Treinador português revela estratégia usada contra Rangers antes do jogo com o Benfica

Pressão sobre o guarda-redes, e espaços criados pela subida de jogadores com cansaço acumulado. Sérgio Raimundo é adjunto de Nick Montgomery no Hibernian, equipa que o Rangers venceu (0-2, com dois jogadores expulsos da equipa de Hibs) no fim de semana entre as duas mãos dos oitavos de final da Liga Europa contra o Benfica. Os jogadores lançados na Luz pelo treinador do Rangers foram exatamente os mesmos que começaram o jogo da taça da Escócia (0-2 para a equipa de Glasgow).

Dujon Sterling e Ross McCausland saíram lesionados para agravar a situação da equipa para o jogo desta quinta-feira no Ibrox Stadium diante do Benfica (eliminatória empatada 2-2). 

“Estávamos à espera que eles viessem para o jogo em nossa casa com a mesma equipa que jogou com o Benfica. E foi isso que aconteceu. Sabíamos que iam estar cansados, e acabaram por ter de tirar o McCausland e o Sterling - que já tinha tido dificuldades contra o Benfica -, e por isso começamos a pressionar alto”, começa por explicar à TSF Sérgio Raimundo.

O treinador que passou pela formação do Benfica abre o livro. “A nossa pressão começava logo no primeiro passe do guarda-redes. Sabemos que Butland não é um guarda-redes que joga muito bem com os pés, e por isso, numa pressão de um dos nossos extremos, quase fizemos golo. A bola bateu no poste, depois do guarda-redes tocar por três vezes a bola, o nosso jogador fez um carrinho, bola ao poste e depois acabou por sair”. 

“Estivemos bastante bem até às expulsões”, resume o técnico português. Queriamos condicionar o jogo direto, obrigando a jogar pelo guarda-redes, pressionando depois do guarda-redes, e tentar ter sucesso a partir daí. No terço intermédio do jogo, tivemos de ter cuidado porque eles colocaram muitos jogadores nas costas [da linha média], seja o número “9”, os extremos, muitas vezes, também um dos “10”, e, no nosso jogo, também surgia muitas vezes um dos laterais, Tavernier”. 

Espaço central/lateral

A estratégia do Hibernian teve alguns pontos de contacto com o que Roger Schmidt procurou fazer na primeira mão, no Estádio da Luz. 

“No último terço há que aproveitar o espaço, um pouco como fez o Benfica na Luz, sobretudo do lado de Yilmaz [defesa-esquerdo], mas também do lado direito, com corridas dos médios ou dos extremos nas costas dos laterais. O Benfica teve algum sucesso nisso, mas falhou por vezes no último passe”. A compensação é feita por vezes pelos médios, “mas não são os melhores para isso”. 

O estádio em Glasgow pode ajudar uma equipa que passa por problemas com lesões. “Vão ser agressivos, ter menos bola, tal como no estádio da Luz, e tentar sair nas transições com o Dessers. Todos os jogadores que o treinador do Rangers tirou contra nós [com o jogo resolvido], são jogadores que o técnico quer utilizar contra o Benfica”. Apontados ao onze escocês estão Cyrel Dessers - o ponta de lança -, Fábio Silva, Tom Lawrence, Rabi Matondo, que está de regresso após lesão

“O ambiente é bastante bom em Ibrox, mas o Benfica está habituado a esses contextos na Europa”, aponta Sérgio Raimundo. “Mas se os adeptos começarem a frustrar-se o ambiente pode virar-se contra o Rangers. Se não entram bem no jogo, se não conseguem ter a bola ou se sofrem um golo cedo, muitas vezes os adeptos viram-se contra a equipa. Os adeptos são os mais exigentes que vi no futebol, nos sete países onde treinei”. 

Os portugueses na Escócia

Ao Hibernian chegou Jair Tavares em janeiro, mais um jogador português no campeonato local a juntar a Fábio Silva (Rangers, contratado também em janeiro), Paulo Bernardo (Celtic) ou Duk (Aberdeen). Sérgio Raimundo acredita que há espaço para jogadores com um perfil técnico diferente do habitual no contexto escocês. 

“Se falarmos de mentalidade, há duas equipas que tentam jogar: o Celtic e o Rangers. Depois há outras duas que já procuram jogar, Hibernian e Hearts. As restantes equipas jogam normalmente com linhas de cinco (defesas), são mais defensivas. Jogadores como o Duk no Aberdeen estão a fazer a diferença. São jogadores rápidos, para a transição. 

“Fábio Silva tem estado “ok”, ainda não agarrou o lugar a 100%. Não é um jogador com velocidade, não vai pressionar muito. Até teve dificuldades na Luz quando teve que baixar para defender a última linha. Mas marcou contra nós, é forte no um para um. Os jogadores da Escócia não estão habituados a atletas tão técnicos e, por isso, o jogador português tem espaço aqui. O problema é convencer os escoceses, porque mesmo nas quatro equipas de que falei, é difícil convencê-los a mudar um pouco”

Há mudanças em curso. “Começamos a ver equipas que querem mais do que o jogo direto, a força, os carrinhos, a luta pelas segundas bolas. Começamos a ver equipas que querem resolver o jogo com bola e não na base da “porrada”, digamos assim”. 

“Contra algumas equipas já sabemos que não vale a pena meter tanta gente a pressionar, porque podemos levar com a bola nas costas. Temos de estar organizados para ganhar a primeira e a segunda bola. Tem sido uma liga interessante, mas ainda vai evoluir a nível técnico, com uma construção a partir de trás, com o guarda-redes. Por vezes aqui parece que ganhar 0-1 fora de casa é o melhor resultado do mundo. Mas a pouco e pouco temos de trazer jogadores tecnicamente mais fortes, que se adaptem e possam fazer a diferença”.

Se há algo que os adeptos e dirigentes valorizam é a atitude dos jogadores. “Valorizam muito os jogadores que são profissionais em tudo. Até no aquecimento. Jogadores que, os erros que cometem, não são por falta de esforço. Valorizam muito a ética de trabalho. É a liga que tem mais cruzamentos a entrar na área por jogo, na Europa, é também a liga com mais golos marcados e bola parada e em remates fora da área”. 

Rangers e Benfica jogam esta quinta-feira a segunda mão dos oitavos de final da Liga Europa. O jogo começa às 17h45.