Aos 11' os lisboetas já venciam por 2-0, com golos de Jonas e Seferovic, mas o Vitória reduziria antes do intervalo, por Raphinha. A segunda parte foi tremida, mas Raúl acabou com a conversa aos 83'.
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Há 20 anos a camisola 14 do Benfica era de um tal de Leónidas. O avançado brasileiro, hoje com 42 anos, não marcou qualquer golo para Graeme Souness, Mário Wilson e Manuel José verem. O 14 foi depois passando de desilusão em esperanças intermitentes: Sousa, Nuno Santos, Uribe, Ednilson, Fyssas e Manuel Fernandes. Diego Souza veio depois, para confirmar aquele quê de desencanto que aquela camisola trazia. Até que chegou Maxi Pereira: o 14 moraria nas suas costas entre 2007 e 2015, para um caso de amor que, como diria o Facebook, ficaria "complicado". Lindelof foi o outro freguês mais ou menos fugaz. Agora é Seferovic, autor de um dos golos do Benfica contra o Vitória de Guimarães na Supertaça Cândido de Oliveira (3-1).
Seferovic, que deixou algumas boas anotações na pré-época (e golos), teve um papel muito importante na equipa de Rui Vitória. Primeiro, a sua canhota mantém-se quente e meteu um golo, o sonho molhado dos avançados. Depois, recebeu ou tocou algumas bolas de costas para a baliza que chegavam de longe, deixando-a redondinha para os colegas. A estampa física é assinalável: 1.85m e 85kg. O avançado parece também ser "rato" na movimentação, jogando com a linha do fora de jogo e com as costas dos defesas. Tem remate fácil. E merece este destaque todo porque é a única novidade no ataque dos homens que vestem de vermelho e branco.
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É provável que o desejo secreto do suíço seja o número 9, que pertence a Raúl Jiménez. Seferovic pode sempre inspirar-se na história de Johan Cruijff, normalmente o nº 9 por onde passava, até ao dia em que um colega do Ajax não encontrou o nº 7 e o génio lhe doou o seu 9. Depois, conta o The Independent, Gerrie Muhren lá tirou uma camisola ao calhas do cesto para Johan e saiu o 14. Como ganharam ao PSV, Cruijff gostou da ideia, pediu para manterem a coisa e até jogou com esse número no Campeonato do Mundo de 1974.
O Benfica entrou em campo a morder o lábio, como quem queria calar toda a gente pela pré-época negativa. Aos 11 minutos, Jonas e Seferovic já tinham metido dois golos. O Vitória não conseguia ligar uma jogada, não saía em condições, não trocava três passes. A pressão do Benfica resultava e da melhor forma: longe da baliza do estreante Bruno Varela. Do outro lado, o mais aventureiro era Raphinha. Com arranques, meio isolado é certo, mas com coragem, rapidez e foco no meio campo rival. Acelera bem, tem um pé esquerdo interessante e não tem medo. Seria precisamente o brasileiro que chegou do Avaí em 2015 a reduzir o marcador, promovendo alguma instabilidade no meio campo lisboeta. O intervalo chegou pouco depois.
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Na segunda parte o Vitória apareceu de outra maneira. Havia menos complexos, menos inseguranças. Havia que meter à prova Varela, e foi isso mesmo que aconteceu. Bom, ou quase. O que teve a melhor situação foi Hurtado, que, na pequena área (57'), tinha tudo para encostar para a balizar, mas falhou na bola, que acabaria por bater no calcanhar do pé que deveria ser apenas de apoio. A seguir foi Hélder, com o mesmo desfecho: Varela sacudiu desta vez. O empate batia à porta, mas não passaria de um falso alarme.
A frescura do Benfica desapareceu na segunda parte, a pressão já não funcionava. As segundas bolas pingavam mais para os homens de branco, que têm a fome de 1000 homens. Depois, o andamento de Pizzi, o quarterback do Benfica (duas assistências e prémio de melhor em campo), baixou, o que terá levado Vitória a mudar as peças: Pizzi na meia direita, Felipe Augusto no centro para dar gás ao meio campo que ia perdendo o controlo do jogo. O sem-vergonha Grimaldo, idem, foi caindo. O Vitória ia ameaçando a baliza, mas nada mudaria até ao fim. Pelo menos nesse lado do marcador...
É que um senhor chamado Raúl Jiménez, um mexicano com cheirinho a anos 90, entrou aos 81 e aos 83 festejou o terceiro golo do Benfica nesta noite de sábado. Os três avançados do clube da Luz marcaram nesta partida contra um Vitória de Guimarães que começou a desconfiar de si, que depois cresceu muito, assustou os rivais, mas que não conseguiria corrigir o que se passou na final do Jamor (1-2).
O Benfica vence pela primeira vez duas edições consecutivas da Supertaça Cândido de Oliveira. Os lisboetas fazem assim as pazes com uma competição que já disputaram em 19 ocasiões, mas que apenas venceram... sete vezes. Luisão tornou-se no jogador da história do clube com mais troféus: 20.
Quanto ao fado da camisola 14, fica nas mãos de Seferovic. Ou nos pés. No Ajax a camisola 14 foi retirada...