Se há algo que os números demonstram é que os resultados obtidos por Rui Vitória na sua passagem pelo Benfica foram constantemente piorando, o mesmo acontecendo com o desempenho da equipa, mesmo que os dados relativos aos diferentes capítulos do jogo - nomeadamente na vertente ofensiva - mantivessem o nível (elevado).
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A derrota do Benfica em Portimão, no primeiro jogo de 2019, a contar para a 15ª jornada do campeonato, fez regressar todos os fantasmas de um passado muito recente, bem representados nos muitos lenços brancos mostrados ao treinador Rui Vitória no estádio do Portimonense. E o desfecho acabou por ser o inevitável: o fim do percurso como treinador encarnado.
Em dezembro, Vitória conseguira fazer esquecer o quase despedimento de finais de novembro, graças a sete vitórias consecutivas (incluindo um impressionante 6-1 ao candidato Braga) e um empate na Vila das Aves que garantiu a presença na Final Four da Taça da Liga.
Nestes oito encontros de todas as competições, o Benfica apenas sofrera dois golos, tendo marcado dezassete, mesmo que tenha vencido quatro desses jogos por 1-0. No campeonato, os encarnados haviam ganho os últimos seis jogos, mantendo a pressão sobre o Porto.
Mas ao segundo dia de Janeiro, voltou a perceber-se que, para a generalidade dos adeptos encarnados, Vitória era mesmo um treinador a prazo, cuja posição abanaria à primeira derrota.
Afinal de contas, o que custou o emprego a Rui Vitória?
Como quase sempre acontece no futebol, o problema foram os resultados. Porque, objetivamente, os adeptos têm razão quando defendem que, nestes quase quatro anos no cargo, o desempenho da equipa com Rui Vitória foi sempre piorando em termos de resultados.
De uma forma sucinta, nas duas primeiras temporadas na Luz, Vitória conquistou dois campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Taça da Liga e uma Supertaça. Nas duas últimas temporadas tinha somente uma Supertaça no curriculum.
Na Liga dos Campeões foi também sempre de mais para menos, ou mesmo nada: começou com uma presença nos quartos de final em 2015/16, ficou nos oitavos na época seguinte e nas duas últimas venceu somente dois jogos (ambos perante os gregos do AEK) em doze partidas das duas fases de grupos, com um saldo de golos de sete marcados e 25 sofridos.
Se quisermos ir mais ao pormenor, o Benfica com Rui Vitória conseguiu 74% de triunfos em jogos de todas as competições nas duas primeiras temporadas e somente 60% de vitórias nas duas mais recentes. A percentagem de derrotas passou de 14% para 21%. E a evolução nos golos marcados, começando com uma média de 2.4 por jogo em 2015/16 e piorando sempre até aos 1.77 da presente temporada, também é significativa. O mesmo se pode dizer em relação aos golos sofridos em todas as provas: começou com a média de 0.8 por jogo em 2015/16 e foi sempre a crescer até aos 1.03 da atual época.
Vale a pena ir um pouco mais longe e centrarmos a atenção no campeonato nacional, afinal de contas o objetivo principal de temporada de qualquer um dos grandes portugueses, uma vez que para qualquer conjunto luso ganhar uma Liga dos Campeões é quase uma miragem. E a verdade é que no campeonato português o calvário de Rui Vitória começou naquela derrota em casa com o Porto na jornada 30 da liga transata, quando recebeu os dragões, dispondo de vantagem na classificação a cinco rondas para terminar a prova, com o Penta como sonho quase real. O golo de Herrera ao minuto 90 parece ter mudado tudo para o técnico ribatejano.
Antes desse jogo, Vitória tinha uma percentagem de triunfos no campeonato ao serviço do Benfica de 79.3%, e de apenas 7% de derrotas. Depois desse fatídico jogo, numa reta final de liga em que não pôde contar com um Jonas que valera até aí 50% dos golos encarnados, Rui Vitória nunca mais se recompões e somou 25% de derrotas nos últimos 20 encontros de campeonato. Ou seja, um desaire em cada quatro jogos e apenas 60% de vitória.
Estes números são duros para Vitória. Mas são inquestionáveis. Mesmo que haja outros dados que mostram um Benfica muito semelhante ao Porto (líder do campeonato) em termos de produção ofensiva e até superior em alguns aspetos importantes, como o número de ocasiões criadas por encontros ou o número de remates no alvo.
São números também parecidos com os do próprio Benfica das temporadas anteriores com Vitória e que demonstram que as águias não perderam, pelo menos de forma significativa, volume de jogo e capacidade de criar situações de golo. Tornaram-se, isso sim, muito menos eficazes a concretizar as oportunidades criadas e perderam igualmente eficácia a defender, permitindo mais remates e ocasiões de golo aos adversários. Acima de tudo parecem ter perdido muita da confiança que caracterizou a equipa durante a maior parte das duas primeiras temporadas sob o comando de Rui Vitória. E, como é sabido no futebol, a confiança é, muito provavelmente, o mais difícil de recuperar.
(Notícia atualizada às 21h01)