Rúben Amorim em modo autodefesa. A análise à comunicação do treinador do Sporting
O autor de "As lições de Rúben Amorim" explica a decisão do treinador em defender a sua posição perante uma decisão da direção do Sporting antes do clássico no Dragão. A normalidade só vai regressar com os bons resultados, lembra Nuno Esteves, mas também com as soluções para o plantel pedidas pelo treinador.
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Rúben Amorim escolheu apontar o dedo à direção do Sporting e defender-se da decisão dos leões de vender Matheus Nunes ao Wolverhampton em semana de clássico com o FC Porto no Estádio do Dragão. Para o especialista em comunicação e autor do livro "As lições de Rúben Amorim", Nuno Esteves, o treinador sentiu-se "ultrapassado" por decisões externas e assumiu que deveria defender a sua posição enquanto técnico, procurando ser coerente com o que havia dito dias antes sobre a manutenção do jogador, que considerava imperativa.
"Não creio que tenha existido uma mudança de estratégia de comunicação de Rúben Amorim. O que aconteceu foi um contexto muito específico, muito difícil para o treinador", perante uma sala de imprensa interessada no tema Matheus Nunes e não no jogo que se avizinhava, o técnico do Sporting garantiu que se houve alguém incoerente no processo, não havia sido ele.
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Para Nuno Esteves, Rúben Amorim "sentiu-se ultrapassado pelos acontecimentos", da última semana. "Parece que falhou algo na comunicação entre a direção e o treinador. Uma semana antes, Rúben não estava à espera da saída de Matheus Nunes. Como ele disse na conferência antes do FC Porto, Matheus não deveria sair, foi por isso que foram vendidos Bruno Tabata, Gonzalo Plata ou Sporar. Entretanto, de um momento para o outro, algo mudou. É por isso que diz 'se houve alguém incoerente', não foi ele", explica o autor.
"Rúben Amorim não podia estar satisfeito. Foi isso que assumiu. Se tem sido sempre verdadeiro naquilo que diz, assumiu que não estava satisfeito, nem poderia estar, era um jogador que lhe fazia falta. Assumiu que não contava perder o jogador".
Uma posição firme, em defesa própria
"Acho que foi uma estratégia de autopreservação, de colocar as coisas no seu devido sítio. A direção está para negociar - aceitar ou não fazer acordos, vender jogadores -, Rúben Amorim para treinar. Quis, por isso, colocar cada coisa no seu sítio. Não teve responsabilidade sobre o negócio, foi apenas informado sobre o negócio naquele mau timming, antes do jogo com o FC Porto, para fazer face a despesas. Parece-me que foi essa a situação", garante Nuno Esteves.
Para o autor, Rúben Amorim procurou sempre mostrar uma posição linear sobre os temas sobre os quais é inquirido nas salas de imprensa. "Ele tem uma facilidade natural para lidar com as perguntas. Tem algum humor, tem também um sorriso, mas é alguém que se prepara muito bem para as conferências de imprensa, é bastante inteligente. Não vejo ninguém que se possa comparar a ele neste momento", considera Nuno Esteves sobre a comunicação de Rúben Amorim.
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"A comunicação é importante, mas não afasta os maus resultados. Não transforma a derrota em vitória. O Sporting está com alguns problemas de construção do plantel, de sintonia entre equipa técnica e direção. É importante resolvê-los para voltar à normalidade. Só nessa altura o trabalho do treinador e dos jogadores pode ser facilitado", explica ainda.
Rúben Amorim já assumiu uma posição publicamente. Do lado da direção não há, até agora, uma resposta. "Há um jogo com o Desportivo de Chaves que, se o Sporting conseguir vencer, afasta a ameaça de crise. Não creio que seja, na realidade, uma crise, apenas algum mal-estar, falta de sintonia. O caso da saída de Matheus Nunes não foi bem gerido, mas não há uma crise diretiva instalada. Há sim uma crise de resultados, mas que também vem dos calendários, das duas deslocações difíceis (Braga e Porto)".
Além dos resultados, há ainda uma janela de mercado aberta para o reforço do plantel. "Se a contratação de um médio - e talvez de um avançado -, for sonante para os adeptos, o papel de Rúben Amorim na sala de imprensa será facilitado. (...) mas está dependente dos resultados como qualquer treinador", sublinha o autor de "As lições de Rúben Amorim".