Há final da Taça da Liga este sábado, que se deseja faça esquecer a turbulência das meias-finais, com um emparelhamento inédito: Sporting-Porto. A história recente está do lado do Sporting, mas o Porto tem outro tipo de argumentos competitivos que devem levar a um jogo mais estratégico dos leões.
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Segundo a Liga Portugal, vamos conhecer este sábado o Campeão de inverno do futebol português. É esse o título que a instituição quer "colar" ao vencedor da Taça da Liga, na sua versão mais recente, que termina numa final four, disputada em Braga.
Não será por falta de esforço de Pedro Proença, mas a verdade é que a prova, que está na sua décima segunda edição, continua a não convencer, até nestes pormenores. Uma taça que se preze não tem um campeão, da mesma forma que não se disputa com fase de grupos e muito menos facilita o caminho até às meias-finais aos participantes mais poderosos.
Mas de negativismo à volta da competição já tivemos mais do que a conta no fim dos jogos das meias-finais. Vamos é tratar de desfrutar da final, que ainda para mais é inédita: contra o que seria de esperar em termos históricos só na décima segunda edição Sporting e Porto se encontram no jogo decisivo da prova.
Esta é igualmente apenas a terceira vez que dois dos grandes disputam entre si a final da Taça da Liga, depois do polémico Benfica-Sporting de 2009 e do desequilibrado Benfica-Porto de 2013. Assim se foi construindo a hegemonia encarnada na competição, que se traduz em sete conquistas, deixando apenas quatro taças para os outros (Vitória de Setúbal, Braga, Moreirense e Sporting).
Os leões são os vencedores em título, depois de terem vencido a final four da época passada sem ganharem qualquer jogo nos 90 minutos regulamentares. E este ano voltaram a chegar à final através de um desempate por penáltis face à equipa da casa, o Braga, pelo que os portistas dispensarão, com certeza, levar a final para esta forma de desempate.
Até porque perderam nas últimas cinco ocasiões em que se viram envolvidos em tais aventuras (que inclusive lhes custaram uma Taça de Portugal em 2016, frente ao Braga e a presença nas duas finais das taças internas na época passada, ambas à custa do Sporting). Por outro lado, o leões ganharam os últimos cinco shoot-outs que disputaram, valendo-lhes uma Taça de Portugal em 2015, face ao Braga, e a Taça da Liga da época passada, frente ao Vitória de Setúbal.
Sporting quer repetir história recente
Aliás, a história recente em finais entre Porto e Sporting tem sido esmagadoramente favorável aos leões: ganharam as últimas quatro finais ao Porto (Supertaça 2000; Supertaça 2008, Taça de Portugal 2008 e Supertaça 2009, quase sempre com Paulo Bento a bater Jesualdo Ferreira).
No conjunto das oito finais de sempre disputadas entre as duas equipas, em provas que continuam a fazer parte do calendário futebolístico, o Sporting venceu seis e perdeu duas. E como em termos de finais da Taça de Portugal regista-se um empate a dois (em decisões que precisaram sempre de jogos de repetição ou prolongamentos: o Sporting venceu em 1978 e 2008 e o Porto em 1994 e 2000), isto significa que em todas as outras finais o Sporting bateu o Porto: nas Supertaças de 1995, 2000, 2007 e 2008, sendo que nas duas primeiras houve lugar a finalíssimas. O drama prolongado sempre presente nos "mata-mata" entre as duas equipas...
Acrescente-se que na história da Taça da Liga o Sporting leva a melhor sobre o Porto: três jogos, uma vitória do Sporting por 4-1 numa meia-final em 2009; e dois empates: um na fase de grupos de 2013 e outro na meia-final da época passada (em Braga) com o Sporting a vencer nos penáltis. E, claro, o Sporting tem uma Taça da Liga ganha (em três finais), enquanto o Porto leva já duas finais perdidas.
Porto quer manter série esmagadora e superioridade estrutural
Para responder a este "trauma" histórico recente perante o Sporting em provas a eliminar, o Porto quererá impor o seu esplendoroso momento competitivo: 22 jogos consecutivos sem perder, nos quais ganhou 21 encontros de todas as competições - Campeonato, Taça, Taça da Liga e Liga dos Campeões. O único jogo desta série que não venceu foi exatamente frente ao Sporting (0-0 em Alvalade).
Claro que manda a prudência lembrar que este é um jogo especial - uma final, ainda por cima sem prolongamento, entre grandes. Mas o Porto é campeão nacional, líder do campeonato, com mais oito pontos do que o Sporting (quarto classificado), tem os seus processos de jogo mais consolidados, um treinador que vem da época passada, um plantel mais valioso (296 milhões de euros contra 172 do Sporting, segundo o site Transfermakt) e mais estável (duas temporadas e meia de permanência média dos seus atletas, enquanto o do Sporting , que passou por uma forte sangria neste verão, em pouco ultrapassa uma temporada de permanência média).
E convém ainda lembrar que os dragões são estruturalmente um clube vencedor - cerca de metade dos últimos 40 campeonatos nacionais disputados -, algo que o Sporting já não é há muito tempo (apenas quatro títulos nacionais neste período). Além disso, o Porto é única equipa portuguesa com dimensão europeia nas últimas décadas, com triunfos importantes (mesmo na Liga dos Campeões) e visitas constantes ao top 10 do ranking da UEFA.
Identidade portista contra estratégia leonina?
Por tudo isto, será de esperar que se repita no jogo de hoje a maior contenção leonina a que se assistiu no recente jogo de campeonato entre as duas equipas. Se Keiser preferiu essa abordagem quando tinha a oportunidade de reduzir a desvantagem de oito pontos no campeonato, jogando em casa, parece provável que o volte a fazer agora, até porque a vantagem psicológica de um eventual desempate por penáltis está do seu lado.
É provável, portanto, que voltemos a assistir a um cenário um pouco atípico: o treinador português (Sérgio Conceição), a dar prioridade à identidade e ao estilo de jogo da sua equipa, perante um treinador holandês a optar pela abordagem estratégica, jogando em função do adversário.
Nesse sentido, uma das dimensões cruciais do jogo poderá passar pela luta tática entre os dois técnicos, com o Porto em 4x4x2, só com dois elementos no miolo, contra o Sporting em 4x3x3, procurando ganhar o meio-campo e aproveitar os desequilíbrios defensivos portistas.
Sérgio Conceição parece ter abandonado as abordagens cautelosas perante as equipas mais fortes do campeonato português (utilizando cada vez menos o seu 4x3x3 alternativo, pelo menos no começo dos jogos), provavelmente porque sabe que é em 4x4x2 que a equipa ataca melhor. Depois, em caso de vantagem do marcador recorre algumas vezes ao 4x3x3 para obter consistência defensiva. Claro que ter transformado Oliver num "cão raivoso" (na definição de Mourinho), de recuperação de bola, mantendo-se apesar disso um jogador de posse e criatividade, também permite a Conceição esta preferência inicial.
Porto e Sporting são muito fortes no ataque organizado - é a forma como mais golos marcam -, mas é curiosamente também assim que mais golos sofrem. São portanto, cuidadosos a evitar as transições ofensivas rápidas dos adversários, pelo que o jogo de hoje pode cair num certo "encaixe" tático. Neste caso, podem ter papel fundamental os lances de bola parada, nos quais o Porto tem sido mais forte: 10 golos portistas deste tipo só no campeonato (não contando penáltis), enquanto o Sporting já marcou 12, mas oito foram obtidos através de grandes penalidades. Os leões são igualmente mais permeáveis às bolas paradas, com quatro golos consentidos desta forma (nenhum de penálti). Já o Porto apenas sofreu um golo deste tipo (mais uma vez sem contar com os penáltis).
Em termos de bola corrida, destaque para a força do corredor direito portista - Corona e Marega - com 11 golos no campeonato construídos a partir desta ala, podendo no jogo de hoje explorar a ofensividade do lado esquerdo leonino (Acuña e Nani). Mas o oposto também é válido: a dupla Nani-Acuña pode aproveitar o facto da adaptação de Militão a lateral-direito ainda não estar consolidada.
Um outro dado importante a considerar: o Sporting teve menos um dia de recuperação para esta final, mas isso pode ser compensado pelo maior desgaste acumulado pelo Porto, como fica patente nos números: os leões têm cinco jogadores com mais de 2000 minutos de utilização (o equivalente a cerca de 20 jogos completos) contra oito dos dragões.
Terminamos com os destaques individuais. De um lado, um Marega impressionante, com um total de temporada de 15 golos e seis assistências (no Porto, ninguém marca mais e só Telles tem mais assistências: sete). Do outro lado , números ainda mais incríveis para Bruno Fernandes, que mesmo jogando no meio campo, faz ainda melhor: 16 golos (mais do que Bas Dost, que apesar disso tem jogado menos) e oito assistências.