Salários em atraso e menores em risco. Um clube com mais problemas do que jogos
O treinador da equipa, Albert Meyong, relata à TSF a história do Villa Athletic Club, uma equipa criada pelo apresentador Fábio Lopes e sediada em Ponte de Sor.
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Um clube com quatro meses de existência, com salários em atraso, com menores em risco e sem equipamentos. Trata-se do Villa Athletic Club, a mais jovem equipa da Associação de Futebol de Portalegre, sediada em Ponte de Sor.
O clube tem gente bem conhecida nos seus quadros. Do plantel fazem parte Edinho, antigo internacional português com passagens por Vitória de Setúbal, SC Braga e Académica na I Liga, e André Carvalhas, que fez formação no Benfica e carreira feita na II Liga. O treinador também é uma cara bem conhecida e quem faz a denúncia: Albert Meyong, antigo internacional camaronês e avançado com carreira no principal escalão do futebol português.
O fundador e presidente do clube é também ele conhecido, mas de outros palcos. Fábio Lopes, mais conhecido como "Conguito", é apresentador de rádio e televisão.
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O projeto, conta Meyong à TSF, era bom, pelas ambições e condições que tinha. "Estava tudo certo", conta o antigo avançado que revela ter entrado no clube através de um amigo "de muita confiança".
O objetivo era jogar em Ponte de Sor, no distrito de Portalegre, e treinar em Samora Correia, no distrito de Santarém. Portanto, cerca de cem quilómetros e uma hora e meia de distância.
"Eu perguntei como é que iam financiar e eles disseram que tinham vários patrocinadores e a empresa", revela o treinador.
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No entanto, não existia nenhuma empresa a suportar o clube: "Quando vi que havia dificuldade para pagar o salário, eu comecei a sentir que havia um problema. Marcámos um jogo amigável em Fátima, eles disseram que não havia dinheiro para transporte. E eu questionei: 'Para ir daqui a Fátima'?"
Não havia para a viagem, nem para salários. "Eles disseram assim: 'A equipa vai ter um x orçamento.' E, nas contratações que nós fizemos, não ultrapassámos esse orçamento", diz o antigo internacional. Nem ele, nem os restantes elementos da equipa técnica foram pagos por qualquer um dos quatro meses de trabalho.
Apesar de terem sido "enganados", decidiram ir a jogo. Não ao primeiro, porque não foi possível, mas ao segundo. Caso a equipa faltasse a dois jogos, "seria suspensa".
"Nós fomos ao jogo sem termos treinado. Não treinamos há duas semanas. Não temos equipamento nem nada. O Samora Correia é que emprestou os equipamentos deles", explica.
Dos 20 jogadores, apenas 12 puderam participar, já que eram os únicos inscritos. O próprio Meyong assistiu ao jogo da bancada, porque lhe faltava a mesma inscrição.
Mas o pior é fora do campo: "Temos miúdos que são estrangeiros. Estão numa casa que estava alugada pelo clube, mas que agora já não paga. E ainda tem alguns menores lá dentro. Se o dono da casa mete os miúdos fora..."
São ajudados pelo próprio Meyong e pela restante equipa técnica que lhes vai dando dinheiro para comerem.
Meyong não fala com o presidente. O diretor desportivo, Pedro Campos Ribeiro, é que faz de intermediário entre ambos, mas nem isso afasta o treinador da ideia de resolver a situação: "Estou a tentar resolver os problemas. Estou a tentar com os investidores e toda a gente, mas não se resolve nada."
Ainda que a esperança não seja muita, Meyong quer tentar resolver os problemas até ao próximo jogo e até ir para tribunal é um possível caminho.
Por fim, o treinador deixa uma questão para Fábio Lopes: "Ele trabalha lá na rádio. Se não lhe pagam, ele sabe como é que vai viver?"
A autarquia de Ponte de Sor já anunciou que revogou a cedência do estádio municipal ao Villa Atlhetic Club.
A TSF tentou contactar o diretor desportivo para perceber quantas são as crianças, onde estão e o que está a ser feito para as sustentar, mas sem sucesso. Também Fábio Lopes foi alvo de uma tentativa de contacto pela TSF, mas o desfecho foi o mesmo.