O candidato da lista C às eleições do FC Porto assume que chegar à presidência é complicado, mas puxa dos galões para sublinhar que as outras candidaturas copiaram muitas das suas ideiais. A entrevista TSF e O Jogo com Nuno Lobo, candidato à presidência do FC Porto.
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Nas últimas eleições já concorreu. Ficou em terceiro, com perto de 5 por cento dos votos. O que o faz acreditar que agora vai ter um resultado melhor?
Não me candidatei a pensar em resultados. Candidatei-me com o mesmo pressuposto que defendi em 2020. Servir o FC Porto. Essa é a razão da minha candidatura. Defender os interesses do FC Porto. Não estou aqui por mim, por interesses pessoais. Tudo aquilo que preconizei em 2020 não vi a ser cumprido durante estes quatro anos, daí a razão da minha candidatura. Estou aqui para servir unicamente o FC Porto.
Basicamente, então, para enriquecer a discussão ou com outro objetivo mais claro em termos eleitorais?
Não só eleitorais. Se me candidato é porque quero ser presidente, obviamente. Porque acho que tenho muito a dar na sequência do trabalho nestes quatro anos que foi feito não só por mim, mas também da equipa fantástica que tenho o privilégio de liderar. Sei que quando falamos em tornar-me presidente do FC Porto não é fácil, visto que temos duas candidaturas muito fortes. A de um presidente que, se Deus quiser, dia 22 vai cumprir 42 anos de presidência. Depois temos outra candidatura, a de um treinador, entre muitos outros que passaram no FC Porto, mas que teve o sucesso que teve. Por isso, são duas candidaturas muito mediáticas e muito bipolarizadas pela Imprensa, esquecendo um bocado que esta candidatura, a da Lista C, existe.
Nunca se sente assaltado pelo receio de, eventualmente, ter um resultado pior do que há quatro anos?
Espero convencer o universo portista, os associados do seguinte: ‘Porque não acreditar em mim?’ Tenho esse desejo de ganhar as eleições, claro. Sei que não é fácil, mas acredito em mim e na equipa que lidero.
Na sua página de campanha diz que nunca aceitou propostas de parcerias de partilha de poder. Que propostas foram essas?
Houve uma colagem desde o início desta candidatura a Jorge Nuno Pinta Costa. As pessoas têm de ver que não estamos aqui para destruir, para dividir. Um dos pressupostos desta candidatura continua a ser agregar, unir o FC Porto, porque tem sido assim sempre, esta força, este ADN do Dragão. Tem sido o melhor clube português com essa união, com esse agregar dos sócios em torno do clube. O FC Porto sempre lutou contra poderes instalados a que temos assistido ao longo dos anos. Já o meu avô me dizia: quando passávamos a ponte, já íamos a perder. E também por tudo aquilo a que temos assistido e vivido, nas diferenças abismais que existem entre a cidade de Lisboa e a do Porto. Temos um pouco disso tudo, esse ADN pertence-nos, aos adeptos do FC Porto, às gentes do Porto e às gentes do Norte.
Em algum momento equacionou desistir em favor de Pinto da Costa, dando indicação de voto a Pinto da Costa?
Não. Não. Não. Espero não estar a repetir. Muito daquilo que foi defendido por esta lista em 2020, vários pontos... parece que é o Pinto da Costa que anda atrás de mim até. E faz muito bem. Por exemplo, falar do futsal ou das modalidades. Pinto da Costa olhar para o nosso programa, para as nossas ideias - e muito bem - , só mostra que é um homem atento e continua atento.
Como pode convencer os sócios a votarem em si?
Esta candidatura já vem desde 2020, uma grande parte dos elementos que a compuseram nessa altura estão connosco outra vez. Custa-me citar nomes, mas conseguimos reunir mais membros e mais-valias, como é o caso do dr. Heleno, do dr. Luís Barradas... Miguel Nascimento já vem de 2020 e tantos outros nomes que tornaram esta candidatura ainda mais forte. Alertámos em 2020 para a falta de ecletismo. Utilizamos uma das bandeiras que hoje está a ser usada por outros candidatos, que é o regresso do voleibol masculino. Alertámos para a situação do futsal, que foi uma das nossas bandeiras. O atletismo, a pesca, vários desportos... passados quatro anos estamos a falar nesta situação, nesta falta de ecletismo. Alertámos também, em 2020, para as contas, para os ordenados chorudos que recebiam os administradores. E o que é que aconteceu? Há uns meses, o presidente veio dizer que ia acabar com esses prémios. Apelámos também a uma reestruturação da Direção. Nada tenho contra o doutor Fernando Gomes ou o doutor Adelino Caldeira, mas há pouco tempo Pinto da Costa veio renovar a sua equipa. Também alertámos para isso. Estão aqui várias situações que justificam o porquê dessa candidatura de 2020. Fomos os primeiros a apresentar a candidatura e o programa. Falando no ponto um do nosso programa, que é a Academia, Pinto da Costa apresentou uma academia fantasista em 2020, em Matosinhos, e não passou de papel. Tudo o que está a ser feito paulatinamente pelo presidente Pinto da Costa foi defendido por nós em 2020. Não nos esquecemos que, em 2020, o André [Villas-Boas] foi o primeiro subscritor da candidatura de Pinto da Costa. Sendo o primeiro subscritor, subscreveu essa academia, um passivo de 420 M€, capitais próprios negativos.
André Villas-Boas foi conivente com a situação atual?
Foi conivente em 2020, sendo o primeiro subscritor. Nós não defendemos isso. Defendemos um programa diferente, eclético, robusto e exequível. Não esqueçamos que esta candidatura se apresentou em 2024 com o programa feito antes destas renovações de Pinto da Costa. Este programa já estava feito, estivemos a trabalhar nele durante estes quatro anos e apresentámos agora. Pinto da Costa mudou muitas das coisas para as quais alertámos em 2020. Para nós, é momento de demonstrar que fomos muito positivos, que as nossas ideias e propostas estavam certas. Tanto é que, hoje, são bandeiras das outras duas candidaturas. É claro que aspiro a um resultado superior a 5%. Melhor seria se eu conseguisse ganhar as eleições do FC Porto, mas na certeza de que, após 27 de abril, o Nuno Lobo e os outros candidatos que estão comigo estarão disponíveis todos os segundos, minutos, horas, semanas, meses e anos, o que for preciso. E se for preciso um novo chamamento em 2028, estaremos prontos nessa altura, em 2032... Quando precisar, de nós, estaremos atentos e vigilantes a tudo que acontece no FC Porto.
A situação desportiva também é preocupante neste momento. O terceiro lugar está em risco...
Mas isso tem uma justificação. Alertei também, fui o primeiro, lancei o repto ao André e ao Presidente para que as eleições fossem após o fim do campeonato, porque aquilo que eu temia aconteceu.
Há uma relação causa e efeito entre as eleições e o rendimento da equipa de futebol?
Não só na equipa de futebol. O Sérgio no último fim de semana veio a corroborar comigo, este burburinho, este ruído à volta da equipa... os jogadores têm ouvidos, têm olhos e sentem esta desunião a que temos assistido também em pleno Estádio do Dragão. Desde aquela fatídica noite da Assembleia Geral, que repugno. Foi um momento triste na nossa história, não tivemos uma acalmia e quem propaga isto tudo são os órgãos de comunicação social que continuam a fazer disto uma bandeira. E outros comentadores que tivemos por exemplo, estou-me a lembrar do Sr. Moniz que teve num acesso de...
José Eduardo Moniz?
Sim, numa putativa pretensão a comediante fez uma analogia com a AG a as mortes e o desespero das pessoas nas guerras. Esquece-se que fazia parte da direção onde um presidente do clube dele apertou o pescoço a um sócio, onde houve cadeiras pelo ar. A partir do momento dessa AG surgiram várias situações como chamarem aos Super Dragões de guarda pretoriana. Vimos o líder da claque e outras pessoas a serem arrestadas e presas. Depois, situações de vandalismo em sedes de campanha. Estes bate-bocas constantes que temos vindo a assistir entre a candidatura de Pinto Costa e a do André. Um que tem de ir para os carros porque não estaria disponível em 2028, depois o André responde a dizer que tem 46 anos e consegue estar de pé. Não me revejo nisto, não é portismo.
Considera que se tem baixado o nível?
Sim, infelizmente. Não me revejo nisto. E depois outra situação que não referi aqui: como é que é possível, em 15 anos de história de um dos museus, e eu conheço alguns, mais lindos, mais bem feitos de futebol... como é que roubam as faixas das claques? Como é que alguém sai do museu com duas faixas?
Não é a mesma coisa que sair com um cachecol...
Não, não é. Dizem que foram adeptos do Benfica. Temos tantas taças bonitas, o nosso espólio é muito maior que o do Benfica, e eles podiam ter levado as taças que faltam ao Museu do Benfica. Mas não, levaram as faixas. Com que intenção? Dividir. Vimos isso tristemente acontecer no FC Porto-Vizela, em que as duas claques abandonaram o estádio. Aproveito para agradecer o apoio, neste momento delicado, das nossas claques nas deslocações, mesmo com a equipa a atravessar um mau momento desportivo, no empenho daqueles guerreiros. O que nós temos assistido também é a arbitragens excelentes, tenho que dar os parabéns aos árbitros. Não me esqueço daquele jogo com o Rio Ave com o penálti revertido. Depois, dois golos anulados um por um centímetro ou dois. Contra o Estoril foi aquela lástima com quatro expulsões. Temos assistido estas excelentes arbitragens, que eu aplaudo de pé e que também são a razão do FC Porto ocupar o terceiro lugar.
Considerando a situação financeira do FC Porto, dizer que o seu programa é exequível não revela algum otimismo?
Tenho noção das dificuldades que o FC Porto atravessa, mas é um problema transversal. Não vale a pena estar a citar os passivos de outros clubes. Vemos a nível internacional passivos astronómicos. Para não melindrar clubes portugueses, falamos no Barcelona, que tem mais de 2 mil milhões de euros de passivo. Agora, eu tenho propostas de sustentabilidade e de futuro. Acredito que podemos reverter este valor, porque falamos em 400 e tal milhões de euros.
Não considera estranho os resultados financeiros serem tão negativos depois do clube ter transferido o passe de vários jogadores? Estamos a falar de James Rodríguez, Hulk, Falcao...
Compreendo a pergunta e também ponho os meus pontos de interrogação, mas aquilo a que assisti nesses anos todos foi um FC Porto campeão europeu, em 2004. O FC Porto ganhou uma Liga Europa, uma Taça UEFA. E não vou estar aqui a falar dos perdões fiscais concedidos a certos clubes. Consta que um dos perdões dados a um clube de Lisboa equivale a três presenças na Champions. É claro que me interrogo onde é que está o dinheiro. Mas preocupam-me também os negócios da equipa B. A presença de empresários e comissionistas. Dou o exemplo de um negócio em que fomos lesados financeiramente e desportivamente: o Taremi esteve com um pé no Milan e o FC Porto podia ter tido algum encaixe financeiro. Diz-se que foi alguém ligado ao clube que esteve neste negócio e que abortou. Este paradigma tem que mudar.
Para além das questões de arbitragem e do momento eleitoral, não considera que o FC Porto tem vindo a perder qualidade no plantel? Sérgio Conceição tem batido várias vezes nessa tecla.
É verdade. Eu não me esqueço daquilo que disse em 2020 e não me esqueço daquilo que o Sérgio fez com a equipa de remendos, não querendo ofender os jogadores do FC Porto, que brilhantemente tiraram o penta ao Benfica. É claro que o nosso plantel, ano após ano, tem perdido valor. As nossas mais-valias, a equipa que foi campeã da Youth League, vendemos jogadores para tapar buracos financeiros.
Está a falar de Vitinha, Fábio Vieira...
Do Fábio Silva… E só não da nossa formação: o Luis Díaz saiu às pressas para tapar mais um buraco. Falo do scouting, ou da falta dele. O FC Porto tem que apostar na formação. A prova disso é que com essa formação conseguiu puxar a manta e destapar os pés. É isso que eu espero que mude o quanto antes. Muitas vezes não é só gastar milhões e milhões. Lembro-me de um caso de um clube que investiu, em quatro ou cinco anos, 400 milhões de euros e conseguiu três títulos nacionais.
Voltando à questão do insucesso desportivo desta época. Conceição está há sete anos à frente do FC Porto, continua a ser o treinador certo?
Continua a ser. O Sérgio Conceição encarna tudo aquilo que eu sou como portista, o ADN Porto, o detestar perder. Odeio perder e tenho o mau perder.
E ele será o seu treinador?
Será o nosso treinador.
E não vê nenhum sinal de desgaste no próprio Sérgio Conceição?
Questiono-me como é que eu posso, num período eleitoral, num período conturbado que nós estamos a passar, porque já ouvi na comunicação social que alguém apresentou, hipoteticamente, um nome para treinador e até um diretor desportivo. Como é que eu posso apresentar isso numa época a decorrer? Chamo isto o quê? Estabilidade? Unir? Agregar?
Para diretor desportivo. Para treinador, Villas-Boas negou Gasperini…
Não sei se foi o André que... foi o André? Não sei. Li qualquer coisa. Quando fala no diretor desportivo, eu digo que irei tê-lo se o Sérgio Conceição assim o quiser. Quem manda na equipa... Mas não sou eu que treino os jogadores do FC Porto todos os dias.
Caso o Sérgio Conceição diga que é importante ter esse diretor desportivo, tem o nome identificado?
Não. Aquilo que eu tenho é isto: ver as carências, perguntar ao Sérgio Conceição, é assim que eu quero fazer. Perguntar ao Sérgio quais são as carências do plantel, aquilo que podemos fazer para que o FC Porto continue a ganhar. E o Sérgio me dirá as necessidades. Não vamos cometer loucuras. Agora depende do Sérgio Conceição, a necessidade de um diretor desportivo.
Mas não foi loucura chegar a jogadores como James Rodrigues, Hulk, Luís Dias, Jackson Martínez, Falcão, Lisandro Lopez… esses jogadores que o FC Porto contratou e que depois veio a fazer dinheiro com a transferência desses jogadores.
Não foi nenhuma loucura. Não sei precisar, não tenho isso em mente, qual foi o jogador mais caro que o FC Porto comprou? Nesses grandes nomes que me citou agora, algum ultrapassou os 20 milhões de euros? O David Carmo. Está a ver onde é que estão as loucuras? Temos que separar o trigo do joio, apostar no scouting.
E o diretor desportivo não pode fazer essa ponte entre o scouting e a equipa profissional de futebol, e fazer a ponte também com a administração da SAD?
Vou deixar esse papel para Sérgio Conceição. Nestes sete anos, ele conseguiu fazer das tripas coração, com equipas com baixos orçamentos. Lembro-me da primeira época... acredito plenamente nos poderes do Sérgio Conceição, na sua competência. Acho que tem que haver esse elo muito forte, cimentado, bem cimentado, entre o treinador de equipa principal, o Sérgio Conceição e o presidente. Depois, havendo a necessidade, uma escolha minha e do Sérgio, um diretor desportivo. Agora, aquilo que é importante é o scouting. Cito vários jogadores, como o caso de Maniche, um jogador que treinava num terreno no baldio, ali pelos lados da Luz, treinava à parte, e veio para o FC Porto.