Desta vez, os adeptos do Benfica e do Sporting não vão perdoar às suas equipas e aos respetivos treinadores, se estes não arriscarem tudo para vencer o dérbi deste domingo, dada a distância que os separa do líder FC Porto que, ainda por cima, apenas joga em Guimarães depois do fim do encontro de Alvalade.
Corpo do artigo
O Sporting parte para o dérbi a 10 pontos do Porto. O Benfica tem menos cinco pontos do que os portistas. As contas são fáceis de fazer: em caso de empate em Alvalade e de vitória do dragão em Guimarães, a desvantagem pode aumentar para 12 e sete pontos, respetivamente. Ou seja, um adeus definitivo dos leões à luta pelo título e um marcar passo significativo das águias nessa mesma luta, a um mês de visitarem o Estádio do Dragão. E ainda há o Braga pelo meio, para complicar as contas do título ou até da disputa do segundo lugar, o único que também dá acesso (ainda que indireto) à Liga dos Campeões.
Argumentos mais do que suficiente para que neste domingo ninguém queira sair de Alvalade sem a vitória. Mesmo que saibamos que o Dérbi Eterno tem vivido nos últimos anos sob o signo do empate: quatro nos últimos quatro jogos entre Sporting e Benfica, no recinto das duas equipas. Já em Alvalade, nas derradeiras dez partidas de campeonato entre os rivais e vizinhos lisboetas, registaram-se cinco empates.
Claro que ninguém espera que Sporting e Benfica se lancem deliberadamente ao ataque desde o primeiro minuto. Mas será complicado entender, por exemplo, uma nova estratégia conservadora de Marcel Keiser, semelhante à que utilizou nos dois recentes jogos perante o Porto, incluindo no de Alvalade, em que, durante toda a partida, nada arriscou para reduzir os então oito pontos de atraso para o líder do campeonato.
Do lado do Benfica, fazer bons resultados em Alvalade tem sido habitual nos anos mais recentes, nomeadamente para o campeonato: já não perde no recinto do Sporting desde 2012. São seis jogos consecutivos sem conhecer a derrota, com quatro empates e duas vitórias. Mas, lá está, o empate agora não serve.
Já agora, diga-se que uma série de seis encontros sem derrotas em Alvalade para o campeonato é algo que apenas aconteceu por uma vez na história do Benfica (entre 1970 e 1976, então com quatro vitórias e dois empates). Nessa altura, ao sétimo jogo o Sporting venceu por 3-0 (1976/77). E acrescente-se que, nestes seis campeonatos, o Benfica venceu cinco e o Sporting um (1973/74).
Deve aliás lembrar-se que o Sporting-Benfica é o único confronto direto entre grandes no campeonato em que o visitante ultrapassa os 20% de vitórias, sendo que o Benfica está quase nos 40% de triunfos em Alvalade: 31, contra apenas mais uma do Sporting (32).
No século XXI, a vantagem pertence mesmo ao Benfica, somando 6 vitórias, 5 derrotas e 7 empates em partidas da liga.
Keiser e Lage em sentidos opostos
Em termos de resultados recentes no campeonato, o Benfica vive uma série muito mais positiva do que o Sporting: nos últimos seis jogos, cinco triunfos e uma derrota (só o Porto faz melhor, com cinco vitórias e um empate), sendo que Bruno Lage conta por vitórias os quatro jogos realizados na liga. Já o Sporting tem um fraco registo de dois triunfos, dois empates e duas derrotas.
Marcel Keiser até já ganhou um título (a Taça da Liga), mas no campeonato tem vindo de mais a menos e já não tem motivos para se orgulhar: soma cinco vitórias mas também quatro encontros nos quais perdeu pontos (duas derrotas e dois empates). Ou seja, um registo pior do que o que encontrou quando chegou. Com José Peseiro e Tiago Fernandes os leões tinham sete vitórias, duas derrotas e um empate.
A favor do Sporting o facto de ser a melhor equipa do campeonato (a par do Braga) na condição de visitado, com nove vitórias e um empate. Mas só recebeu um candidato ao título e não venceu (0-0, com o Porto) e, como já vimos, o registo recente nas receções ao Benfica é negativo.
Além disso, o Benfica é a segunda melhor equipa da Liga enquanto visitante, sendo igualmente o melhor ataque fora de casa (16 golos). Os encarnados são também o melhor ataque da prova (43 golos, contra 41 do Porto e 36 de Sporting e Braga), continuando a ter juntamente com os portistas os números ofensivos mais fortes, nomeadamente em indicadores tão importantes como o número de oportunidades (6.2 por jogo, para 5.2 do Sporting), remates no alvo (6.3 contra 5.9 do Sporting) e remates na área (9.6 contra 7.9 do Sporting).
No entanto, é um facto que com Keiser os números ofensivos do Sporting melhoraram muito, incluindo os golos marcados e os remates efetuados por jogo (16.5, igual ao Porto). Mas o mesmo não se pode dizer dos dados defensivos: com Keiser, os leões sofreram mais golos por jogo (10 em nove encontro) no campeonato do que antes da sua chegada (10 em 10 jogos).
Este último dado pode ser fundamental: além de possuir o melhor ataque da prova, o Benfica é especialista nos ataques rápidos, marcando mesmo mais desta forma (20) do que em ataque organizado (18). Ora, como o Sporting tem grandes dificuldades em contrariar as transições rápidas do adversário, especialmente em termos de ataque à profundidade (como se viu em Setúbal e nos últimos jogos, sendo que sofreu já quatro golos em ataques rápidos em partidas do campeonato desde a chegada de Keiser), o treinador holandês poderá ter a tentação de optar novamente por uma postura de expectativa como fez perante o Porto em Alvalade e na segunda parte da final da Taça da Liga, em Braga. A questão é se os adeptos leoninos aceitarão que o faça também neste jogo, no qual o empate será sempre um mau resultado.
Nota: o dérbi de Lisboa foi o tema principal da edição semana do "Número Redondos" (na antena da TSF. às sexta (30.30) - e que pode ouvir aqui - no qual abordamos também outras temas, como a final da Taça da Liga, os jogos deste fim de semana de Porto e Braga e ainda os fantásticos números de João Félix.