
Ozan Kose/AFP
Gonçalo Pereira chegou à Noruega em 2015. De lá para cá, o técnico português tomou nota de uma mudança radical na forma como o futebol é praticado na Noruega, de uma evolução que se estende por toda a Escandinávia. O Bodo/Glimt, adversário do Futebol Clube do Porto, é a bandeira do novo futebol norueguês
O estádio Aspmyra não é grande, pelo menos não tem a dimensão a que o Futebol Clube do Porto está habituado nos jogos europeus. Mas o jogo que ali se pratica já não tem que ver com uma histórica tentação pelo futebol direto na Noruega. Gonçalo Pereira chegou em 2015 àquele país nórdico para trabalhar como treinador de futebol. Em menos de uma década muita coisa mudou, incluindo uma nova hegemonia criada pelo clube das camisolas amarelas.
"A primeira vez que fui para a Noruega foi em 2015, portanto, já lá vão uns anos. O futebol evoluiu muito, já não é igual ao que era em 2015", assinala o técnico português de 35 anos.
"Era um futebol muito mais físico - não apenas por causa dos duelos -, um futebol vertical, mais direto. Hoje em dia está a tornar-se um futebol mais técnico. Começam a saltar algumas estrelas para grandes palcos, como Haaland, Odegaard e Aursnes. O futebol norueguês é agora mais técnico, jogado em posse, o futebol que mais tem crescido na Escandinávia nos últimos anos", assinala o técnico que se mudou da Noruega para a Finlândia este ano.
O Futebol Clube do Porto desloca-se até ao norte da Noruega sobreaviso. "O Bodo é bastante forte em casa, mesmo nos jogos da Europa. Eles bateram a Roma por 6-1 há pouco tempo [Roma de José Mourinho na Conference League]."
As previsões apontam para temperaturas em torno dos oito graus para este jogo. Escapa o Futebol Clube do Porto, ainda assim, aos rigores do final de outono e inverno nórdico.
"É um estádio pequeno para a realidade do Futebol Clube do Porto, mas o relvado sintético vai colocar alguns desafios. Nesta altura o clima também vai ser um bom desafio. Cálculo que à hora do jogo estejam seis, sete ou oito graus. Mas até para isso eu acredito que uma equipa como a do Porto possa estar preparada. Do ponto de vista técnico-táctico o FC Porto é superior."
Mas talvez o último jogo para o campeonato do Bodo/Glimt não possa servir de referência para preparar a Liga Europa. Uma derrota este domingo por 4-1 diante do Brann, segundo classificado, agora a sete pontos do líder indiscutível Bodo/Glimt.
"O Bodo vai ser campeão, a diferença para os outros é muito grande. Embora tenham perdido este jogo (em Bergan, 4-1 com o Braan) estava a pensar mais na Liga Europa do que no campeonato. Só uma hecatombe lhes vai tirar o título. (...) É um projeto que tem dado muitos frutos, não só a nível interno, mas também na Europa. A única coisa que lhes falta é a entrada na Liga dos Campeões (...) mas, neste momento, esta é a equipa de bandeira da Noruega na Europa."
Gonçalo Pereira passou na Noruega por Kongsvinger e Floro, mas também andou pela Suécia no clube onde Viktor Gyokeres foi formado, o Brommapojkarna, experiência à qual soma uma passagem pelo Riga FC da Letónia.
Este ano, o treinador português mudou-se para a Finlândia onde orienta o KPV, clube da cidade de Kokkola. Mas a Finlândia está atrasada relativamente aos vizinhos nórdicos.
"Acho que no futebol finlandês falta uma aposta da federação e do Governo naquilo que é o futebol local. Da mesma forma que fiquei surpreendido quando estive na Noruega e na Suécia com a qualidade do jogador, aqui na Finlândia aconteceu o mesmo, há jogadores muito bons tecnicamente."
Surpreende Gonçalo Pereira a forma como ali se joga, uma matriz diferente daquela que se via nos terrenos de Noruega e Suécia há alguns anos. "É um futebol mais latino, mas parecido com o português, com mais posse de bola, mas falta-lhes uma aposta vincada da federação. Falta alguma estrutura ao futebol finlandês."
"A aposta no jogador jovem é uma das grandes pechas do futebol finlandês. Estão a formar agora mais treinadores. Há algumas equipas a construir mais estádios novos. Na zona norte do país há espaços indoor para treinar no inverno."
Mas faltam caras para encher os cartazes e as capas de jornal. "Falta ao futebol finlandês uma referência, um Haaland, um Odegaard, ou, como teve a Suécia, o Ibrahimovic". Falta um novo Litmanen? “Ou um novo Sami Hyypia” [antigo central do Liverpool].
Os finlandeses podem olhar para os vizinhos do lado e ver como mudou o futebol da Noruega.