Sem ambição não há campeão
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Há sempre um patamar mínimo para uma seleção com o nível da portuguesa quando entra num Campeonato do Mundo de futebol. Já aqui o tinha referido: tudo o que fosse abaixo dos quartos de final seria uma má campanha. Logo, Portugal cumpriu a obrigação que lhe cabia para não sair do Mundial como uma derrotada ao lado da Alemanha, Bélgica ou Espanha, todas elas integrantes do lote de candidatos (mais ou menos favoritos, conforme os ângulos de abordagem).
Portanto, daqui para a frente, já não se coloca a necessidade de marcar uma posição. Agora, trata-se de ambição, porque, dizem muitos - de várias nacionalidades - que viveram estas emoções dentro de campo, quem chega às meias finais é mesmo um potencial campeão.
Ora, para a seleção nacional regressar a um duelo onde não marca presença desde 2006, precisa de afastar Marrocos. Se contasse somente o valor intrínseco das individualidades, Portugal teria a eliminatória resolvida pois, como referia Jorge Valdano, meio a sério meio a brincar, "tem qualidade em todas as áreas do campo. Imaginem nem jogar com o Rafael Leão, como se ele fosse um jogador mediano...".
Valdano sabe aquilo que todos nós também vemos. Fernando Santos tem soluções para tudo e o segredo está em tratar a tal "salada", a que Pepe aludia, de forma a que o produto final não seja uma deceção. Com a Suíça foi um recital daqueles que a seleção nos oferece tão raramente que não podemos deixar de nos declarar eternamente gratos. E que acaba por ser consequência de uma força coletiva que sabíamos que lá estava, mas que ainda não tinha despontado.
Isto fez parte da tal afirmação, pelo que para vincar a ambição são necessários outros focos. Ninguém exige esmagamentos, apenas que se vença. Marrocos não é uma seleção superlativa, mas sabe como nenhuma outra deste Mundial barrar o acesso à sua área (movimentar-se nos tais 20 metros de que falava o selecionador português), de tal maneira que, até esta altura, não houve um adversário que conseguisse marcar à seleção africana. A menos que Marrocos lhes facilite a vida com um autogolo.
O que se passou na partida com a Espanha é um manual de instruções para Portugal. Sobretudo daquilo que não deve fazer. A reação à perda de bola será fundamental neste jogo, tal como ser implacável na eficácia. Não podemos contar com muitas oportunidades, daí que aproveitar devidamente aquilo que surgir pode provocar o desequilíbrio suficiente para resolver o problema.
Além do mais, Marrocos ainda não teve necessidade de reagir a uma desvantagem, porque nunca esteve a perder neste Mundial. É precisamente esta experiência que Portugal tem de atirar para cima dos africanos que, sublinhe-se, já fizeram história nesta competição e, também por isto, não sentem qualquer tipo de pressão.
Entretanto, caiu mais um candidato, o Brasil, e outro esteve perto, a Argentina. Croácia e Países Baixos podem não ser melhores que brasileiros e argentinos, mas encararam os adversários sem receios nem reverências. Num caso resultou, no outro quase. Sim, dentro das suas características e capacidades mostraram ambição e não foram Neymar ou Messi que os intimidaram.
Não é por acaso que desde sempre se diz que o Mundial a sério começa na fase a eliminar. No Catar a história repete-se.
