse golo contra a Inglaterra, começa no Mundial de 1966, quando um argentino é expulso. E ao sair senta-se num cadeirão que estava destina à rainha. Os ingleses chamam os sul-americanos selvagens, enquanto lhe arremessam objetos. A animosidade entre os dois países cresce até ao máximo, com a Guerra das Malvinas.
É Maradona quem acaba por "vencer" essa guerra para os argentinos. No mesmo jogo : a mão de Deus e o golo do Século. No ano seguinte, o Nápoles vence o campeonato, depois repete o 'scudetto'. Ainda são títulos solitários para o singular clube do Sul de Itália. É o auge da carreira de Diego armando Maradona.
Deus em plena sintonia com os fiéis do Nápoles. Com toda a legitimidade para fazer um pedido aos adeptos. Antes de um jogo entre a Argentina e a Itália, no San Paolo, e que valia a presença na final para uma das seleções. «Durante trezentos e sessenta e quatro dias do ano, vocês são considerados pelo resto do país como estrangeiros e, hoje, têm de fazer o que eles querem, torcendo pela seleção italiana. Eu, por outro lado, sou napolitano durante os trezentos e sessenta e cinco dias do ano».
E foi assim que os napolitanos passaram a ser "argentinos".
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