Por motivos diferentes, Braga e Porto precisam mesmo de ganhar a final da Taça da Liga deste sábado, na Pedreira. E se a isso acrescentarmos o pendor muito ofensivo das duas equipas tudo indica que teremos uma final espetacular e de emoções fortes.
Corpo do artigo
Uma final é sempre importante para qualquer clube, mesmo que se trate do jogo decisivo de uma competição que demorou a encantar os adeptos, como a Taça da Liga. Mas, mais de dez anos depois da primeira edição da prova, já ninguém encara esta final como um evento de segundo plano.
Por um Braga grande
O Braga, a viver um já longo processo de afirmação como potência do futebol português tem aqui a sua última possibilidade de tirar partido do fator-casa para voltar a vencer a Taça da Liga. Esta é a terceira e última (para já...) final four disputada na Pedreira e a conquista do troféu será com certeza um forte impulso para o trabalho de António Salvador e a sua Direção visando colocar o Braga num patamar superior do futebol português.
O Braga tem sido uma espécie de 4º grande da década de 2010, terminando apenas 2 vezes fora do top 4 do campeonato nacional e chegando a mais finais de competições nesta década do que no resto da sua história (6 contra 4).
Por exemplo na temporada passada, além de ficarem em 4º lugar na liga os bracarenses disputaram as meias-finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal, sempre com os 3 grandes. Mas o facto é que o lugar do Braga tem sido quase sempre o quarto e na maioria das vezes perde contra os grandes. E mudar essa realidade é urgente para os responsáveis minhotos, até em função do enorme investimento realizado nos últimos anos.
Não será por acaso que no jogo da meia-final da passada terça-feira, a Pedreira apresentou uma casa sofrível, com cerca de 10 mil adeptos, apenas metade dos quais seriam do Braga. Ora vitórias sobre os grandes, lugares no pódio da liga e troféus conquistados são fundamentais para mudar este cenário e criar a tal vaga de fundo em termos de apoio social que possa tornar o Braga um grande do nosso futebol.
Uma Taça que já é um trauma para o Porto
É verdade que os portistas começaram por desdenhar da Taça da Liga e nos primeiros anos da prova nunca apostaram na competição, apresentando sempre equipas com jogadores menos utilizados. Mas a seca de troféus que tem marcado a última meia dúzia de anos e a noção de que a grandeza do clube não se coaduna com a ausência do palmarés de uma prova de caráter nacional (e que se foi afirmando, de uma forma ou de outra), obrigaram o Porto a mudar a sua atitude perante a Taça da Liga.
Acontece que quando passou a querer a Taça, o dragão não teve unhas para a conquistar. No total são já 3 finais perdidas (2010, 2013 e 2019), com um total de 9 meias-finais disputadas (tantas quantas o rei da prova, o Benfica, que tem 7 títulos). Ainda para mais, nas duas últimas edições (ambas em Braga), os portistas foram sempre batidos no desempate por penáltis, uma vez na meia-final, outra na final (ambas as vezes pelo Sporting).
Para além deste pequeno trauma, o Porto de Sérgio Conceição não se pode dar ao luxo de desperdiçar possibilidades de vencer competições. No terceiro ano do treinador no banco azul e branco, somente 2 troféus conquistados não é um bom pecúlio, ainda para mais numa fase em que o campeonato nacional desta temporada parece quase uma miragem. Acresce dizer que Sérgio Conceição tem já um historial significativo de finais perdidas: duas da Taça de Portugal (pelo Braga e pelo Porto) e uma da Taça da Liga (pelo Porto), curiosamente todas jogadas contra o Sporting e todas decididas no desempate por penáltis.
Não surpreende, portanto, que Sérgio Conceição nem queira ouvir falar em penáltis e que, por exemplo, na meia-final contra o V. Guimarães, na quarta-feira, tenha arriscado tudo para ganhar o jogo no tempo regulamentar.
De que século será este jogo?
Em termos de confronto histórico entre as duas equipas, em jogos a eliminar, a grande questão é saber se o Braga vai continuar a impor a sua competitividade recente ou se o Porto conseguirá fazer o tempo andar para trás.
É que durante todo o século XX os portistas foram implacáveis frente aos minhotos sempre que as duas equipas se encontraram em provas a eliminar, ou seja, na Taça de Portugal. Em 11 confrontos, os azuis e brancos fizeram o pleno e afastaram sempre o Braga, incluindo em duas finais da competição: 1977 e 1998.
No entanto, no novo século tudo mudou e, principalmente na década de 2010, os Guerreiros do Minho reagiram em força a este domínio portista: ainda perderam a final da Liga Europa, em Dublin, no ano de 2011, mas depois ganharam as duas últimas finais entre os dois clubes: a da Taça da Liga em 2013 e a da Taça de Portugal em 2016.
Neste novo milénio, contando todos os jogos a eliminar, regista-se uma vantagem de 4-2 para o Braga, o que não impede que o saldo total seja muito favorável aos da cidade invicta: 13-4.
Claro que outra forma relevante de encarar o histórico entre as duas equipas, no que ao jogo deste sábado diz respeito, é olhar a tendência recente dos jogos realizados na Pedreira: nos últimos 10 encontros, o Porto venceu 5, houve 3 empates e ainda 2 vitórias bracarenses.
Mas igualmente relevante é um dado ainda mais recente: Porto e Braga defrontaram-se há 8 dias apenas, com o tal triunfo forasteiro dos minhotos que surpreendeu quase todos, até porque no campeonato as equipas estavam separadas por 17 pontos, com os portistas a serem imperiais em casa na prova, com um pleno de triunfos até então e zero golos sofridos no Dragão.
Naturalmente que a final da Pedreira será muito influenciado por este desafio tão recente, que terá fortes implicações na forma de abordar o jogo das duas equipas.
Será, com certeza, mais um fator de motivação e confiança para os homens de Rúben Amorim, que nos 4 jogos no comando técnico do Braga venceu sempre, continuando e até acelerando uma recuperação significativa na classificação do campeonato: depois de passarem muito tempo a meio da tabela, os minhotos já chegaram ao 5º lugar, a apenas 2 pontos do 4º (Sporting) e a 6 do 3º (Famalicão).
Para o Porto, o encontro da há 8 dias servirá como lição e como aviso, sendo quase certo que Sérgio Conceição e os seus jogadores tudo farão para que certos erros não se repitam, nomeadamente em termos defensivos, mormente nas bolas paradas.
Um duelo ofensivo
Em termos táticos e estratégicos, este será com certeza um confronto muito rico, até porque estamos em presença de duas equipas com pendor muito ofensivo. Desde logo, Porto e Braga são os conjuntos com mais posse de bola em média no campeonato: 58% e 56.5%, respetivamente.
Mas estas são também as equipas com melhores números ofensivos da liga: o Porto é o conjunto que cria mais ocasiões claras de golo (média de 6.1 por jogo), e que mais acerta no alvo (6.2), com o Braga a ocupar a segunda posição (5.5) neste particular.
Já os bracarenses são a equipa com mais remates efetuados no campeonato (média de 16.8 por jogo) e com mais remates dentro da área (9.1), o que não é habitual num 5º classificado, mas que demonstra a sua apetência e capacidade ofensivas.
Outro ponto importante na final deste sábado: veremos se o Braga conseguirá voltar a anular um dos pontos mais fortes dos portistas, as bolas paradas ofensivas. O Porto já marcou 13 vezes na sequência de cantos (9) e livres (4), num total de 35 golos apontados na liga.
Por outro lado, o Braga tentará tirar novamente partido deste tipo de lances, com que surpreendeu o Porto nos dois golos apontados no Dragão. E surpreender é a expressão mais adequada já que os minhotos têm sido um dos piores conjuntos do campeonato a aproveitar as bolas paradas, dado que antes da jornada passada tinham somente um golo apontado na sequência destas jogadas.
Os heróis prováveis: laterais e goleadores
Tal como tem acontecido ao longo desta temporada, e em grande parte resultado do estilo de jogo de Porto e Braga (no caso deste último ainda mais acentuado pelas ideias trazidas pelo novo treinador, Rúben Amorim, que atua com três defesas centrais, libertando ainda mais os defesas laterais), este poderá ser um jogo com enorme preponderância dos laterais.
No Porto, Corona (7) e Alex Telles (5) são os dois portistas com mais assistências no campeonato e foram outra vez decisivos no jogo das meias-finais, com o mexicano a fazer a assistência para o golo da vitória, depois do brasileiro ter marcado o tento do empate. No total da época, foi já a 13ª assistência de Corona e o 6º golo de Telles.
No Braga, o lateral-direito Ricardo Esgaio conta com 5 assistências no campeonato e também ele foi decisivo ao realizar o cruzamento que deu origem ao golo do triunfo sobre o Sporting na meia-final da passada terça-feira. Por sua vez, o lateral-esquerdo, Nuno Sequeira, é o segundo melhor da liga em termos de passes chave (aqueles que provocam situações de concretização), com uma média de 2.6 por partida, logo depois de Bruno Fernandes (3.6).
Para lá da importância previsível dos laterais na final deste sábado, é incontornável destacar o peso atual de três avançados nas duas equipas: no Braga, Paulinho colocou o Braga na final, faturando o seu 17º golo da temporada em 30 jogos (o seu recorde pessoal é de 20 golos numa época ao serviço do Gil Vicente) e Ricardo Horta abriu o marcador do referido encontro frente ao Sporting, apontando o 15º tento da época (recorde pessoal).
Por sua vez, no Porto, o destaque goleador vai todo para Soares, que com o golo do triunfo na meia final assinou o seu 15º golo da temporada (em 28 jogos), prolongando uma série notável: o brasileiro marcou sempre nos últimos 9 jogos em que foi titular, num total de 11 golos.