Quini, lenda do Sp. Gijón e Barcelona, o matador espanhol que se aproxima de Zarra, morreu aos 68 anos. Em 1981 foi sequestrado, esteve em cativeiro 24 dias e falhou três jogos do Barça.
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A notícia é de terça-feira, espalhou-se e gritou-se pelos jornais e rádios espanhóis como a doença nos lugares de pouca fortuna. Quini, um homem que foi o melhor marcador da liga espanhola cinco vezes, teve um ataque de coração numa rua perto de casa em Gijón e morreu aos 68 anos.
"A Enrique Castro Quini explodiu-lhe o coração, seguramente cansado de tanto gostar, bondoso como era, sempre agradecido, tão humilde, generoso e boa pessoa que às vezes custava reconhecer o futebolista que ganhou quase tantos pichichi [melhor marcador] como Zarra [recordista espanhol com seis pichichi]", escreve esta quarta-feira Ramon Besa no El País. "Nunca criou uma distância com o adepto, nem com o cidadão, próximo e solicito para falar de futebol e sobretudo da vida, do Sporting [Gijón] e do Barça, de Gijón e de Barcelona."
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O El País, na notícia principal que anuncia a morte de uma lenda, lembra um "goleador de poucos toques, com um olfato extraordinario, uma das suas especialidades eram as vaselinas [meter a bola por cima do guarda-redes] de cabeça. Há uns meses, por telefone, recordava uma vaselina, esta com o pé, que fez no Bernabéu com o Barcelona de Maradona num 2-0 ao Real Madrid na temporada de 82/83. Com o campo argiloso picou a bola de fora da área por cima de Agustín, um guarda-redes que roçava os dois metros de altura". Por falar em Maradona, até o senhor "D10S" reagiu à morte do ex-companheiro, via Instagram:
  https://www.instagram.com/p/BfvWMt-AyPD/?hl=es
  
"Foi um goleador daqueles que não existem. Quando chutava com a canhota fazia-o como o melhor canhoto. E quando sobrava para a direita, fazia-o como o melhor destro. A bola procurava-o sempre. Para cabecear era sempre o que estava melhor colocado." Estas, entre muitas outras (ver em cima), foram as palavras de Diego Maradona, com quem Quini jogava ténis nos tempos livres.
"El brujo", como era conhecido Quini, era apaixonado pelo seu clube de sempre: "O Sporting de Gijón é toda a minha vida", chegou a dizer. Soube-se esta manhã que o estádio daquele clube que chora o desaparecimento de um dos grandes terá o seu nome. Talvez comecem a chover mais golos como aquele em que Quini foi Van Basten antes de Van Basten (ver aqui).
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"Às más notícias, respondia com um sorriso e uma palmadazita nas costas", continua Ramon Besa, "como se fosse um afortunado, otimista por natureza, muito querido no Molinón e Camp Nou, nos campos e cidades de Espanha. Não foi casual que a seleção ganhara pela primeira vez à Inglaterra em Wembley no dia que o libertaram, em 25 de março de 1981, depois de ser sequestrado em Barcelona".
Esta história mais parece saída dos guiões de Hollywood. Resumindo: o Barça acabava de vencer o Hércules por 6-0, com dois golos de Quini e aproximava-se do líder do campeonato. A seguir ao jogo, conta o El País, o futebolista foi a casa, para seguidamente ir ao aeroporto buscar mulher e filhos, que chegavam das Astúrias. Cambalhota no marcador: três homens sequestraram-no, enfiaram-no num quarto mínimo e exigiram um resgate milionário. O país, ainda com a memória fresca do franquismo, estava em ebulição. Houve até alguém que se dizia representante de um desses grupos ativistas que afirmou que "um clube separatista não podia vencer a liga". Os homens, soube-se depois, acabavam de ficar sem emprego, retratando uma sociedade com mais pontos de interrogação que outra coisa.
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Quini esteve em cativeiro 24 dias, a comer bocadillos, ver TV e ler revistas, perdeu apenas um quilo. Mas, afinal, perdera muito mais do que isso: três jogos do Barcelona, que resultaram em duas derrotas e um empate, afastando os blaugrana da corrida pelo título. No dia 25 de março de 1981 foi, finalmente, libertado e perdoou os sequestradores.
Enrique Castro González, ou Quini, nasceu em setembro de 1949, em Oviedo. Jogou quase uma vida inteira com a camisola dos seus encantos, a do Sporting Gijón, mas soube também o que era jogar ao lado de monstros em Camp Nou, como Maradona e Schuster, um dos mais afetados pelo seu sequestro. Na Catalunha foi feliz, com muitos golos, craques à volta, habituou-se a levantar troféus e até fazia brincadeiras nos treinos com Maradona, proibidas por Udo Lattek. Mas a morada do coração de Quini, aquele que lhe falhou terça-feira a poucos metros de casa, era, sempre foi e sempre seria Gijón.
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