Treinador português avisa que Atalanta tem centrais voadores e é um adversário “veloz e vertical”

Veloz, vertical, à imagem de um treinador que fez o clube de Bergamo ombrear com outros gigantes de Itália e da região da Lombardia. Gilberto Andrade, treinador de futebol português é atualmente adjunto de Gabriele Cioffi na Udinese. Na TSF, o técnico português de 44 anos descreve o adversário do Sporting, e sublinha a importância de Gasperini, veterano técnico italiano, figura reconhecida pelos pares num campeonato cada vez mais competitivo.

"A Atalanta é uma equipa extremamente forte a pressionar. Uma equipa que gosta de jogar homem a homem, que dificulta muito os processos do adversário. Essa forma agressiva de defender é também o ponto de partida para o processo ofensivo da equipa. Ao contrário do que ouvimos constantemente, Gasperini não é um treinador defensivo. É visto em Itália como um pioneiro em muitos aspectos ofensivos, com centrais que apoiam o ataque, um processo veloz e vertical e, por isso, difícil de contrariar”, resume Gilberto Andrade. 

O Sporting já defrontou este adversário por duas vezes esta temporada. O clube de Bergamo impôs a única derrota da temporada aos leões a jogar no estádio José de Alvalade (1-2), seguido do empate em Itália (1-1), resultados que atiram o Sporting para o segundo lugar do grupo.

“Acredito que neste tipo de competição [Liga Europa, fase a eliminar] a Atalanta jogue num estilo um pouco mais moderado”, aponta o técnico adjunto da Udinese na Serie A. “A Atalanta é uma equipa com processos ofensivos difíceis de contrariar, pelos jogadores que envolve no ataque. Não tem problema nenhum em deixar jogadores em situações de um para um ou dois contra dois, porque está habituado a fazer isso contra o Milan, contra a Lazio, contra o Inter, contra a Roma, contra qualquer clube forte. Por isso vão fazê-lo também contra o Sporting”. 

Centrais voadores

Em conferência de imprensa, Rúben Amorim admitiu que a grande diferença entre Sporting e Atalanta está no ritmo de jogo a que as equipas estão habituadas. Essa dimensão física faz sobressair a capacidade de jogadores como Giorgio Scalvini (italiano, 20 anos) ou Sead Kolasinac (Bósnio, 30 anos ex-Arsenal), centrais capazes de surgir perto da área adversária em longas correrias. 

“Rúben Amorim é extremamente inteligente. Há uma diferença significativa entre o campeonato italiano e o português. Eu diria que 80% dos jogos na Itália são extremamente competitivos. É por isso que os clubes italianos estão mais preparados do que em Portugal, onde só quatro ou cinco jogos são realmente competitivos”, aponta Gilberto Andrade.

“Scalvini e Kolasinac fazem muita diferença no processo ofensivo. O cérebro da equipa é de Roon. Se estiver pressionado, se tiver dificuldade para pensar, o jogo da Atalanta fica condicionado. Na frente à Lookman, Koopmeiners, Éderson. Mas mais do que destaques individuais, a força da Atalanta está na equipa”, assinala o treinador português.

Do ponto de vista da estratégia, a subida ou envolvimento dos centrais no ataque pode ser explorada pelo Sporting. “Os centrais ao abandonar a sua zona podem permitir ao Sporting explorar esse aspecto”.

Sucesso italiano na Europa e o binómio Atalanta/Gasperini

As equipas italianas lideram o ranking da UEFA nos pontos somados nas provas europeias em 2023/2024. “Na minha opinião o campeonato italiano superou aquilo em que se havia tornado há alguns anos. O que acontece neste momento é que falamos em nove clubes que podem ser campeões ou lutar por um lugar nas provas europeias. Por termos um nível competitivo alto, as equipas estão também mais preparadas para as provas europeias”.

Rúben Amorim consente que o ritmo a que os italianos estão habituados a jogar os deixa mais preparados. Gilberto Andrade encontra algumas explicações. “O campeonato em Itália tem algumas particularidades e diferenças para o futebol em Portugal. Se falarmos do público, temos números mínimos nos estádios, uma média de espectadores altíssima, com um mínimo de 14 mil espectadores, com estádios de 16 mil. Também o poder de compra e de investimento dos clubes italianos tem algum peso. Conseguem trazer - quase todos os clubes - jogadores de um nível altíssimo. A par do campeonato inglês, este é o campeonato mais competitivo da Europa”.

Em Bérgamo, a Atalanta emergiu nos últimos oito anos como uma nova potência do futebol local, um clube com reforçada capacidade para investir, fruto do sucesso desportivo recente.

“É um clube que oscilou muito antes da entrada de Gasperini. Com a entrada dele em 2016 tem vindo a crescer de forma constante, com resultados fantásticos, também nas provas europeias. É um clube muito forte e estável. Neste momento está numa fase menos boa, sendo uma das derrotas com o Inter, uma das melhores equipas da Europa, na minha opinião. A outra derrota foi com o Bolonha, que está na luta pelo acesso às provas europeias neste momento. É a primeira vez que perdem dois jogos consecutivos esta temporada, e acho difícil que percam o terceiro”

Gasperini transformou o clube e foi mudando a opinião de quem aprecia o futebol local. “Esta Atalanta fez de um sistema táctico [3x4x3 ou 4x5x2] visto como defensivo, uma forma de estar diferente. Gasperini fez algo único e incomparável na Itália, com um processo ofensivo forte. São sempre os mesmos princípios, jogue o jogador A ou B, e são princípios difíceis de contrariar”.

“É uma opinião muito pessoal. Estou na Itália há pouco tempo, mas o que vejo é que Gasperini fez algo que a maioria dos treinadores adorava fazer. Entrar num clube que oscila entre descer, lutar pela manutenção, andar aflito, e tornar o clube algo que tem uma assinatura própria, na forma de jogar e nos resultados obtidos. É visto como alguém que fez algo único num clube mediano, transformando-o num clube que todos os anos luta por algo grande”.

O Sporting recebe esta quarta-feira a Atalanta na primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa, jogo em Alvalade às 17h45, com relato na TSF.