Vitória natural do Sporting no sintético do Young Boys começou com toque contranatura
Amenda começou por marcar na própria baliza e abriu caminho a uma vitória leonina com golos de Gyökeres e Inácio que deixa a equipa de Rúben Amorim com via aberta para os oitavos de final da Liga Europa.
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Amorim tinha deixado claro que o relvado artificial do estádio Wankdorf não seria nem podia ser uma desculpa para o Sporting não sair da Suíça com uma vitória europeia. Se houvesse azar, seria como em qualquer outro campo. A saída de bola também não ia mudar, embora esperasse pressão constante e um jogo naturalmente mais rápido. Não se enganou na leitura e, portanto, não houve azar: os leões venceram a primeira mão do play-off por 3-1 em Berna, numa partida que arrancou com um autogolo de Amenda antes de Gyökeres, de penálti, e Gonçalo Inácio ter marcado já na segunda parte. Ugrinic, Itten e Males reduziram para os suíços, mas só valeu o golo do primeiro.
Quando perguntaram ao treinador do Young Boys, Raphael Wicky, sobre se jogar num relvado sintético podia, de alguma forma, condicionar o jogo do Sporting, o suíço desvalorizou. Afinal, "esta geração de jogadores cresceu no sintético" e ele não tinha dúvidas de que o mesmo aconteceria em Portugal. Arriscou até na conferência de imprensa de antevisão que "99% dos jogadores" não teriam problemas em pisar aqueles finos plásticos.
Coates cabe no 1%. Rúben Amorim não o convocou precisamente por causa do sintético e, por isso, Eduardo Quaresma foi chamado a estrear-se pelo Sporting em competições europeias, ele que não tem tido nenhum em subir pelos relvados portugueses. Esperava-se para ver se faria o mesmo em Berna, inspirado até, quem sabe, por alguém por quem nunca é preciso esperar, o sueco Gyökeres, que viu da primeira fila o Sporting marcar um golo sem ele tocar na bola, visão rara nesta época. Nem ele, nem ninguém de verde e branco - que esta noite foi branco e verde.
Edwards, que nem sempre é irrequieto e por quem às vezes os sportinguistas têm mesmo de esperar, tinha inventado qualquer coisa. O inglês encontrou espaço atrás da defesa suíça e foi à linha cruzar de pé direito - o que costuma ter menos à mão - e fez a bola encontrar Amenda à boca da baliza. Já não conseguiu travar. A bola saiu-lhe do pé diretamente para o fundo das redes num momento contranatura do futebol. Aconteceu-lhe logo a ele, que não tinha tido a mesma sorte na outra baliza mais de dez minutos antes, quando Adán lhe negou um golo de cabeça. O espanhol não ficou tão bem na fotografia noutra ocasião, mas já lá vamos.
É que, nem dez minutos depois de ter criado um autogolo, Edwards voltou a criar qualquer coisa. Não foi um autogolo, não foi uma assistência. Foi parte importante de um golo: um penálti. Viu-se cara a cara com Von Ballmoos, o guarda-redes e capitão dos suíços, e não se fez rogado: desviou ligeiramente a bola, o suficiente para o adversário não lhe chegar, e caiu ao ver um braço travar-lhe o caminho. Gyökeres pegou na bola para a colocar nos 11 metros: rematou forte e rasteiro para a sua esquerda, não enganou Von Ballmoos, mas bateu-o na mesma.
A vantagem de dois golos durou um minuto. Houve confusão na grande área do Sporting em poucos passes depois da reposição de bola no meio-campo e, se Adán até tinha começado por defender bem o suficiente para negar um golo, estragou a pintura logo a seguir. O espanhol demorou a levantar-se, os colegas de equipa não viram Ugrinic a chegar tarde à grande área e o suíço, na passada, rematou, lesionou-se e marcou - embora a ordem destas ações fique aberta a discussão. Já o que não mereceu discussão foi a anulação, nos descontos, do que teria sido o golo do empate: Itten estava fora de jogo por larga margem.
O tempo ia dando razão a Wicky. O Sporting parecia de facto não ter grandes dificuldades em jogar no sintético do estádio Wankdorf, mesmo que até tenha estado a centímetros de sofrer o golo do empate. Ainda assim, tentou mexer no jogo ao intervalo, abdicando de Ugrinic - o autor do golo suíço - e lançando Niasse para o meio-campo de forma a reforçá-lo. Só que o Sporting encontrou uma forma de, em quatro minutos, anular essa estratégia.
É que, nas bolas paradas, a organização é outra e os protagonistas da defesa são muitas vezes o melhor ataque. Assim foi. Quando Pote bateu a bola a partir da esquerda, fê-la curvar em direção à baliza, obrigando os colegas de equipa a correr atrás dela. Pois bem, Inácio foi o mais decidido e, quando se aproximou, ela perguntou-lhe se podia seguir caminho. Ele respondeu-lhe que "sim" com a cabeça e, no mesmo movimento, deu-lhe o que precisava para ir para o fundo das redes. Era o 3-1.
A vantagem de dois golos dava a Amorim espaço para gerir. Começou a fazê-lo logo a seguir ao golo quando tirou Hjulmand do campo para lançar Morita e aprofundou-o 15 minutos depois, fazendo sair Gyökeres e Pote para dar minutos a Geny e Trincão num jogo que o Sporting já tinha colocado no bolso. Mas ainda houve tempo para alimentar sonhos: Koindredi e Rafael Nel estrearam-se pelo Sporting tendo mais um golo anulado ao Young Boys, por fora de jogo, como nota de rodapé assinada por Males. E o duplo amarelo que Camara ainda viu não foi mais que o ponto final.
Onze do Young Boys: Von Ballmoos, Blum, Camara, Amenda, Hadjam, Lauper, Lakomy, Ugrinic, Colley, Mvuka e Itten
Onze do Sporting: Adán, Quaresma, Gonçalo Inácio, Matheus Reis, Esgaio, Hjulmand, Bragança, Nuno Santos, Pote, Edwards e Gyökeres
O jogo é arbitrado pelo francês Benoît Bastien, auxiliado por Hicham Zakrani e Aurélien Berthomieu. O VAR é Benoît Millot.
Suplentes do Young Boys: Racioppi, Marzino, Elia, Persson, Niasse, Lustenberger, Ganvoula, Males, Deme, Seiler e Monteiro
Suplentes do Sporting: Israel, Francisco Silva, Morita, Luís Neto, Trincão, Catamo, Pontelo, Koindredi e Rafael Nel