"Last call". FC Porto vence na Luz com um golaço de Hector Herrera aos 90 minutos e recupera a liderança do campeonato.
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Herrera sabe bem o que é a embriaguez da vida. A euforia, a queda e ressaca, sabe tudo. O capitão do FC Porto, natural de Tijuana, já sabia o que era isto de marcar na Luz e ajudar a resgatar os três pontos. No dia 12 de fevereiro de 2016 Herrera fez o primeiro dos dragões na Luz, para depois Aboubakar marcar o golo da vitória (2-1). Mas o mexicano também sentiu na pele quando o gole caiu mal. Aquele canto oferecido em novembro de 2016, no Dragão, meio negligente que irritou tantos adeptos portistas, permitiu a Lisandro empatar o clássico. Agora, esta tarde, num outro trago de vida, Herrera agrafou os três pontos ao orgulho e guarda para a memória um tiro que Varela não pôde defender. FCP vence na Luz e recupera a liderança num bom jogo de futebol.
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O Benfica, sem Jonas, começava este jogo com mais um ponto, na liderança do campeonato. O FCP chegava com duas derrotas nas últimas duas deslocações, mas contava com a pedalada de Marega.
O primeiro esticão, para meter os defesas em sentido, foi dado por Rafa, que tem acertado a mistura entre toque de bola e velocidade. Os primeiros minutos tiveram pouca baliza e muitas faltas. Estavam a entranhar as ideias alheias e próprias, a perceber movimentos e enganos malandros. O Benfica, bem na recuperação de bola, estava mais confortável com a bola, num jogo mais pausado, mais de pé para pé, enquanto o FC Porto, mais desligado, procurava a profundidade e ser aquela serpente venenosa, que morde sem piedade sempre que pode. Sérgio Oliveira parecia o jogador mais cerebral na equipa de Sérgio Conceição. Brahimi pedia calma, mais cabeça.
Tlim! Rafa, em mais uma arrancada daquelas chatas pela direita, chutou ao barrote da baliza de Iker Casillas (que qualidade, este espanhol, senhores), mas o guarda-redes controlou a coisa. Mas ouvir um poste tilintar é sempre digno de registo e bom para ganhar confiança. Os defesas só sentiram mais dificuldades nestas arrancadas dos mais talentosos, pois no duelo com os avançados levaram quase sempre a melhor. Rúben Dias, Jardel, Marcano e Felipe exibiram-se a grande nível. Uma palavra para Jiménez, que é muito voluntarioso, tem toque de bola para dar e vender, é forte no ar, no chão, mas tem uma característica que às vezes é um problema: é um 9 com alergia a jogar perto dos defesas, pisando todos os terrenos. Nem sempre é bom e desgasta o jogador, que também é importante sem bola.
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Casillas! Aos 23', a bola girou da direita para a esquerda, com Pizzi a inventar a coisa, Zivkovic a acelerar para Grimaldo, que tocou para Cervi no meio. O argentino baixinho, mais chato que o Milhouse dos "Simpsons", deixou Ricardo para trás e chutou com força para Iker voltar a ser Iker. Nada feito.
Soares, finalmente apareceu em jogo, tentou criar perigo depois de uma combinação com Marega (forte nas diagonais). Por falar em movimentos interessantes, é bom registar que Grimaldo e Ricardo (bela exibição), este esporadicamente, surgiam no meio, para a bola poder entrar direta no extremo. É interessante a homenagem que se faz a Pep Guardiola, que esta tarde celebrou a conquista da Premier League no sofá.
A fechar o primeiro tempo Pizzi e Marega quase inauguraram o marcador. Os dois homens que vestem umas luvas para a labuta continuavam a brilhar mais do que os outros.
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E a segunda parte começou como a outra acabou: Marega na cara de Varela. O guarda-redes português saiu rápido, exibiu uma mancha e tirou o golo ao maliano. O FC Porto estava melhor, viu-se logo. Brahimi mais perto do meio, mais vagabundo. Sérgio Oliveira e Herrera pareciam querer pausar mais o jogo, controlar melhor. O Benfica, que estava ligado e a jogar bem, cedeu à tentação da vertigem do ataque rápido (ou à incapacidade/cansaço). O vaivém observado na Luz na maior parte da segunda parte foi benéfico ao FCP, que suspirou pelo golo aos 66', por um remate em jeito, daqueles com muito jeito, de Brahimi. Puro talento, este rapaz.
Salvio (por Rafa -- era um dos melhores), Óliver (Sérgio Oliveira) e Samaris (Cervi) saltaram para o relvado para mudar as coisas. E, basta olhar para os nomes, o jogo seria diferente. Se o Benfica piorou no ataque posicional, teria mais problemas tendo Fejsa e Samaris para começar as jogadas. Pior: Pizzi saiu a seguir, por Seferovic. Conceição meteu Aboubakar (Soares) e Corona (Otávio), olhando para a frente. Era uma mensagem: queria mais. E os encarnados pareciam baixar linhas com o médio grego em campo.
Herrera, naquela geometria acelerada deste FC Porto, parecia ter mais liberdade na segunda parte. Já respirava os ares do último terço, já conhecia o perfume dos centrais. "Vínhamos convencidos que podíamos levar uma vitoria deste estádio", diria o mexicano da braçadeira na flash interview. Quando, no bar, alguém tocou o sino para a last call, Herrera encolheu os ombros, pediu um shot de tequila e... tragou o sabor da glória, 1-0. A ressaca promete ser boa. Foi um golaço de fora de área (veja aqui) que resolveu este clássico, com muita qualidade e ritmo. Nos últimos 30 anos, apenas três nomes importantes da história do FCP fizeram o que Herrera fez esta noite: marcar o golo da vitória num 1-0. Foram uns tais de Deco, McCarthy e Quaresma.