O tribunal entende que o antigo presidente do Sporting não foi autor moral do ataque. Nove acusados foram condenados a penas de prisão de cinco anos.
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O coletivo de juízes considera que Bruno de Carvalho não foi o autor moral do ataque à academia de Alcochete, e iliba o antigo presidente do Sporting de qualquer acusação. Na leitura do acórdão, a juíza Sílvia Pires referiu que todos os factos são dados como provados, exceto os relativos a Bruno de Carvalho, Bruno Jacinto, oficial de ligação aos adeptos, e Nuno Mendes, líder da claque Juventude Leonina.
"Não se provou que as críticas no Facebook aos jogadores tivessem com objetivo de provocar ou incitar à violência dos adeptos", refere o acórdão, lido esta manhã em tribunal.
Não se dá ainda como provado que tenha sido Bruno de Carvalho a alterar a data e hora do treino, e a expressão usada numa reunião com a claque "façam o que quiserem", nada tem que ver com o ataque, mas sim a tarjas a exibir pela claque no estádio.
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O tribunal definiu ainda penas de prisão efetiva de cinco anos para nove acusados, entre eles Elton Camará, Nuno Torres, Getúlio Fernandes, Domingos Monteiro, e o antigo líder da Juventude Leonina, Fernando Mendes.
Houve ainda 29 arguidos condenados a penas entre três anos e seis meses e quatro anos e dez meses, suspensas por cinco anos, enquanto três elementos foram condenados a penas de multa.
O tribunal entendeu que o grupo de 37 arguidos foi à academia "de comum acordo", "de forma concertada", sendo que "todos sabiam ao que iam". Já o grupo onde estava Fernando Mendes, na retaguarda, o coletivo de juízes diz que "entrou deliberadamente na retaguarda do grupo" e "nada fizeram para dissuadir os outros".
Entre os arguidos com pena suspensa está Rúben Marques, que assumiu em julgamento ter batido com um cinto em Bas Dost e enfrenta uma pena de quatro anos e dez meses de prisão, suspensa por cinco anos e com 200 horas de trabalho comunitário, por ofensa à integridade física.
A juíza explicou que as imagens de videovigilância foram fundamentais para identificar vários arguidos pelas roupas. Trinta e sete dos quais entraram "de rompante sem anunciar ou pedir autorização. De forma concertada e de cara tapada para não serem identificados".
Os 41 arguidos condenados ficam ainda impedidos de frequentar recintos desportivos durante os próximos anos.
Absolvição? "Foi a assunção daquilo que eu sabia"
O antigo presidente do Sporting diz que o processo ao ataque à academia de Alcochete "foi um crime". À saída do tribunal, Bruno de Carvalho referiu que os pais e as filhas ouviram, muitas vezes, o que não queriam. "Hoje, o tribunal teve cuidado ao dizer várias vezes que não haviam provas", remata.
Bruno de Carvalho desafiou os jornalistas a ter coragem para anunciar a sua inocência, para lhe permitir "sair do confinamento em que esteve durante dois anos".
O antigo presidente do Sporting esclarece ainda que o fim da acusação não é um alívio: "foi efetuado um crime como nunca vi em Portugal. Hoje foi a assunção daquilo que eu sabia."
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Bruno de Carvalho deixou ainda uma palavra aos adeptos leoninos: "Aos sportinguistas pretendo dizer que sempre fui inocente. Deviam ter confiado, coloquei o Sporting à frente da minha família, mas felizmente a família nunca deixou de me apoiar", conclui.
Já Nuno Mendes considera a absolvição justa, depois de uma "péssima investigação".
O líder da claque Juventude Leonina adianta ainda que vai analisar com o advogado um pedido de indemnização ao Estado português pelos nove meses em que esteve preso.
Aos jornalistas, Bruno Jacinto, também absolvido no processo, referiu que sempre esteve tranquilo, e que espera agora "ser reintegrado na sociedade".
O julgamento ao ataque da academia de Alcochete começou a 18 de novembro do ano passado, e foram ouvidas 65 testemunhas de acusação e 90 testemunhas de defesa. Todos os arguidos aguardavam a leitura do acórdão em liberdade.