A possibilidade de saída do capitão do Sporting provocou a ira dos adeptos sobre Ruí Patrício. O guarda-redes admite que teve medo de morrer.
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Os adeptos entraram com grande agressividade no balneário, com intenção de agredir e provocando um ambiente de grande tensão. É assim que o guarda-redes Rui Patrício recorda, em julgamento, o ataque a Alcochete.
William Carvalho foi um dos primeiros alvos. Rui Patrício tentou intervir e foi agredido, também ele, com socos no peito. "Tentaram tirar-nos a camisola dizendo: 'São uma vergonha!'"
Um dos agressores dirigiu-se então a Ruí Patrício. "Estás aqui filho da p***, queres ir embora, é?", relata o guardião em julgamento, numa referência à possibilidade de uma transferência.
"Só dava para pensar: não nos matem", confessa agora em tribunal. Sem assistir a outras agressões, viu Jorge Jesus "sangrar da boca" e Bas Dost a "levar pontos".
No exterior viu o líder da Juventude Leonina, Fernando Mendes, à conversa com William Carvalho.
"Não sei quanto tempo depois, vi Bruno de Carvalho na academia (...) mas não falou comigo, nem o vi, ou soube, se falou com outros jogadores", explica o guardião que atualmente representa os ingleses do Wolverhampton.
A reunião de abril
Na sequência do jogo com o Atlético de Madrid, a 7 de abril, os capitães do Sporting confrontaram o presidente Bruno de Carvalho, acusando-o de incitar à violência sobre os jogadores junto das claques, algo que já era público antes do inicio do julgamento.
"Sabíamos que o presidente tinha mandado partir os nossos carros", recorda Ruí Patrício, citando informação que chegaram de William Carvalho através do antigo líder da claque Nuno Mendes "Mustafá".
O presidente negou as acusações. "Disse que se quisesse bater em alguém não precisava de pedir a ninguém." Para se defender, o presidente do Sporting saiu da sala e ligou em alta voz a Nuno Mendes, que negou a conversa.
Ruí Patrício diz ter então sentido que algo estava a acontecer. "Ele estava a falar diretamente com os adeptos e não connosco", explica o capitão sobre a atitude do presidente - que condena - e diz, ainda hoje, não a compreender.
O motivo
Rui Patrício recorda que "depois do jogo do Atlético houve um post público do antigo presidente do Sporting" e que os jogadores pediram "uma reunião no dia seguinte a André Geraldes", responsável pelo futebol.
A reunião foi marcada apenas para a segunda-feira seguinte e, por isso, e uma vez que os jogadores consideravam a situação "grave", decidiram "publicar também um post no Facebook".
O encontro acabou por se realizar no sábado, já depois dos jogadores serem suspensos e alvo de processo disciplinar. A reunião em Alvalade "decorreu num ambiente muito mau" e os jogadores defenderam que "ele [Bruno de Carvalho] devia explicar o que quis dizer".
Por seu lado, o então presidente acusava os jogadores: "Vocês fazem isto porque querem sair do clube."
Da reunião da véspera ao ataque
Os jogadores foram avisados durante a manhã pelo secretário técnico do clube, Vasco Fernandes, de uma reunião a realizar às 18h00. Compareceram, por isso, em Alvalade no dia seguinte ao jogo com o Marítimo.
Nesse encontro "Bruno de Carvalho mostrou uma atitude completamente diferente da das reuniões anteriores", estranha Ruí Patrício.
O presidente disse-lhes: "Se precisarem de algo, podem ligar-me e, aconteça o que acontecer, vocês vão estar bem para a final da Taça."
Acuña no aeroporto
O então capitão de equipa explicou ainda que Bruno de Carvalho perguntou a Acuña porque tinha confrontado o presidente da claque na Madeira.
"Acuña porque é que fizeste isso, e logo com o chefe da claque?", comentou o antigo líder leonino, explicando que Fernando Mendes lhe tinha ligado na noite anterior.
Ruí Patrício foi jogador dos leões durante 18 anos, sendo o antigo guarda-redes e capitão do Sporting. O depoimento começou com uma hora de atraso por ausência de câmara no tribunal.