"Senti-me provocado pelo treinador." Ronaldo arrependido de ter abandonado jogo antes do fim
"Não permito que um treinador me coloque apenas três minutos no jogo. Peço desculpa, mas não sou esse tipo de jogador", disse o jogador.
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O futebolista internacional português Cristiano Ronaldo mostrou-se arrependido por ter abandonado o jogo do Manchester United face ao Tottenham antes do fim, apesar da desavença com o treinador neerlandês Erik ten Hag.
"Vou ser sincero: arrependo-me ou talvez não. Não sei. É complicado dizer a 100%, mas digamos que me arrependo. Ao mesmo tempo, senti-me provocado pelo treinador. Não permito que um treinador me coloque apenas três minutos no jogo. Peço desculpa, mas não sou esse tipo de jogador. Sei o que posso dar à equipa", atirou o capitão da seleção nacional, na segunda parte da entrevista concedida a uma estação televisiva britânica.
Em 19 de outubro, o avançado ficou de fora do 'onze' no triunfo caseiro sobre os 'spurs' (2-0), da 12.ª jornada da Liga inglesa, sendo que, nos minutos finais do encontro, quando se apercebeu que não iria entrar em campo, deixou repentinamente a zona técnica junto aos bancos de suplentes para caminhar em direção ao túnel de acesso aos balneários.
"Não tenho respeito por ele [Erik ten Hag], porque não mostra respeito por mim. Estamos nessa situação. As coisas não correram bem por causa disso. A empatia não existe. Ele continua a dizer coisas à imprensa que acredita que são boas para se proteger a si e ao Manchester United. Gosto de homens que não mentem, são honestos e falam de forma frontal. Agora, não vou negociar o meu moral, porque está sempre intacto", prosseguiu.
Suspenso pelos 'red devils' no dia seguinte, Cristiano Ronaldo voltaria a competir em 27 de outubro, quando cumpriu os 90 minutos e fechou o marcador do êxito na receção aos moldavos do Sheriff (3-0), para a quinta e penúltima ronda do grupo E da Liga Europa.
"Fiquei desapontado com o comunicado do Manchester United. Nunca tive problema com clubes ou treinadores e suspenderam-me três dias. Senti muito isso. A nível desportivo, senti-me humilhado. Lembro-me de chegar a casa, o [filho] Cristianinho perguntar se eu não ia jogar e rir-se. Por um lado, estava relaxado, mas desapontado. Não sou perfeito e cometi um erro, mas fizeram fogo com a imprensa e isso desapontou-me", reconheceu.
O atribulado início de temporada 2022/23 saldou-se com três golos e duas assistências em 16 jogos, 10 dos quais como titular, num total de 1.050 minutos, volvido o atraso na chegada à pré-época sob alçada de Erik ten Hag, contratado aos neerlandeses do Ajax.
"Estive muito mal por causa de coisas que não disse a ninguém. Nas férias, a minha filha mais nova sofreu bronquite e esteve uma semana no hospital. As pessoas lá inventaram histórias de que eu não queria viajar, mas sou um ser humano e têm de entender que irei estar sempre ao lado da minha família. Não vou negociar nada para além disso", frisou.
Conforme um dos excertos da conversa com o jornalista inglês Piers Morgan divulgados desde domingo, 'CR7' sentiu-se "traído" pela estrutura, lamentando que "os diretores e o presidente duvidassem da sua palavra e não acreditassem que algo se estava a passar".
"A culpa é sempre minha e o problema sou eu. É como se fosse a ovelha negra. Se fazes bem ou mal, arranjam críticas. Até na seleção. Nos últimos meses, essas críticas foram muito más a nível profissional e familiar. Surpreendeu-me bastante. Olharam-me como o mau da fita, mas isso não é verdade e deviam ouvir os factos da minha boca", contestou.
O madeirense, de 37 anos, ilustra essa visão com o jogo caseiro de pré-época diante dos espanhóis do Rayo Vallecano (1-1), em 31 de julho, quando deixou Old Trafford antes do apito final, dizendo que "mais oito futebolistas" também o fizeram, mas "só falaram" de si.
"Ele [Erik ten Hag] sempre me disse que, como não fiz a pré-temporada, deveria esperar pela minha oportunidade, mas não fez esse procedimento com todos os jogadores. Não vou mencionar nomes. Depois, o Manchester United estava muito mal nos últimos cinco anos e queriam limpar a casa, mas a maneira como fizeram disso algo tão grande mostra que a comunicação não foi a melhor. Não é possível estar 21 anos no topo se não se for profissional. Toda a vida fui dos melhores profissionais, mas entristeceram-me", reiterou.
O vencedor de cinco Bolas de Ouro (2008, 2013, 2014, 2016 e 2017) criticou também a decisão do treinador neerlandês em evitar a sua utilização na goleada sofrida na casa do Manchester City (3-6), no dérbi da nona jornada do Premier League, em 02 de outubro.
"São desculpas. Ele pode ter uma opinião diferente e respeito-o, mas desculpas a toda a hora têm perna curta e não fazem sentido. Não me coloca diante do Manchester City por respeito à minha carreira, mas já me queria pôr a jogar três minutos contra o Tottenham. Não fez sentido. Acho que fez de propósito", terminou Cristiano Ronaldo, que tem estado inserido no estágio de preparação da seleção nacional para a fase final do Mundial2022.