"Rui Costa é um símbolo do Vieirismo. É mais do mesmo"
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Francisco Benitez, líder do "Movimento Servir o Benfica", foi o primeiro a anunciar à candidatura à presidência do clube da Luz, depois de nas eleições anteriores ter desistido para apoiar João Noronha Lopes, derrotado por Luís Filipe Vieira e que já se afastou da corrida eleitoral de 9 de outubro. Francisco Benitez, sócio 3082, tem como ídolo Cosme Damião, um dos fundadores do SL Benfica.
O empresário, de 57 anos, concorre ao ato eleitoral do SL Benfica em oposição ao ex-futebolista e antigo vice-presidente Rui Costa, que assumiu a liderança do clube após a detenção em julho do presidente em exercício, Luís Filipe Vieira, mais tarde libertado sob caução.
Nas listas, Francisco Benitez, antigo jogador de râguebi nas camadas jovens do clube e fundador em 2013 da Associação de Adeptos Benfiquistas, concorre à presidência, apresentando João Pinheiro para liderar a Mesa da Assembleia Geral e Nuno Leite o Conselho Fiscal.
Na proposta para a direção, o empresário é acompanhado por Pedro Casquinha, Carlos Lisboa Nunes, Bernardo Correia, Pedro Soares Brinca, José Nunes da Luz e Victor Fernandes Conceição, com Luís Manuel do Rosário e Victor Mendonça como vices suplentes.
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Em entrevista à TSF, o candidato à presidência encarnada acusa Rui Costa de não apresentar um rumo que desvie o clube da Luz da anterior presidência, liderada por Luís Filipe Vieira, "é mais do mesmo, Rui Costa é um símbolo do Vieirismo". O candidato aponta ainda a Domingos Soares Oliveira, garantindo que "nunca o teria contratado, usou o dinheiro do clube para pagar o casamento da filha e o colégio dos filhos", acusa. Francisco Benitez mostra-se ainda critico pela "falta de transparência, democracia e falta de ambição desportiva", querendo apostar na formação de forma a colocar o SL Benfica "entre as melhores oito equipas da Europa", defendendo um "novo rumo" que se traduza em consistência. Quanto a Jorge Jesus, pretende que o treinador "se ajuste ao projeto", garantindo que "será o treinador da equipa até ao final do contrato". Em relação aos grandes investimentos em jogadores, Benitez assume que não está disposto "a comprar para vender", mas sim a promover contratações que garantam uma dinâmica de "vitória" ao clube da Luz. Fora do âmbito futebolístico, o desejo passa por fazer "regressar o ciclismo, é uma modalidade de grande visibilidade e importante para aproximar os sócios à equipa", prometeu Francisco Benitez.
Se na primeira candidatura, faz este mês um ano, era desconhecido dos benfiquistas, como disse na altura, acha que agora o cenário é diferente?
Sim, este ano a receção é diferente, tal tem a ver como o trabalho que foi feito. Tivemos uma grande luta para mudar algumas coisas, sobretudo ao nível da democracia e transparência. Conseguimos convocar uma Assembleia Geral Extraordinária, o que provocou um renascimento da alma benfiquista, esse momento veio demonstrar que quanto é preciso lutar pelo Benfica os benfiquistas dizem sempre presente. A partir dai começou todo um trabalho que teve a ver o regulamento eleitoral que conseguimos aprovar. Não é o ideal, mas é o possível. Agora temos capacidade de dialogar com a lista e de mostra de uma força massiva as nossas ideias, isso deve-se ao reconhecimento dos benfiquistas, temos contribuído para devolver a democracia e a transparência ao clube, de onde nunca deviam ter saído.
Num espaço de doze meses o Benfica vai novamente a eleições. Era isto que temia quando começou a avisar os sócios?
Nós já andamos a avisar os sócios há mais tempo do que isso. O nosso Movimento começou em 2013, onde se começou a perceber que existiam alguns laivos de falta de democracia nas Assembleias Gerais, espaço onde todos deveriam trocar ideias, sendo que as mesmas eram abafadas, as discussões não eram abertas e estavam a esconder algo. Por isso surgiram os nossos alertas, apelando aos benfiquistas uma participação mais ativa na vida do clube. O Benfica não é apenas os jogos do futebol, ou de outra modalidades, o Benfica é um clube que tem que ser gerido e bem. Nós consideramos na altura que essa gestão estaria estaria em risco, o que viria a confirmar-se que tínhamos razão. Alguém que deveria estar no Benfica para servir o clube, afinal estava a servir-se do dinheiro dos benfiquistas, dinheiro que deve ser honrado, preservado e respeitado.
Olhando para o seu adversário, ainda vê em Rui Costa um caminho de Vieirismo?
O Rui Costa é um símbolo do Vieirismo. É o próprio Luís Filipe Vieira que disse que estava a formar o seu sucessor, referindo-se a Rui Costa, que teve a oportunidade na constituição da lista concorrente de demonstrar o contrário, podendo ter feito uma remodelação profunda, trazendo gente nova e novas ideias, mas não, dos vinte membros da lista, catorze transitam na anterior, o que demonstra que é mais do mesmo do que tivemos nos últimos vinte anos.
Esperava mais?
Esperava muito mais. O discurso do auto proclamado presidente falava em transparência e democracia, pensava que teria ideias diferentes... afinal voltamos às mesmas pessoas e às mesmas ideias. Esperar resultados diferentes é praticamente impossível.
Já pediu uma auditoria às contas da SAD do SL Benfica, o que o fez também a atual administração. Acredita no resultado final ou pretende uma abordagem diferente?
A lei é clara e impõem que essa auditoria seja feita anualmente. O que pretendemos é uma auditoria forense a todo o grupo Benfica, o que tem que ser feito por um grupo independente e que no final os resultados sejam apresentados aos benfiquistas de forma muito clara. É preciso saber o que se passa no clube. Defendo total transparência e não a escuridão em que andamos nos últimos vinte anos.
Defende no seu programa que as pessoas que vierem a integrar a estrutura da SAD dever estar relacionadas com o futebol. Não teme que para tais cargos não seja preciso apenas perceber de futebol?
Totalmente de acordo. Mas repare que muitos antigos jogadores quando terminaram as suas carreiras, fizeram cursos superiores de gestão e economia e, portanto, trazem valor acrescido. São pessoas que temos identificadas, a maioria tem que ter tido provas datas no futebol, credivel, competente e acima de tudo que seja muito benfiquista. É isso que o Benfica precisa.
Isto levamos ao nome de Domingos Soares Oliveira, não conta com ele, Rui Costa já disse que sim?
Eu nunca o teria contratado.
Porque?
Não é benfiquista, se fosse tratava bem o dinheiro do clube, não teria utilizado o dinheiro do Benfica para pagar o casamento da filha ou o colégios dos filhos. São estas coisas que fazem a diferença. O Domingos Soares Oliveira olha para o Benfica como para uma empresa, eu olho como muito mais do que isso, olho com paixão, por isso a minha forma de cuidar, tratar e preservar o Benfica é muito diferente.
Considera que não fez um bom trabalho?
A questão é outra. Em seis milhões de benfiquistas, seguramente alguém faria um trabalho tão bom, ou melhor, do que o Domingos Soares Oliveira.
Sobre a questão da OPA e a possibilidade de John Texter se tornar acionista do Benfica, tem receio deste potencial negócio, já o percebeu o que poderá acontecer?
É um assunto verdadeiramente tabu. Não percebo o negócio.
Percebe a postura de Rui Costa em relação a este tema? Acha que devia ser tudo já esclarecido?
Devia ter vindo para estas eleições o máximo de informação sobre esse projeto. Não é possível adiar para depois das eleições. Os sócios deveriam ter acesso neste momento a toda a formação, de forma a votarem em consciência. Não teria feito assim, teria ouvido o senhor Texter e depois informava os sócios. Não se pode utilizar o Benfica para fazer especulação bolsista. Não me agrada, esse não é o papel do Benfica.
O Benfica tem sempre a maioria na SAD do clube. Não pena perder esse estatuto?
Isso é uma questão de honra. Comigo na presidência nunca poderia acontecer. Isso seria o Benfica deixara de ser Benfica. Nunca pode acontecer.
Qual é sua posição quanto a uma eventual alteração do nome do Estádio da Luz, atendendo a um potencial encaixe financeiro?
Tudo o que esteja relacionado com alterações substancias do símbolo do Benfica, e o Estádio da Luz é um símbolo, isso nunca deverá ser decidido por uma direção, mas sim numa Assembleia Geral bastante participativa.
Está preocupado com os 17 milhões de euros de prejuízo da SAD do Benfica?
Estou. Num ano difícil de pandemia, estes números dão a entender que não temos capacidade de reduzir custos. A massa salarial cresceu 30%. Nunca daríamos prémios a administradores da SAD sem a conjugação de resultados desportivos e financeiros conjugados. É preciso outro critério na compra de jogadores e ter um plantel mais curto.
No seu programa defende a tradição democrática, ambição desportiva e transparência. Acha que o Benfica não tem estes pilares?
Não. Na transparência basta ver toda a confusão à volta do processo "Cartão Vermelho", por isso queremos uma auditoria forense. Quanto à democracia muito menos, os estatutos são perfeitamente anti democráticos. É mais fácil ser presidente da Republica do que ser presidente do Benfica. A revisão dos estatutos é algo prioritário, para fazer nos primeiros 100 dias. Em relação à ambição desportiva não temos consistência desportiva. Falta um rumo. Num ano a aposta é na formação, no ano seguinte já não e assim. O mesmo se passa em relação ao investimento na equipa que é desequilibrado. É preciso uma estratégia, um novo rumo, apostando na formação. Nos próximos dez anos queremos estar regularmente entre as oito melhores equipas da Europa. Defendo uma aposta prioritária na formação, depois recrutamento no mercado nacional e só depois os mercado internacionais, mas com conta peso e medida. Não se pode continuar a navegar à vista. O treinador é que tem que se adaptar ao projeto do clube e não o contrário.
Jorge Jesus não seria o seu treinador?
Jorge Jesus é o treinador do Benfica e será até ao final do seu contrato, com todas as condições da minha parte para fazer um excelente trabalho. Com um novo plano estratégico definido, Jorge Jesus é que tem que nos dizer se encaixa nas nossas ideias.
Não coloca de parte uma saída antes do final do contrato?
Tem que existir um compromisso. Assumido esse compromisso tem que o respeitar, caso contrário teríamos um problema. Existindo um compromisso num determinado rumo nunca será desviado.
No que diz respeito à formação pode garantir aos sócios do Benfica que em caso de sucesso os jogadores terão margem de continuação no clube?
Isso é uma garantia que lhe dou. Quando um jogador está num projeto vencedor não vai querer sair. Se o Benfica estiver entre as oito melhores equipas da Europa, nas grandes competições, da parte dos jogadores não será apenas o dinheiro que interessa.
Como avalia a venda de João Félix ao Atlético de Madrid?
Temos que resistir à tentação de olhar sempre para o estrangeiro na altura das contratações, quando em casa existem soluções capazes. Na altura em que o Benfica vendeu o João Félix até passei pelo Marquês para ver se andava lá alguém a festejar, não vi lá ninguém. Vendemos o João Félix e deixamos de ganhar campeonatos. Ficamos com tanto dinheiro, mas ficamos sem um ativo que nos fez tanta falta.
Para finalizar, quais os argumentos que quer deixar de forma a convencer os sócios do Benfica no voto na sua lista?
A lista A é uma continuação, é mais do mesmo. As ideias escasseiam e os vícios são os mesmos. Ainda por cima é liderada por alguém que faz parte do passado, conivente e cúmplice e distraído com o que se passava no Benfica. A nossa lista apresenta uma equipa bem preparada, jovem e de um benfiquismo inquestionável. Estamos disponíveis para servir o clube, nenhum deles precisa do clube para comer. Queremos lutar por um Benfica campeão, com valores e tradições, fazendo todo o sentido servir o clube.
