Treinador de Catarina Costa critica Federação Portuguesa de Judo por "má gestão desportiva e financeira"
"Nunca passámos por isto", ressalva João Neto à TSF
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Uma das atletas em competição nos Mundiais de Budapeste cujo nome aparece em suspenso, depois de a Federação Portuguesa de Judo ter sido notificada da suspensão por um ano pelo organismo internacional da modalidade, devido a uma dívida de 800 mil euros, é a judoca Catarina Costa. O treinador, João Neto, reagiu à medida que não impede, contudo, os judocas de competir, apenas os obrigam a fazer como atletas neutros.
Para o treinador da vice campeã europeia na categoria de -48 kg, esta situação não é surpreendente, mas João Neto diz que a Federação Internacional de Judo (IJF) escolheu mal o tempo para suspender Portugal das competições. Defende, por sua vez, que a IJF poderia ter tomado esta decisão depois do Mundial de 2025, que vai decorrer na Hungria entre 13 e 19 de junho.
"Nunca passámos por isto", ressalva João Neto à TSF. Ainda assim, apesar de ser uma "situação nova", a atleta Catarina Costa vai "lutar representando sempre Portugal" nos mundiais de junho. O treinador acrescenta que esta é também uma "situação externa" aos atletas, que nada podem fazer para a controlar.
É o resultado de uma má gestão desportiva nos últimos anos, financeira, fundamentalmente
João Neto garante ainda que a judoca vai dar o melhor na competição, embora não representando oficialmente o país. Reforça igualmente que se tratou de uma "má gestão" da Federação Portuguesa de Judo, apontando que cabe agora ao Governo prestar apoio financeiro para ultrapassar esta situação. Há ainda a esperança de que a situação seja temporária e ultrapassada brevemente.
O treinador lamenta não haver em Portugal gestores e diretores ao nível dos atletas e treinadores, uma situação que se tem vindo a agravar de ano para ano, na sua opinião, pelo que aponta para a urgência de "um maior controlo das entidades externas que acompanham a situação".
Estão apurados para os Mundiais, que decorrerão entre 13 e 18 de junho em Budapeste, os judocas lusos Catarina Costa, Taís Pina, Patrícia Sampaio, Miguel Gago, Otari Kvantidze e Jorge Fonseca.
O cenário surge depois de a Federação Portuguesa de Judo ter sido notificada na terça-feira da suspensão por um ano pelo organismo internacional da modalidade, devido a uma dívida de 800 mil euros.
Em vários momentos, a Federação Internacional notificou a FPJ, que ainda tentou proceder a um pagamento simbólico de 50 mil euros, mas um erro no código de transferência bancária, acabou por levar a decisão mais extremada da instância do judo mundial.
A situação levou a FPJ a estabelecer contactos imediatos com o presidente do Instituto Português do Desporto (IPDJ), Ricardo Gonçalves.
“Ontem [terça-feira], falei com o IPDJ, irão ser conversas que, garantidamente, serão retomadas, assim como pedi ajuda a Fernando Gomes, presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), e já falei e irei continuar a falar com o secretário de Estado do Desporto, Pedro Dias, no intuito, se não for a totalidade, mas pelo menos que haja um apoio, para que, se for possível, possamos definir um plano de pagamento com a Federação Internacional de Judo. Se não for possível na totalidade, que haja algum valor com que se possa fazer isso”, disse ainda à Lusa Sérgio Pina.
O dirigente enquadrou que foram conversas breves, na tentativa de explicar a situação em que a FPJ se encontra, e que pensa que conseguirá falar melhor sobre o assunto esta quarta-feira.
Na decisão disciplinar da FIJ a que a Lusa teve acesso, o organismo internacional detalha o histórico da dívida, que ascende a 800 mil euros e que engloba a contratualização de dois dos quatro Grand Prix que Portugal (2023 e 2024) tinha feito, no valor de 500 euros, acrescidos de uma verba de 300 mil euros referente aos Mundiais de juniores de 2023.
Na sua decisão, a FIJ lembra que “uma Federação membro cujas taxas de adesão ou quaisquer outras taxas, royalties ou dívidas para a IJF ou União Continental à qual pertence não forem pagas até 31 de maio de cada ano, não será autorizada a participar nos Jogos Olímpicos, campeonatos mundiais ou qualquer outro evento realizado sob os auspícios da IJF”.
